A infertilidade é, para muitos casais, um acontecimento que marca de forma significativa o seu ciclo de vida. Em vésperas de mais um Dia Mundial da Saúde Mental, que se assinala a 10 de outubro, a psicóloga Filipa Santos, alerta para a importância da informação e sensibilização da população no geral, mas aqui com um foco particular para quem vive a infertilidade, para os cuidados a ter com a sua saúde mental e para a relevância de se consultar um profissional de saúde mental.
A vivência emocional da infertilidade é muitas vezes comparada a uma montanha-russa, que não sabemos quanto tempo vai durar, nem exatamente como vai terminar. Ou seja, pode ser um caminho de tentativas mais ou menos longo, no qual sabemos onde queremos chegar, mas em que nem sempre conseguimos ter esse controlo. É um caminho com múltiplas etapas, com desafios e perdas que podem ir surgindo à medida que é percorrido.
Segundo a psicóloga da clínica de fertilidade IVI Lisboa, “cerca de 25 a 40% dos casais com dificuldades reprodutivas relatam sinais de ansiedade e depressão mais elevados em comparação com os casais férteis”. Explica que a vivência da infertilidade surge muitas vezes associada a sentimentos de vergonha, zanga, tristeza e culpa. “Quando há um desgaste grande ou uma sensação de sobrecarga emocional, é fundamental a pessoa procurar ajuda, no sentido de desenvolver estratégias mais ajustadas de autorregulação emocional”, explica.
Acrescenta que, por vezes, o suporte conjugal, familiar ou social é sentido como inexistente ou incompetente o que torna esta vivência ainda mais dura e solitária. Procurar ajuda psicológica pode ser importante para desenvolver ferramentas para uma comunicação mais saudável e eficaz, seja com os outros de uma forma geral, seja no contexto do casal. Na sua opinião, o autocuidado é importante para todas as pessoas. “A nossa capacidade de cuidarmos de nós de uma forma consciente, atenta e respondendo às nossas necessidades é uma ferramenta importante para o nosso bem-estar psicológico. Por vezes é necessário recorrer à ajuda de um profissional para esta tomada de consciência e para trabalhar algumas mudanças de comportamento”, sublinha.
De acordo com a psicóloga, num caminho que pode ser pautado por insucessos ou perdas, o processo de luto pode tornar-se demasiado pesado. “Nessa altura, é importante procurar um profissional que possa ajudar a pessoa a compreender o seu luto e a desenvolver estratégias para lidar com o mesmo. Muitas pessoas vão desistir dos tratamentos pela sobrecarga emocional que atribuem aos mesmos e acabam por não conseguir ter um filho”, afirma.
Experienciar emoções mais intensas ou negativas faz parte do processo. O acesso a um profissional de saúde mental pode ser fundamental para a pessoa desenvolver novas ferramentas de regulação emocional e para promover a resiliência para que consiga continuar o seu caminho. Ao longo da jornada da infertilidade pode ser necessário ajustar expetativas e tomar decisões diferentes das iniciais. Podem existir momentos em que é necessário o aconselhamento psicológico no sentido de apoiar e promover a tomada de decisão consciente e informada, assim como para apoiar a gestão das expectativas associadas às opções existentes e aos processos inerentes.