A partir de certa idade, o ato de conduzir exige atenção redobrada, não apenas pela experiência, mas também pelas mudanças físicas e cognitivas que o tempo traz. Especialistas do setor alertam que há momentos em que o condutor sénior deve ponderar seriamente abandonar o volante, quer segurança própria, quer para a de terceiros.
Quando chega a idade de parar
Apesar de cada pessoa envelhecer de forma diferente, problemas de visão, reflexos mais lentos e dificuldades de concentração tendem a surgir com a idade. Estes fatores combinados podem reduzir a capacidade de avaliar distâncias, interpretar sinais ou reagir a situações inesperadas, aumentando o risco de acidentes. Médicos e organizações rodoviárias, citados pelo 00 recomendam que os condutores mais velhos façam avaliações periódicas, analisando não apenas a acuidade visual, mas também os tempos de reação e a presença de doenças crónicas que afetem a coordenação.
Outro aspeto a ter em conta é a medicação regular. Muitos fármacos prescritos para hipertensão, dores crónicas ou ansiedade contêm substâncias que provocam sonolência ou diminuem a velocidade de resposta. Quando esses efeitos se manifestam, o condutor pode não perceber o perigo imediato até ser tarde demais.
O aviso de Scotty Kilmer
Scotty Kilmer, mecânico com milhares de seguidores nas redes sociais, defende que os condutores devem reconhecer o momento de parar de conduzir. Segundo explicou, há sinais evidentes de que a aptidão está em declínio, como bater em obstáculos ao estacionar, confundir pedais ou não conseguir manter a trajetória correta em curva. Quando estes episódios se tornam frequentes, insistir em conduzir pode representar perigo real para todos na estrada.
Kilmer admite que abandonar o volante pode ser frustrante, mas insiste que a segurança deve prevalecer. Ao partilhar experiências pessoais, reconhece que chegará o dia em que ele próprio terá de entregar a carta e lembra que a decisão, por difícil que seja, evita consequências mais graves no futuro.
Falta de regras fixas no Reino Unido
No Reino Unido, onde surgiu o alerta, não existe limite de idade legal para conduzir. A autoridade de licenciamento considera que a aptidão depende do estado de saúde individual e não apenas da data de nascimento. Para as categorias mais comuns (AM, A1, A2, A, B1, B e BE), a carta deve ser revalidada de 15 em 15 anos até aos 60 anos; depois, aos 60, 65 e 70 anos; a partir dos 70 anos, a revalidação passa a ser de dois em dois anos. Esta regra está indicada nos guias do IMT e no portal do Governo dedicados à revalidação da carta de condução.
Apesar da ausência de idade-limite, o condutor idoso tem a responsabilidade legal de garantir que mantém os requisitos de visão, audição e mobilidade necessários, refere ainda a mesma fonte.
Dados recentes sobre sinistralidade
Estatísticas publicadas em 2023 mostram que cerca de um quarto dos condutores mortais em acidentes rodoviários no Reino Unido pertenciam à faixa etária mais avançada. Além disso, onze por cento de todas as vítimas, incluindo feridos ligeiros, envolveram condutores seniores. Estes números realçam que o risco é real e deve ser levado em consideração tanto pelas famílias como pelos próprios condutores.
Estudos internacionais confirmam tendência semelhante noutros países europeus, onde o envelhecimento da população aumenta a proporção de condutores idosos nas estradas. Especialistas sugerem adaptações nas infra-estruturas, como sinalização mais visível e cruzamentos simplificados, para reduzir acidentes.
Entregar voluntariamente a carta
As autoridades britânicas, para estas situações, aconselham os condutores que deixam de se sentir seguros a entregar a carta voluntariamente. Este procedimento é simples e não implica sanções adicionais. Caso a condição de saúde melhore ou o condutor se submeta a tratamento eficaz, pode solicitar nova licença, mediante exames que comprovem a aptidão.
Para muitos idosos, abdicar da carta e deixar de conduzir significa perder autonomia. Por isso, as entidades de apoio aconselham planear alternativas, como transportes públicos, táxis partilhados ou boleias familiares, garantindo que a vida social e as tarefas diárias não ficam comprometidas.
Em Portugal, o processo de renovação é igualmente rigoroso. A partir dos 70 anos, a carta deve ser revalidada com atestado médico e exames específicos. Se surgirem patologias incapacitantes, como problemas cardiovasculares instáveis ou doenças degenerativas, o médico pode recomendar suspensão da carta até reavaliação.
O papel do DVLA e possíveis sanções
No caso do Reino Unido, o DVLA, organismo de licenciamento britânico, tem competência para revogar a carta caso receba relatórios médicos ou relatos de condução perigosa. Se o idoso recusar entregar a licença após notificação, arrisca sanções legais e pode vir a ser processado por negligência em caso de acidente. A mesma lógica se aplica em Portugal, onde o Instituto da Mobilidade e dos Transportes pode suspender a habilitação sempre que uma junta médica conclua existir perigo para a segurança pública.
Em ambos os países, a cooperação entre médicos, família e autoridades é fundamental, refere a mesma fonte. Médicos de família podem comunicar ao organismo de licenciamento se o paciente negar-se a cessar a condução apesar de não estar apto, protegendo terceiros de possíveis sinistros.
Mensagem do Older Drivers Forum
O Older Drivers Forum, entidade britânica dedicada à segurança rodoviária sénior, sublinha que chegará a altura em que alguns condutores devem abdicar da carta pelo bem comum. A organização encoraja familiares a conversar abertamente quando notam comportamentos preocupantes, como dificuldades em estacionar ou reações muito lentas nos semáforos.
As recomendações incluem avaliações regulares em escolas de condução especializadas, programas de reciclagem adaptados a seniores e consultas médicas frequentes. Ao adotar estas medidas, o condutor pode prolongar a condução segura por mais tempo ou, quando necessário, transitionar gradualmente para outras formas de mobilidade. Depois de ponderar todos estes aspetos, muitos condutores optam por deixar o carro e descobrem novas formas de se deslocar sem problemas. A decisão pode abrir portas a atividades antes adiadas, como viagens de comboio ou caminhadas, permitindo manter uma vida ativa.