A “normalidade” é um conceito que simplesmente não faz sentido no contexto de uma relação sexual. Pensar em coisas como “qual a frequência com que um casal deve ter relações?” é apenas algo que nos distrai da real questão. Todas as pessoas e todos os casais são diferentes, não existe uma “medida” comum nem um livro de regras que deve ser seguido por todos.
O desejo sexual de cada um pode assim variar devido a vários fatores. É inevitável que um casal tenha que enfrentar em algum momento uma eventual discrepância no desejo que sentem. Saber lidar corretamente com estas situações é fundamental para evitar conflitos e desconfortos que podem danificar o estado de uma relação.
Um recente estudo publicado na Archive of Sexual Behavior procurou compreender melhor a forma como os casais lidam com estas situações. A ideia foi perceber e registar os níveis de desejo sexual de cada individuo e compreender mais tarde como eles procuram resolver as eventuais discrepâncias, identificando as estratégias que usam para ultrapassar o “problema”.
Após obterem as respostas dos mais de 230 participantes, os investigadores agruparam as estratégias em 5 diferentes grupos:
- Não envolvimento. Neste caso, o parceiro com menor desejo sexual rejeita qualquer tipo de contacto ou até se irrita com os avanços do outro, obrigando o parceiro com maior desejo sexual a canalizar as suas vontades para outro tipo de hobbies ou exercício físico. 11% dos participantes afirmaram utilizar esta estratégia, sendo que desses, apenas 9% afirmam que esta é uma estratégia com bons resultados.
- Comunicação. O casal discute as razões que estão na origem da falta de desejo e tentam chegar a um compromisso, que envolva fazer sexo numa outra altura. 11% afirmaram usar esta estratégia e 57% desses afirma estar satisfeitos com os resultados. A verdade é que um casal pode sentir-se mais próximo quando consegue dialogar e comunicar os seus desejos ou frustrações. No entanto se durante a conversa um dos dois assumir uma postura mais defensiva isso pode complicar o diálogo e causar alguma animosidade.
- Fazer outras atividades sem o parceiro. Aqui falamos de outras soluções alternativas como a masturbação, ver pornografia ou ler romances eróticos. Cerca de 27% dos participantes assume lidar com a frustração sexual desta forma. 46% deles afirma estar satisfeitos com os resultados desta estratégia. Por vezes este tipo de experiências individuais podem ser uma forma útil de colmatar uma discrepância temporária do desejo sexual conjugal, no entanto poderá não ser uma solução sustentável a longo prazo, caso o parceiro sinta que esta se torna na única forma de receber gratificação sexual.
- Fazer em conjunto outras atividades. Massagens, dar abraços em “conchinha” ou tomar banho juntos são alguns dos exemplos de atividades alternativas que os casais adotam nestes momentos. Adicionalmente isto pode envolver também o parceiro com menor desejo sexual oferecer-se para fazer outro tipo menor de atividade sexual como sexo oral ou masturbação. 38% afirmam utilizar esta estratégia e 54% desses dizem-se satisfeitos com os resultados. Outras atividades menos sexuais como cozinhar uma refeição em conjunto ou dar um passeio de mãos dadas são exemplos de atividades conjuntas que podem mais tarde estimular um maior desejo sexual no parceiro com uma líbido menor.
- Fazer sexo na mesma. Em alguns casos os participantes com menor desejo sexual afirmaram oferecer uma “rapidinha” como alternativa. Outros consentem com o iniciar de uma relação sexual apesar de não estarem com grande disposição para tal. Nestes casos existe uma maior compreensão da importância do sexo na relação e um desejo grande de satisfazer as necessidades do parceiro/a. Apenas 14% afirmaram utilizar esta estratégia, mas cerca de 58% afirmaram estar satisfeitos com os resultados.
De acordo com as conclusões do estudo todas estas soluções demonstram a variedade das formas como os casais lidam com as diferenças no desejo sexual. Todas elas podem ser razoavelmente eficazes para lidar de forma adequada com o problema.
A única exceção parece ser apenas a primeira opção de “não envolvimento” que pode causar danos claros nas relações conjugais se for utilizada como prática habitual. Saber comunicar bem as razões que originam um desinteresse sexual é um passo fundamental para o futuro bem-estar do casal.