Os avanços da ciência têm permitido melhorar o diagnóstico precoce e retardar o avanço de doenças como Alzheimer e Parkinson, mas a possibilidade de reverter danos já instalados parecia, até agora, um cenário distante. Isso poderá mudar.
Segundo dados publicados na revista científica Science Signaling e divulgados pelo ScienceDaily, uma equipa de investigadores testou com sucesso, em ratinhos, um composto chamado MLi-2, com a capacidade de travar e reverter os efeitos provocados pela enzima LRRK2, associada a cerca de 25% dos casos de Parkinson.
O fármaco foi administrado durante três meses a animais modificados geneticamente para produzir níveis elevados dessa enzima. O resultado foi surpreendente: não só o avanço da doença foi interrompido, como as áreas já afetadas do cérebro mostraram sinais de regeneração celular.
“Estes resultados sugerem que poderá ser possível melhorar, e não apenas estabilizar, a condição dos doentes com Parkinson”, afirmou Suzanne Pfeffer, professora de Ciências Médicas em Stanford e coautora do estudo.
O segredo está na forma como o medicamento atua. A LRRK2 é uma enzima que, quando sobreproduzida, destrói os cílios primários, que são estruturas microscópicas que permitem às células cerebrais comunicar entre si. A perda dessa “antena” provoca falhas de sinal e impede que os neurónios libertem proteínas protetoras, acelerando a sua morte. O MLi-2 bloqueia esta cadeia de acontecimentos e mostrou ainda conseguir restaurar os próprios cílios danificados, devolvendo à célula a sua função.
Um dos sinais mais alarmantes da doença de Parkinson é a perda progressiva de dopamina, que afeta o controlo motor. No entanto, os danos neurológicos podem começar a desenvolver-se até 15 anos antes do aparecimento dos tremores característicos. Este fármaco poderá, assim, oferecer uma janela de intervenção alargada, com impacto na prevenção e até na regeneração.
Embora os testes ainda estejam numa fase pré-clínica, os cientistas acreditam que os ensaios em humanos, já iniciados com outros inibidores de LRRK2, poderão confirmar o potencial regenerativo da molécula.
“Estamos muito entusiasmados”, sublinhou Pfeffer. “Esperamos que o que vimos nos ratinhos possa vir a acontecer em pacientes no futuro.”
Se os próximos passos forem bem-sucedidos, este tratamento poderá marcar uma viragem histórica na forma como a medicina encara doenças neurodegenerativas, passando da contenção para a reversão dos danos cerebrais.