Este é o sexto volume da coleção «Biografias de Grandes Figuras da Cultura Portuguesa Contemporânea» e o primeiro que envolve diretamente, por meio de entrevistas, a própria personalidade biografada. O livro inclui revelações importantes sobre a vida e obra de uma das figuras mais proeminentes da literatura nacional.
Mais do que uma narrativa biográfica, esta obra é uma conversa íntima, em vários momentos sussurrada ao ouvido, com uma mulher, poetisa, mãe, ativista política e uma das vozes mais influentes e inquebrantáveis de Portugal. Maria Teresa Horta, desde tenra idade, enfrentou as vicissitudes da vida com intrepidez, sobrevivendo não apenas às adversidades pessoais, mas erguendo-se também como uma fervorosa defensora dos direitos das mulheres e uma figura proeminente na cena política nacional.
Em 2024, ao celebrarmos os 50 anos do 25 de Abril, é crucial revisitar o legado e a coragem daqueles que moldaram os rumos da nação portuguesa. Maria Teresa Horta emerge como um ícone não apenas da literatura, mas também da luta pela liberdade e igualdade de género. A sua intensa atividade política e societal, tanto antes quanto depois da Revolução dos Cravos, ecoa em cada página desta biografia, inspirando-nos a nunca findar a busca por justiça e dignidade.
Patrícia Reis, conhecida pela sua habilidade em retratar personalidades complexas com sensibilidade e destreza, oferece-nos aqui uma visão íntima e abrangente da vida da autora. A Desobediente – Biografia de Maria Teresa Horta promete ser uma leitura cativante e inspiradora, que ilumina a trajetória de uma escritora excecional, bem como a história e o espírito de uma nação. É uma declaração de resistência, uma celebração da determinação e uma inspiração para as gerações presentes e futuras.
A dor e o abandono chegaram cedo à vida de Teresinha, a filha mais velha de um dos mais prestigiados médicos da capital e de uma mulher livre e corajosa, descendente dos marqueses de Alorna, que nas ruas e nos melhores salões de Lisboa rivalizava em encanto com Natália Correia. A menina que haveria de ser poetisa vê a morte de perto quando ainda mal sabe andar e sobrevive às depressões da mãe, chegando mesmo a comer uma carta para a proteger. É dura e injustamente castigada, e as cicatrizes hão de ficar visíveis toda a vida, de tal modo que a infância e a adolescência de Maria Teresa Horta explicam quase todas as opções que tomou. Sobreviver ao difícil divórcio dos pais, duas figuras incomuns, com as quais estabeleceu relações impressionantes de tão complexas, foi apenas uma etapa.
Mas quanto deste sofrimento a leva à descoberta da poesia? E quanto está na origem da voz ativista de uma jovem que há de ser uma d’As Três Marias, as autoras das famosas Novas Cartas Portuguesas, e protagonistas do último caso de perseguição a escritores em Portugal, que recebeu apoio internacional de mulheres como Simone de Beauvoir e Marguerite Duras? A insubmissa, que se envolve por acaso com o PCP e mantém intensa atividade política no pré e no pós-25 de Abril; a poetisa, a mãe, a mulher que constrói um amor desmedido por Luís de Barros; a grande escritora a quem os prémios e condecorações chegaram já tarde (ainda que, em alguns casos, a tempo de serem recusados), entre outras facetas, é a Maria Teresa Horta que Patrícia Reis, romancista e biógrafa experimentada, soube escrever e dar a conhecer, nesta biografia, com a destreza e a sensibilidade que a distinguem.