“Apesar de isto se situar num futuro pós-apocalíptico, o comportamento regressa à Idade das Trevas ou tempos medievais, ainda com tecnologia do século XX”, afirmou o cineasta, numa conferência de lançamento do filme em que a Lusa participou.
“Não há carros elétricos, não se pode usar telemóvel nem cartão de crédito, não há refrigeração nem rede elétrica ou instituições”, descreveu. Tudo isso leva os personagens a um comportamento básico, sendo a história uma alegoria que Miller considerou espelhar partes do mundo moderno.
“Vemos muitos destes comportamentos no mundo, a forma como as pessoas lidam umas com as outras, está nas notícias”, continuou.
Situada 45 anos após o colapso da humanidade, com uma catástrofe climática que tornou o mundo árido, a história serve como prequela de “Mad Max: Estrada da Fúria”, protagonizada por Charlize Theron e Tom Hardy em 2015 e que venceu seis Óscares.
O novo filme da Warner Bros. traz fogo, brutalidade e vingança e é um dos mais aguardados do ano, com esperanças de que ajude a dar a volta à situação de quebra generalizada nas receitas de bilheteira.
Furiosa é agora encarnada por Anya Taylor-Joy, com Chris Hemsworth a dar corpo a Dementus. As escolhas, disse George Miller, foram uma aposta arriscada que acabou por resultar, já que a atriz foi escolhida antes dos papéis que lhe deram o estrelato – “O Gambito da Rainha” e “A Noite Passada em Soho”.
“Havia algo muito convincente nela”, referiu Miller, frisando como o papel de Furiosa é difícil. “Podemos argumentar que os Mad Max são filmes de faroeste sobre rodas, e em muitos personagens clássicos o protagonista é lacónico”, indicou.
“Max quase não diz nada, Furiosa em Estrada da Fúria não diz quase nada. E nesta história, nem pode fazê-lo”, acrescentou.
Isso significa que o desempenho de Anya Taylor-Joy não pode fundamentar-se no diálogo, mas nas expressões faciais e na fisicalidade do papel. “Além disso, nesta terra árida, as palavras não significam muito. Interage-se pela ação, é um mundo in extremis”, descreveu Miller.
O papel de Chris Hemsworth é, de certa forma, oposto e o realizador contou como o ator acabou por dar um Dementus diferente do que tinha sido conceptualizado.
“Vi que o Chris é uma pessoa multidimensional, tanto como ser humano como na abordagem à representação”, disse o cineasta. Miller contou como a experiência pessoal de Hemsworth, cujos pais eram assistentes sociais que fizeram trabalho pioneiro com crianças vítimas de abusos, influenciou a sua interpretação. “Ele viu o trabalho que os pais fizeram e tem muita sabedoria sobre isso para alguém que é relativamente jovem. Isso refletiu-se no seu trabalho”, explicou.
Com críticas iniciais positivas que destacam a espetacularidade, “Furiosa” permitiu ao cineasta australiano usar ferramentas que não estavam disponíveis quando realizou os outros filmes Mad Max.
Mas Miller salientou que é sempre a história e não a tecnologia que comanda o filme – onde ninguém desafia as leis da física. “Não há humanos nem carros a voar. Tudo é real”, sublinhou.
Aquilo que o continua a atrair no cinema – sendo que George Miller se formou primeiro em medicina – é contar histórias em que as pessoas lidam com mundos extremos e onde há conflitos.
“O que acontece quando há conflitos nas histórias é que revelam a essência dos personagens e do mundo. É por isso que contar histórias continua a entusiasmar-me”, disse.
“Furiosa: Uma Saga Mad Max” tem argumento de George Miller e Nico Lathouris. O elenco conta ainda com Tom Burke, Lachy Hulme, John Howard e Jacob Tomuri.
Este é o quinto filme Mad Max, cuja saga começou em 1979. Todos foram escritos e realizados por George Miller.
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Lusa/Fim