Cientistas chineses conseguiram transplantar células cerebrais humanas para ratos de laboratório, num avanço que poderá abrir caminho a novas terapias para distúrbios neuropsiquiátricos, como a depressão resistente ao tratamento. O estudo foi publicado na semana passada na revista científica Cell Stem Cell e noticiado pelo South China Morning Post.
Segundo os investigadores, quando implantadas em ratos com uma condição semelhante à depressão, as células neuronais desenvolvidas ajudaram a aliviar sintomas como ansiedade e resignação, ao mesmo tempo que reforçaram a capacidade de desfrutar de experiências gratificantes.
“Este trabalho demonstra que a terapia celular pode ser utilizada para reconstruir circuitos neurais disfuncionais em distúrbios psiquiátricos”, explicam os autores do estudo.
Um passo contra a anedonia
A depressão maior é uma das principais causas de incapacidade a nível mundial, afetando centenas de milhões de pessoas. Em alguns casos, os pacientes desenvolvem formas resistentes aos tratamentos convencionais, frequentemente acompanhadas por anedonia — a incapacidade de sentir prazer em atividades que antes eram fonte de satisfação.
Mesmo quando outros sintomas da depressão melhoram, a anedonia pode persistir, limitando seriamente a qualidade de vida dos doentes.
O papel da dopamina
Os neurónios dopaminérgicos — responsáveis pela produção de dopamina, um neurotransmissor essencial para a motivação, recompensa e movimento — desempenham um papel central neste processo. A redução da atividade dopaminérgica está associada a estados depressivos.
No mesencéfalo, local onde se situam estes neurónios, distinguem-se três subtipos principais: A8, A9 e A10. O estudo sugere que a manipulação destes circuitos poderá, no futuro, contribuir para tratamentos mais eficazes contra distúrbios ligados ao humor.
Terapias do futuro?
Embora a investigação esteja ainda numa fase inicial e tenha sido testada apenas em ratos, os resultados reforçam a possibilidade de desenvolver terapias celulares capazes de reparar circuitos neuronais danificados ou disfuncionais no cérebro humano.
Se comprovada em ensaios clínicos futuros, esta técnica poderá oferecer uma esperança real a milhões de pessoas que não respondem às terapias atuais para a depressão.










