Mas há um detalhe muito mais terreno — e surpreendentemente desagradável — que os astronautas não se esquecem: o cheiro do espaço. Sim, o espaço tem cheiro. E, segundo vários astronautas, é horrível.
Embora seja impossível sentir cheiros no vácuo, pois não há oxigénio para transportar partículas odoríferas, a história muda completamente dentro da Estação Espacial Internacional (ISS). E, de acordo com quem já lá esteve, o aroma que se sente é tudo menos agradável.
Durante missões que podem durar até nove meses, a ISS torna-se o lar temporário de equipas internacionais. Apesar do ambiente altamente tecnológico, um dos tópicos mais frequentemente referidos pelos astronautas — quase como uma piada recorrente — é o cheiro persistente no interior da estação.
O bioquímico Steve Pearce foi contratado pela NASA para tentar recriar o cheiro do espaço com base em entrevistas e relatos de astronautas. O resultado da sua investigação? Uma combinação pouco apetecível: metal quente, carne queimada, bolos queimados, pólvora usada e o odor característico de soldadura.
Uma espécie de mistura entre uma oficina industrial e um churrasco que correu mal. A estrutura predominantemente metálica da estação e a falta de ventilação contribuem para a persistência deste cheiro, que não tem para onde escapar.
Embora a maioria considere o cheiro desagradável, houve quem o visse com alguma nostalgia. Don Pettit, antigo astronauta da NASA, descreveu a sua experiência olfativa na ISS com alguma ternura:
“A melhor descrição que consigo dar é metálico; uma sensação doce e metálica bastante agradável. Fez-me lembrar os meus verões de faculdade, em que passava horas a soldar equipamento pesado para uma empresa madeireira. Lembrou-me dos vapores doces da soldadura. Esse é o cheiro do espaço.”
Mas nem todos partilham da mesma opinião romântica — e estar rodeado de um odor metálico durante meses não será o sonho de muitos.
Se acha que cheiro a metal é mau, espere até conhecer este episódio hilariante (ou trágico, dependendo da perspetiva): durante a missão Apollo 10, os astronautas foram surpreendidos por um cheiro inusitado a… fezes flutuantes. Sim, um “presente” mal contido que desafiou a gravidade e o nariz dos colegas a bordo.
Explorar o espaço continua a ser uma das maiores conquistas da humanidade — mas convém lembrar que nem tudo são estrelas cintilantes e vistas de cortar a respiração. No interior da ISS, o dia a dia inclui cheiros metálicos, ar reciclado e, por vezes, surpresas menos… cósmicas.