A Organização Mundial de Saúde estima que, em 2040, o número de novos casos cresça 50% e a taxa de mortalidade 63%. As terapêuticas atuais são cada vez mais eficazes, mas, em alguns cancros, sobretudo os mais agressivos, as recidivas e a mortalidade continuam elevadas. A Karion Therapeutics, fundada por quatro empreendedoras da Universidade do Minho, descobriu uma molécula promissora para tratar o cancro agressivo. Numa primeira fase, os cancros renal e da mama são o seu foco. Os primeiros estudos demonstram a eficácia da nova droga que permite uma grande seletividade de células a tratar, diminuindo os efeitos colaterais, limita o crescimento dos tumores (levando a uma redução das doses quimioterapia) e ativa os supressores do cancro.
A empresa foi fundada em 2022 para concluir os ensaios pré-clínicos em humanos, o que deverá acontecer daqui a três anos, e foi a vencedora do Born from Knowledge – BfK Award, atribuído pela Agência Nacional de Inovação (ANI), no âmbito dos Altice International Innovation Awards (AIIA), entregues ontem, em Lisboa. Além da árvore do conhecimento, obra de arte do escultor Leonel Moura impressa em 3D e símbolo da valorização do conhecimento científico e tecnológico nacional, a ANI atribuiu à Karion Therapeutics um prémio monetário de 2 500 euros.
Apesar do seu potencial clínico em 12 tipos de cancro – Carcinoma de Células Renais, Cancro da Mama Triplo Negativo, Leucemia Mieloide Aguda, Glioblastoma, Cancro do Pulmão, Cancro da Bexiga, Cancro da Próstata, Carcinoma de Células Escamosas do Esófago, Osteossarcoma, Linfoma, Meduloblastoma e Cancro Colorretal –, a Karion Therapeutics selecionou o Carcinoma de Células Renais e o Cancro da Mama Triplo Negativo para iniciar os estudos. Porquê? Devido às elevadas taxas de mortalidade e a altas necessidades clínicas não satisfeitas nas abordagens terapêuticas atuais a estas doenças.
No caso do Carcinoma de Células Renais, apesar das terapias de ponta já existentes, as taxas de mortalidade em doentes em estádio III é de 29% e de 86% em estádio IV (sobrevivência média de um ano). Além disso, a taxa de recidiva, mesmo após cirurgia, afeta 30% dos doentes.
Já no caso do Cancro da Mama Triplo Negativo, as taxas de mortalidade em doentes em estádio III é de 35% e de 88% em estádio IV (sobrevivência média de um ano a ano e meio). A quimioterapia continua a ser a principal opção de tratamento, mas até 50% dos doentes são resistentes à mesma. Além disso, 40% daqueles que se encontram nos estádios I a III recaem, bem como 50% dos que desenvolveram a doença até aos estádios III e IV. Isto, para não falar da elevada toxicidade a que estes pacientes são sujeitos.
Estudos pré-clínicos confirmam que o KT408 é seguro e eficaz
Os primeiros estudos da molécula KT408 trazem uma nova esperança. Com a aplicação de uma dose única de 120 nanoMolar, passados quatro dias verificou-se a redução de 22% do Carcinoma de Células Renais e a inibição da proliferação de células cancerígenas. Também os resultados no tratamento do Cancro da Mama Triplo Negativo são promissores: a aplicação de uma dose única de 100 nanoMolar, reduziu o tumor em 40% e a circulação sanguínea em 30% nos mesmos quatro dias.
A equipa da Karion Therapeutics é formada por Marta Costa (CEO), Fátima Baltazar e Fernanda Proença, investigadoras nas áreas da Medicina, Oncologia, Química e Biologia, e Teresa Dias Coelho, profissional com experiência internacional na área dos negócios.