Visitada a propósito do Dia Mundial da Rádio, que se assinala na terça-feira, a Rádio Freguesia de Belém está registada como rádio institucional, o que só lhe dá direito a funcionar ‘online’.
“Gostaríamos muito que isto fosse repensado e pudéssemos ter uma frequência”, disse à Lusa a coordenadora do projeto, Maria Cid, funcionária da Junta de Freguesia de Belém.
“É limitativo”, explica, relatando: “As pessoas mais velhas às vezes nem têm internet em casa e, se têm internet em casa, também não têm, se calhar, a habilidade para ir à procura de um site e ouvir dentro de casa a rádio”.
Ora, recorda Maria Cid, o projeto surgiu, em 2020, para “combater o isolamento social”, a par com “uma vertente pedagógica”, virada para as escolas da freguesia.
“Era importante ter uma frequência. Temos uma população sénior, temos bastantes pessoas mais velhas, que estão isoladas”, assinala, contando que a esta população, que se informa sobretudo pela televisão nacional, “faz falta” uma “informação mais local”.
Inspirada na Rádio Miúdos, Maria Cid quis montar em Belém uma rádio mais alargada, na qual “qualquer um poderia fazer parte” e que servisse o objetivo de “aproximar as pessoas”.
Pediram voluntários e iniciaram, com a ajuda da Rádio Miúdos, uma formação de oito meses.
Em 15 de abril de 2021, a Rádio Freguesia de Belém fez a sua primeira emissão e, de então para cá, tem vindo a consolidar-se.
Com um grupo de 40 voluntários – sobretudo residentes na freguesia ou pessoas que, já não vivendo ali, querem manter a ligação –, a rádio “não é um veículo político, para isso há o boletim”, assinala Maria Cid.
O processo tem levado o seu tempo, “não é imediato”, até porque “as pessoas estão pouco habituadas a interagir”, realça Maria Cid, destacando a aposta da junta de freguesia.
A rádio “pode ser um canal, um veículo para acrescentar valor ao que existe na comunidade”, defende.
Atualmente com ligação a três dezenas de instituições locais e às muitas escolas que existem no território (em 2023, envolveram três centenas de estudantes), a rádio emite a assembleia de freguesia em direto, uma forma de manter os residentes “atentos às questões locais”, para que “eventualmente possam dar soluções”.
Minutos antes de entrar no ar, Fátima Santos Costa, uma das locutoras do programa “Olá, vizinho”, conversa com a Lusa sobre a rubrica que, juntamente com Luísa Albuquerque, assegura à terça-feira, entre as três e as quatro da tarde.
Afirmando que o programa trabalha “temas de interesse para a comunidade”, a locutora ia iniciar em breve uma conversa com os ouvintes sobre segurança na internet.
Psicóloga na Ação Social da Junta de Freguesia de Belém, Fátima chegou à rádio “por acaso”, desafiada por Maria Cid, a coordenadora do projeto.
“Foi uma das boas decisões que tomei na vida, porque gosto imenso de fazer (…) este programa, dá-me imenso gosto preparar os temas (…), desenvolver as questões, procurar os convidados”, diz.
A Rádio Freguesia de Belém tem “uma grelha alargada” de programas e rubricas, todos assegurados por voluntários e “muito virados para a comunidade”, sobre “coisas que estão a acontecer na freguesia”, descreve Fátima.
A interação com os ouvintes “é boa” e, à medida que o tempo vai passando, a rádio vai tendo “cada vez mais visibilidade dentro da comunidade”, repara.
Lusa