O consumo de cannabis está associado ao dobro do risco de morte por doença cardiovascular, bem como a um aumento significativo da probabilidade de sofrer AVC ou síndrome coronária aguda. A conclusão é de uma meta-análise publicada a 17 de junho de 2025 na revista científica Heart.
O estudo, intitulado “Cardiovascular risk associated with the use of cannabis and cannabinoids: a systematic review and meta-analysis”, foi conduzido por investigadores europeus e americanos, incluindo Wilhelm Storck, Meyer Elbaz, Cécile Vindis, Amélia Déguilhem, Maryse Lapeyre-Mestre e Emilie Jouanjus. A análise agregou dados de cerca de 200 milhões de pessoas, a partir de 24 estudos observacionais publicados entre 2016 e 2023.
29% mais risco de enfarte, 20% mais risco de AVC
De acordo com os investigadores, os consumidores de cannabis apresentaram um risco 29% superior de síndrome coronária aguda, um aumento de 20% no risco de AVC e o dobro da probabilidade de morrer por doença cardiovascular, em comparação com não consumidores.
A maioria dos participantes dos estudos tinha entre 19 e 59 anos. Quando reportado, verificou-se que os utilizadores eram maioritariamente homens e mais jovens do que os não utilizadores.
Os autores reconhecem limitações nos estudos incluídos, como o risco de viés moderado a elevado, sobretudo devido a medições imprecisas da exposição à cannabis e dados em falta. No entanto, salientam que esta é uma das análises mais abrangentes feitas até hoje sobre a relação entre o consumo de canabinóides e doenças cardiovasculares, com base em dados reais.
Numa análise publicada na mesma edição da Heart, Stanton Glantz, professor emérito da Universidade da Califórnia em São Francisco, e Lynn Silver, do Public Health Institute, defendem que a cannabis deve ser tratada como o tabaco: não criminalizada, mas ativamente desencorajada, com medidas para proteger terceiros da exposição passiva ao vapor.
Os especialistas destacam ainda a necessidade de aprofundar a investigação sobre as diferentes formas de consumo, como concentrados inalados, comestíveis ou canabinóides sintéticos, e de perceber que proporção do risco é atribuível aos próprios canabinóides, em comparação com outras substâncias presentes no fumo ou vapor.
“A regulação atual da cannabis foca-se demasiado na criação de um mercado legal e negligencia seriamente os riscos para a saúde”, escrevem Glantz e Silver, pedindo a inclusão explícita do consumo de cannabis nas estratégias de prevenção de doenças cardiovasculares.