Análises anuais ao sangue e à urina e radiografias ao tórax a cada 15 meses. Um estudo publicado em 2013 na PLOS One, uma publicação científica dos Estados Unidos da América, é claro quanto ao que pensam os portugueses sobre o que deve ser a sua relação com a medicina: 99% estão convencidos de terem de cumprir a primeira diligência e 70% a segunda.
Um estudo posterior, dos mesmos investigadores, avaliou a importância atribuída pelos portugueses aos exames médicos, e concluiu que tendem a dar-lhes relevância excessiva. Atribuem até mais importância aos meios de diagnóstico do que à adoção de um estilo de vida saudável, por exemplo, a uma dieta equilibrada e ao controlo do peso e dos níveis de colesterol.
Estas crenças, por sua vez, repercutem-se na relação com o médico. Desconhecendo os exames que se justificam e os que são desnecessários, ou mesmo arriscados em certos contextos, os doentes tendem a pressionar o profissional de saúde para que os prescreva. E, com frequência, este cede, como verificámos num inquérito que conduzimos em 2017, sobre a relação entre médicos e pacientes.
Agora, o avanço do conhecimento científico reforça a importância do uso rigoroso dos exames. Nasceu, assim, o programa Escolhas Criteriosas em Saúde. Criado em 2012 nos EUA sob o nome Choosing Wisely, visa sensibilizar médicos e doentes para a importância de decisões baseadas na evidência científica. No site, elencam vários procedimentos frequentes, organizados por especialidade. E, a partir de artigos científicos, justificam porque não são necessários em certos casos.
Quais as razões para esta postura? As já invocadas, e mais algumas. Muitas vezes, os exames provocam ansiedade nos doentes e acabam por sobrecarregar os sistemas de saúde em termos financeiros. Não significa, contudo, que se recuse um procedimento que pode trazer benefícios a um doente. Há que encontrar pontos de equilíbrio entre os pedidos e a necessidade deles. Reunimos seis situações em que nem sempre os procedimentos médicos ou os fármacos se justificam.