A Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, inaugura hoje a exposição “Gris, Vide, Cris”, que mostra o encontro – e desencontro – entre o trabalho de dois artistas que nunca se cruzaram em pessoa, Rui Chafes e Alberto Giacometti, avança a Lusa
A exposição em Lisboa abre ao público na quinta-feira e fica patente até 18 de setembro, cinco anos depois de uma primeira apresentação na delegação de Paris da fundação portuguesa, à qual vão ser acrescentadas 10 peças, para perfazer um total de 30.
“Esta exposição assume-se, desde a sua génese, como um encontro que parte da consciência das diferenças dos trabalhos dos dois artistas, mas também, e sobretudo, do potencial de ressonância das suas obras, desenvolvendo-se com a energia de uma pesquisa e de um território de imagens e de significados a explorar”, pode ler-se no dossiê de imprensa.
A mostra junta dois universos aparentemente opostos: de um lado, as esculturas em ferro, pretas e lisas de Chafes, do outro, as rugosas peças em bronze, gesso e terracota de Giacometti, mas há um “encontro” marcado pela busca “do vazio, do imaterial e do invisível”.
“Numa obra de arte é tão importante aquilo que se vê como aquilo que não se vê. Às vezes, até é mais importante aquilo que não se vê, porque uma obra de arte é apenas um fragmento de uma multidão de coisas que estão lá para trás e que não estão visíveis”, disse à Lusa, em 2018, o escultor português.
Com curadoria de Helena de Freitas, que propôs o “encontro” entre o artista português, que nasceu em 1966, e o artista suíço, que morreu nesse mesmo ano, “Gris, Vide, Cris” tem projeto expositivo de José Neves e projeto gráfico e desenho do catálogo de Pedro Falcão.
“No fundo, há um encontro físico, mas esse encontro físico une-se a partir desses valores do sensível e do imaterial. Não há aqui nenhuma ideia de apresentar algo que se complemente do ponto de vista físico. O trabalho do Rui Chafes é particularmente interessante porque atinge aquilo que é essencial no trabalho de Giacometti que é ver, como representar o invisível”, descreveu à agência Lusa, na altura da apresentação em Paris, Helena de Freitas.
A exposição inclui esculturas de Rui Chafes concebidas para este projeto, entre as quais obras que “permitem ter um olhar diferente e que nunca aconteceu” perante as peças de Alberto Giacometti, “um dos maiores escultores do modernismo, senão mesmo o maior” e “uma figura isolada em todo o século XX como o topo de uma montanha que está sempre a ver-se”, de acordo com Chafes.
As esculturas e os desenhos de Giacometti foram escolhidos pelo artista português e pela comissária que, desde o início, procuraram o “aspeto menos formal, mais desmaterializado e mais arriscado do trabalho” do escultor, e foram buscar obras “muito pouco expostas e duas inéditas”, realizadas entre 1932 e 1962.
O título da exposição, “Gris, Vide, Cris”, é oriundo de um poema sobre a morte de Alberto Giacometti, “três palavras difíceis de pronunciar e de ouvir”, que têm “sentido no encontro dos dois artistas” e que são “reveladoras de alguma estranheza e incomodidade”, porque “esta não é uma exposição confortável”, avisou Helena de Freitas.