Um estudo recente conduzido por Masahiro Kumeta, biólogo da Universidade de Quioto, e divulgado pela Scientific American e na revista Communications Biology, demonstra que o som audível pode influenciar diretamente a atividade genética em células de rato. A pesquisa mostrou que ondas sonoras, como um tom de 440 hertz ou ruído branco, provocam alterações na expressão de mais de 100 genes, afetando processos como a adesão celular e a formação de gordura.
Sons que as células “ouvem” para reagir
Experiências realizadas com células de mioblastos (precursores do tecido muscular) expostas a diferentes sons durante períodos de duas e 24 horas revelaram mudanças significativas na atividade genética, avaliadas por sequenciação de ARN. Foram identificados 42 genes com atividade alterada após duas horas e 145 após 24 horas.
A maioria destes genes aumentou a sua atividade, enquanto outros foram inibidos. Entre os efeitos, destaca-se o aumento do tamanho dos locais onde as células se ligam ao tecido circundante, através da ativação da quinase de adesão focal (FAK), uma enzima que deteta forças mecânicas e regula o desenvolvimento celular.
“As ondas sonoras parecem deformar moléculas, facilitando o acesso a um interruptor químico que ativa a FAK, que por sua vez desencadeia uma cadeia de alterações genéticas”, explica Kumeta.
Redução da formação de gordura
Além disso, o estudo encontrou que o som audível inibiu a diferenciação dos pré-adipócitos (células precursoras de gordura) em células adiposas maduras, reduzindo a acumulação de gordura entre 13% a 15%. Este efeito sugere um potencial para tratamentos não invasivos para combater a obesidade.
“O som audível é não invasivo e provavelmente mais seguro que medicamentos”, sublinha Kumeta. “Embora não possa ser focado com a precisão do ultrassom, é fácil de produzir e pode banhar grandes regiões do corpo em ondas sonoras”, acrescenta.
A equipa já iniciou testes em ratos vivos para explorar a supressão do tecido adiposo através de estímulos sonoros, com perspetiva de aplicações clínicas em humanos num prazo de cinco a dez anos.
A investigadora Lidan You, da Queen’s University, destaca que “muitos dos genes afetados têm papéis em processos chave como adesão e migração celular, conhecidos por responder a forças mecânicas. O próximo passo poderá incluir estudos com organoides humanos que reproduzam doenças para aprofundar a compreensão dos efeitos do som nas células”.
Além da obesidade, as ondas sonoras podem vir a ter aplicações na medicina regenerativa e no combate ao cancro, abrindo uma nova fronteira na interação entre som e biologia.