“A insuficiência cardíaca vai ser uma das principais patologias, se não a principal patologia em Portugal”, até ao final desta década, alertou o presidente da associação, Luís Filipe Pereira, que falava à agência Lusa a propósito do congresso anual da Associação de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Europeia de Cardiologia, que decorre de 11 a 14 de maio em Lisboa.
Um estudo recente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, em parceria com a NOVA Medical School, refere que um em cada seis portugueses com mais de 50 anos tem insuficiência cardíaca, um número que quase duplicou face às estimativas de há duas décadas, e cerca de 90% nem sequer sabe que tem essa doença.
O presidente da associação realçou que a insuficiência cardíaca “é uma doença grave, crónica, que não tem cura mas, se for detetada a tempo”, pode dar uma maior longevidade e melhorar a qualidade de vida dos doentes.
Apesar de atingir mais de 7% da população portuguesa e cerca de 15 milhões de pessoas na Europa, a insuficiência cardíaca é “uma doença quase desconhecida do grande público”, havendo por isso “todo um papel a desempenhar no sentido de alargar o conhecimento” da população sobre esta doença, “que tem uma mortalidade elevada, que mata mais do que alguns cancros comuns”.
“Considerando-se que 80% dos casos estão em pessoas com 65 ou mais anos e dado que Portugal está a envelhecer – atualmente é o quarto país mais envelhecido do mundo – isto torna-se, de facto, uma situação muito preocupante”, realçou Luís Filipe Pereira, que foi ministro da Saúde entre 2002 e 2005.
Para detetar precocemente a doença, defendeu a necessidade do Estado comparticipar uma análise específica (BNP/NT-proBNP), que está recomendada há mais de 10 anos pelas ‘guidelines’ da Sociedade Europeia de Cardiologia.
Um estudo divulgado pela associação indica que a prescrição desta análise pode gerar até três milhões de euros de poupança para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) caso possa ser disponibilizado aos cuidados de saúde primários.
Esta falta de financiamento foi apontada no Consenso Estratégico para a Insuficiência Cardíaca em Portugal como uma das maiores falhas no que respeita aos cuidados relativos a esta doença em Portugal.
Para Luís Filipe Pereira, a análise não ser comparticipada pelo Estado “é um contrassenso”, porque iria gerar “enormes poupanças em termos de custos”, mas sobretudo iria melhorar a longevidade e a qualidade de vida dos doentes que geralmente descobrem que têm a doença quando vão “parar à urgência do hospital”.
A associação já falou com o Governo anterior e está a falar com o atual para que esta análise seja comparticipada e possa estar disponível para os médicos de família a poderem prescrever de “uma maneira regular”.
Observou ainda que apesar da insuficiência cardíaca “ser claramente reconhecidamente uma doença crónica (…) estranhamente não é oficialmente reconhecida como tal”, o que impede os doentes de beneficiarem de uma maior comparticipação nos medicamentos para a doença.
A insuficiência cardíaca é a terceira causa mais comum de hospitalização em Portugal, sendo que uma em cada cinco pessoas internadas é readmitida por agravamento da doença, o que equivale a um custo de cerca de 27 milhões de euros por ano ao SNS.
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Lusa/fim