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Opinião: «Cápsula Endoscópica: uma revolução no diagnóstico do tubo digestivo», Bruno Rosa, médico Gastroenterologista

Artigo de opinião de Bruno Rosa, médico Gastroenterologista do Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães

15 Janeiro 2025
Bruno Rosa, médico Gastroenterologista do Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães

Nos últimos anos, a cápsula endoscópica emergiu como uma ferramenta inovadora na prática clínica, oferecendo uma abordagem não invasiva, segura e confortável para o diagnóstico de patologias do tubo digestivo, com especial foco no intestino delgado. Este segmento do sistema digestivo, localizado entre o estômago e o cólon, pode ser um território de difícil acesso pelos métodos convencionais de endoscopia alta e colonoscopia.

Breve História e Evolução

A cápsula endoscópica foi desenvolvida no início dos anos 2000, fruto da colaboração entre o Gastroenterologista Inglês Dr. Paul Swain e o Engenheiro Israelita Gavriel Iddan. Desde a sua introdução, esta tecnologia revolucionou a área da Gastroenterologia ao possibilitar a visualização direta de regiões do intestino delgado, anteriormente inatingíveis.
Inicialmente concebida para o estudo do intestino delgado, a cápsula endoscópica evoluiu significativamente. Em 2006, surgiram cápsulas com dupla câmara, permitindo a avaliação do cólon e reto. Mais recentemente, as cápsulas robóticas telecomandadas possibilitaram a análise não invasiva do estômago, ampliando ainda mais o seu âmbito de utilização.

Como Funciona?

A cápsula endoscópica é um dispositivo compacto, comparável em tamanho a um comprimido grande. Contém uma bateria, uma fonte de luz e uma ou duas câmaras que captam imagens do interior do tubo digestivo. Após ser ingerida pelo doente, as imagens são transmitidas para um gravador portátil colocado na cintura do doente. O exame é indolor e permite ao doente manter as suas atividades normais, com algumas restrições, como evitar movimentos bruscos ou contacto com água para não comprometer a transmissão de dados.

Após o exame, o gravador é devolvido ao hospital, onde as imagens são analisadas por um Médico Gastroenterologista para identificar possíveis anomalias. A cápsula é eliminada naturalmente nas fezes, sem necessidade de recuperação.

Principais Indicações

A cápsula endoscópica é amplamente utilizada no diagnóstico de:

● Anemia ferropénica ou hemorragia gastrointestinal de causa indeterminada: Deteção de lesões no intestino delgado responsáveis por perdas de sangue ocultas.
● Doença inflamatória intestinal (Doença de Crohn): Avaliação da extensão e gravidade das lesões inflamatórias.
● Doença celíaca: Identificação de complicações associadas.
● Síndromes genéticos: Investigação de pólipos ou outras alterações no intestino delgado.
● Lesões suspeitas em exames de imagem: como meio complementar de apoio ao diagnóstico de achados da ressonância magnética (RMN) ou tomografia computorizada (Tc).

Benefícios e Limitações

A cápsula endoscópica oferece inúmeras vantagens, destacando-se a capacidade de
diagnosticar lesões no intestino delgado de forma não invasiva. É particularmente útil em casos de difícil acesso por outros métodos. Contudo, possui algumas limitações, como a impossibilidade de realizar biópsias ou intervenções terapêuticas durante o exame. Caso sejam identificadas lesões que exijam remoção ou tratamento, o doente terá de ser submetido a uma colonoscopia ou a outro procedimento endoscópico adequado.

Outros desafios incluem:

● Retenção da cápsula: O risco, embora raro (menos de 1%), ocorre principalmente em doentes com estreitamentos intestinais, como em formas graves de Doença de Crohn, pós-cirurgias abdominais ou radioterapia.
● Preparação intestinal: é necessária para garantir a qualidade das imagens. Embora para a observação do intestino delgado a preparação necessária seja menos exigente do que na colonoscopia, requer cuidados prévios, como suspensão de certos medicamentos (ferro ou anti-inflamatórios não esteróides). No caso da cápsula do cólon, a preparação intestinal exigida antes de o doente engolir a cápsula é semelhante à da colonoscopia.
● Acessibilidade e custo: A cápsula de dupla câmara para visualização do cólon ainda não está amplamente disponível e apresenta custos elevados, limitando o seu uso como exame de rastreio de patologias mais comuns, como o cancro colorretal.

Perspetivas Futuras

A cápsula endoscópica é o exame de eleição para a investigação das patologias do intestino delgado. No respeitante ao cólon, embora a cápsula endoscópica seja, atualmente, mais utilizada como complemento diagnóstico, especialmente em casos de difícil acesso por métodos tradicionais, existe interesse crescente na sua aplicação como ferramenta de rastreio. No entanto, barreiras como custo, logística e limitações tecnológicas ainda restringem a sua utilização generalizada.
Nos casos específicos de doentes frágeis ou com contraindicações para exames invasivos, a cápsula surge como uma alternativa viável e eficaz.

Conclusão
A cápsula endoscópica representa um marco na Gastroenterologia, revolucionando a forma como avaliamos o tubo digestivo. Apesar das suas limitações, é hoje um método essencial para o diagnóstico de patologias do intestino delgado e um exemplo notável de como a tecnologia pode melhorar a prática clínica e a experiência do doente

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