100 Erros: ter que estudar ou ter de estudar?

Não se preocupe, a Escrivaninha (equipa de serviços linguístico e de edição) esclarece todas as dúvidas que possa ter na nova rúbrica “100 Erros”, todas as semanas no site Forever Young.

«Esta semana não posso ir jantar porque tenho que… de… estudar»

 

Quantos de nós tivemos esta dúvida? Quase todos, provavelmente.

 

E esta até é daquelas ‘minimamente desculpáveis’ — se as houver — , por ser relativamente difícil de detectar e bastante frequente. Contudo, a vulgaridade de um erro não pode ser desculpa para o cometermos e, menos ainda, para não evitarmos cair nele.

 

Assim, o que aqui importa estabelecer é que ambas as hipóteses estariam correctas, mas que ter de e ter que não são sinónimos e, por isso, não devemos ‘escolher’ utilizar uma ou outra como nos aprouver.

 

 

Para começar, ter de usa-se na formulação ter de + forma verbal no infinitivo e significa «se tem o desejo», «se tem a necessidade», «se tem a obrigação» ou o «se tem um determinado dever em relação a alguma coisa».

 

Estes são os sentidos com que mais utilizamos o verbo ter — além de, claro está, quando este faz referência directa à posse («Eu tenho um carro). Assim, vejam-se os seguintes exemplos:

 

1) «Peço desculpa, tenho mesmo de apanhar o comboio às 20h. Não posso ficar.»

2) «Temos de nos respeitar mutuamente para que a nossa relação resulte.»

3) «Tenho uma grande vontade de comer um gelado.»

 

Assim, como lemos na página do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, nesta caso o verbo ter tem um papel auxiliar e significa «ter necessidade de», «precisar de», «ser obrigado a», «dever».

 

Por outro lado, reza a gramática que na expressão ter que o verbo ter significa «ser detentor de», «estar na posse de», «desfrutar», «usufruir», «poder dispor de». Deste modo, é utilizado em casos como os que se seguem:

 

4) «Hoje não posso ir ao ginásio, tenho muito que fazer.»

5) «Ai, tenho tanto que estudar! Ainda não vi nada da matéria!»

6) «O meu avô é assim, tem sempre muito que contar.»

7) «Se lhe responderes bem ele não vai ter que dizer.»

 

Aqui, a expressão ter que tem um valor final (isto é, refere-se a «para ver»). E, atenção: em alguns destes casos podemos acabar por encontrar sintagmas que assumem um valor substantivo (isto é, que substituem nomes). Por exemplo:

 

8) «Ela não tem que fazer.» — isto é, não faz nada, não tem afazeres.

 

Está, pois, demonstrado que ter de se distingue de ter que. O primeiro sugere obrigação e o segundo faz referência ao que está na posse de alguém.

 

Agora, só temos de decorar a diferença!

 

Marta Cruz

(texto escrito de acordo com a antiga ortografia)
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