Da subida recorde da Euribor aos apoios do Governo para reduzir as prestações, 2023 teve o tema do crédito habitação na ordem do dia.
Agora, avizinhando-se um ano mais positivo para quem quer comprar casa, é importante esclarecer algumas falsas crenças associadas ao processo.
No dia a dia da Gestlifes, ao contactar com centenas de clientes à procura de investir num imóvel, deparamo-nos com 10 principais mitos no acesso ao crédito habitação:
1. Preciso de Ser Efetivo Para Pedir Um Crédito Habitação
A estabilidade financeira necessária para a aprovação do crédito não se limita ao tipo de vínculo laboral.
Mesmo sem um contrato efetivo, é possível explorar outras opções para oferecer garantias à instituição financeira, como a apresentação de fiadores ou a hipoteca de outro imóvel.
Outro fator ainda mais relevante é a taxa de esforço dos clientes, isto é, se têm margem no orçamento para pagar mensalmente a casa.
2. Não Posso Mudar as Condições Até ao Final do Contrato
Contrariamente ao que alguns podem pensar, não é indispensável ficar “preso” ao mesmo contrato durante 40 anos.
Os titulares têm a possibilidade de renegociar certas condições ao longo do período do empréstimo, uma prática que ganhou protagonismo ao longo de 2023.
Renegociar o valor do spread, mudar para taxa fixa ou transferir o crédito habitação são algumas das estratégias para reduzir a mensalidade.
3. É Possível Pedir Um Crédito Habitação 100% Financiado
Embora seja possível obter um crédito habitação totalmente financiado, a realidade é que esta prática é rara e com condições específicas.
Para conseguir um crédito habitação 100% financiado, é necessário encontrar uma casa que esteja à venda através do banco, o que por si só já é uma oferta limitada.
Na maioria dos casos, o comprador tem de contribuir com uma entrada ou pagamento inicial, em torno de 10% a 20% do valor do imóvel.
4. O Meu Banco Tem a Melhor Proposta de Crédito
Muitos consumidores mantêm a fidelidade ao seu banco, assumindo que este automaticamente terá melhores condições por já serem clientes.
No entanto, com a concorrência no mercado financeiro, existem diferentes instituições em jogo.
É uma prática sensata explorar várias opções antes de tomar uma decisão.
5. Posso Pedir Um Crédito Pessoal Para Pagar a Entrada
Apesar da tentação de utilizar um crédito pessoal para financiar a entrada na compra de uma casa, essa prática é desaconselhada pelo Banco de Portugal e por especialistas em finanças.
Os clientes devem ter poupanças ou capitais próprios para liquidar esta despesa.
Ao recorrer a um crédito pessoal para financiar a entrada, vai inevitavelmente aumentar a taxa de esforço, que é a proporção entre as suas despesas e os seus rendimentos mensais.
Isto pode dificultar a aprovação do crédito habitação, já que os bancos consideram a taxa de esforço ao avaliar o perfil.
Para além disso, um crédito pessoal tem taxas de juro mais elevadas, o que torna o custo total da aquisição da casa mais elevado.
6. A Taxa Variável é a Melhor Opção
A ideia de que a taxa variável é sempre a melhor opção no crédito habitação nem sempre é verdadeira.
Embora a taxa variável possa oferecer mensalidades mais baixas em períodos em que a Euribor é reduzida, também expõe o titular ao risco de aumentos significativos quando a tendência se inverte.
Atualmente, com a Euribor em níveis historicamente altos, a taxa fixa tem sido considerada uma opção mais atraente para muitas famílias.
Assim, as prestações mensais são previsíveis ao longo de um determinado período, oferecendo uma proteção contra potenciais aumentos.
E, quando voltar a ser benéfica, é possível negociar novamente uma taxa variável.
7. Mudar o Crédito Habitação de Banco é Um Processo Complicado
Muitas instituições financeiras tornaram este processo mais simples para atrair novos clientes e incentivar a concorrência no mercado.
E os clientes podem utilizar intermediários de crédito ou consultores financeiros especializados, principalmente para comparar o mercado e tratar do processo pelo titular.
Neste caso, o cliente não precisa de lidar diretamente com o encerramento do crédito no banco inicial ou com a transferência de documentos.
Assim, este pode ser um processo relativamente direto, que permite que os titulares beneficiem de condições mais favoráveis.
8. É Obrigatório Ter os Seguros Contratados no Banco
Embora vários bancos ofereçam spreads mais baixos aos clientes que contratam seguro de vida e/ou multirriscos diretamente com eles, a escolha de onde contratar os seguros é, na maioria dos casos, livre.
Os clientes têm a flexibilidade de procurar seguros noutras entidades, como seguradoras independentes ou mesmo noutras instituições bancárias.
Em alguns casos, esta abordagem pode resultar em prémios de seguro mais competitivos e prestações mais baixas.
9. Um Spread Mais Baixo Significa Um Empréstimo Mais Barato
Embora um spread mais baixo contribua para tornar o crédito habitação mais acessível, não é o único fator determinante no custo total do empréstimo.
O spread representa a margem de lucro do banco, e é um componente importante na determinação da taxa de juro final.
No entanto, outros custos associados ao empréstimo, como comissões, seguros obrigatórios, e despesas administrativas também influenciam o custo total.
Portanto, ao avaliar uma proposta de crédito, os titulares devem considerar não apenas o spread, mas a Taxa Anual de Encargos Efetiva Global (TAEG).
A TAEG reflete todos os custos associados ao crédito habitação, oferecendo uma visão mais abrangente e precisa do custo total do empréstimo.
10. É Melhor Pagar o Crédito Habitação Em 40 Anos
Embora a ideia de pagar o crédito habitação ao longo de 40 anos possa parecer atrativa devido à redução do valor das prestações mensais, não é necessariamente a melhor opção.
Além disso, nem todos os titulares têm a opção de estender o prazo do crédito para 40 anos, uma vez que isso depende da idade na altura da contratação do empréstimo.
O ideal é encontrar um equilíbrio entre o prazo de pagamento e a prestação mensal que seja sustentável e que permita ao titular pagar o empréstimo dentro de um período razoável.