O primeiro-ministro português deu entrada no Hospital de Santa Maria pelas 13h00, no passado dia 28 de março tendo sido encaminhado para a cardiologia. A informação foi avançada à Lusa pelo presidente do Conselho de Administração da ULS de Santa Maria, Carlos Martins: «sensivelmente às 13h00, o primeiro-ministro deu entrada no hospital e, em função da sintomatologia, foi dirigido à cardiologia onde está ainda internado. Mas o prognóstico é favorável e espera-se que tenha alta nas próximas horas».
Luís Montenegro viria a deixar o hospital, depois de ter passado algumas horas internado. «Foi um episódio de uma arritmia cardíaca que me aflige muito de quando em vez», explicou aos jornalistas quando deixava a unidade hospitalar.
Mas o que são arritmias cardíacas?
«As arritmias cardíacas são alterações do ritmo normal do coração, que podem levar o órgão a bater muito rápido, muito lentamente ou de forma irregular», começa por explicar, João Lopes Gomes, presidente da Delegação Norte da Fundação Portuguesa de Cardiologia, acrescentado que estas «alterações do ritmo cardíaco, ocorrem quando os impulsos elétricos do coração que coordenam os batimentos cardíacos não são emitidos de forma adequada».
Questionado sobre qual a arritmia cardíaca mais frequente, o especialista prontamente responde, «a fibrilação auricular, cuja prevalência aumenta com a idade, sendo mais comum em indivíduos com mais de 60 anos, dada a presença de doença cardíaca e de outros problemas de saúde que se podem associar às arritmias». Esta é «caraterizada pela forma absolutamente anárquica como bate o coração, daí ser chamada de arritmia completa, por não ser possível sistematizá-la. O ritmo é, por isso, normalmente acelerado e a contração cardíaca é ineficaz», esclarece João Lopes Gomes.
Sobre os sinais de alerta a que devemos estar atentos, o especialista refere que a fibrilação auricular «pode ser assintomática ou, muitas vezes, apresentar sintomas ligeiros, como palpitações, fadiga, tontura ou falta de ar. Se conseguir palpar o pulso este é completamente irregular, acelerado ou, por vezes, lento, podemos estar na presença de uma arritmia».
Relativamente aos fatores de risco, o presidente da Delegação Norte da Fundação Portuguesa de Cardiologia, avança que os principais são «comuns aos das doenças cardíacas em geral, como a idade, a hipertensão arterial, a diabetes, as doenças valvulares cardíacas, a insuficiência cardíaca, o sedentarismo, o tabagismo, o alcoolismo e uma alimentação inadequada».
A prevenção passa por manter um estilo de vida saudável, evitando os fatores de risco de doença cardíaca. «Manter o coração saudável, através de uma dieta equilibrada, praticar exercício físico regularmente, controlar a pressão arterial e o colesterol, não fumar e reduzir o consumo de álcool», são os principais alicerces de prevenção desta condição.
De acordo com João Lopes Gomes, «podemos suspeitar da doença pelos sintomas, mas a confirmação é feita pelo registo do eletrocardiograma», sublinhando que, contudo, «a fibrilação auricular pode não ser constante, ser paroxística, aparecer e desaparecer. Nesse caso, se a suspeita for forte, tem de se recorrer ao registo contínuo do ECG durante dias».
No que diz respeito ao tratamento, este inclui o controlo da coagulação do sangue para evitar a formação de coágulos nas aurículas, de modo a evitar os Acidentes Vasculares Cerebrais. «Há ainda medicamentos que ajudam a controlar o ritmo e a frequência das arritmias. Em alguns casos, pode-se recorrer ao tratamento por cateterismo (ablação da fibrilação auricular por cateter)», refere o cardiologista.
Programas de rastreio gratuito
O especialista ouvido pela Forver Young, esclarece que o objetivo dos programas de rastreio como o “Ritmo Anárquico”, promovido pela Delegação Norte da Fundação Portuguesa de Cardiologia e um conjunto de parceiros «é, em primeiro lugar, sem acarretar custos para os aderentes, sensibilizar as pessoas para a doença».
«Depois e, muito importante, conseguirmos identificar os doentes com fibrilação auricular, identificar os doentes com indicação para monitorização prolongada, avaliar as terapêuticas instituídas, particularmente a hipocoagulação, identificar os doentes com indicação para ablação da fibrilação auricular e aumentar a literacia em saúde», conclui João Lopes Gomes.