Seguramente não é por chegar aos 50 anos que tem de se tornar num exímio apreciador do mais puro whisky de malte, mas há quem diga que é a partir desta idade que as pessoas começam a retirar maior prazer de algumas das chamadas bebidas espirituosas. Neste cardápio de verdadeiras delícias da destilaria figuram não apenas o whisky, mas também outras bebidas, como os mais variados licores, a vodka, o rum, aguardentes várias, o anis, o gin e a tequila, entre outras.
Mas qual a razão para se chamarem bebidas espirituosas? Não é porque tenham mais sentido de humor do que as outras, mas porque resultam de um processo de destilação do álcool em que é libertado vapor. Desde sempre o vapor esteve associado à ideia de espírito, pelo que se convencionou chamar assim a este tipo de bebidas. Os antigos diziam também que viviam espíritos nas garrafas destas iguarias, ou que o seu consumo aguçava o espírito de quem as bebia, mas a explicação é, afinal, muito mais mundana.
A receita base da maioria das bebidas espirituosas assenta na mistura apropriada de dois ingredientes: a água e alguns cereais. Combinados estes ingredientes, procede-se à fermentação e, por fim, à destilação, que consiste na separação dos componentes de um líquido através do calor.
A destilação é um processo que permite também obter gasolina a partir do petróleo ou perfume das plantas, mas é no âmbito das bebidas alcoólicas que o termo é mais frequentemente referido.
Em suma, uma bebida espirituosa é o resultado da destilação de fermentados naturais, grãos, frutas, nozes e outras matérias agrícolas. Muitas vezes, nomeadamente no que diz respeito a licores, é adicionado açúcar a estas bebidas, o que as torna saborosas e facilita a ingestão de variantes com elevado volume de álcool.
Nas próximas páginas damos a conhecer algumas das mais apreciadas bebidas espirituosas do mundo, bem como as curiosidades e tradições que lhes estão associadas.
Vodka
Com origem na Rússia, a vodka é uma das bebidas espirituosas com mais história. Em russo, a palavra “vodka” refere o diminutivo de água, ou seja, “aguinha”, e se isto é irónico quando observamos a quantidade de álcool envolvido nesta bebida, não deixa também de ser verdade que o seu aspeto incolor faz, de facto, lembrar água.
Esta ausência de cor está relacionada com o elevado grau de pureza do álcool na vodka – a composição ideal para esta bebida deve ser de nada menos do que 40% de teor alcoólico.
A vodka é um destilado que se faz a partir do arroz e de outros produtos agrícolas mais abundantes na Rússia, como cevada, trigo, milho, centeio, figo e batata fermentados. O processo de fabrico é semelhante ao do whisky, mas enquanto este último é destilado a temperaturas baixas, a vodka resulta de destilação a temperaturas muito elevadas, a que se segue uma filtragem para neutralizar os aromas dos cereais.
A vodka é consumida um pouco por todo o mundo, mas com maior incidência nos países mais frios da Europa, como Rússia, Bielorrússia, Polónia e Ucrânia.
Whisky
Apreciado por uns, odiado por outros, o whisky é rei entre as bebidas espirituosas e desperta paixões entre os verdadeiros conhecedores. A sua produção tem por base a destilação de cereais fermentados e encontra a sua origem nas tradições introduzidas na Escócia por São Patrício da Irlanda no século IV a.C. A destilação era feita por indígenas nas Terras Altas, segundo os relatos existentes, mas muita da informação sobre a origem do whisky é vaga.
É uma bebida altamente regulamentada, com denominações de origem e várias classes. 60% do sabor provém do envelhecimento no barril, razão pela qual a maioria das classificações se baseia na queima e no tipo de madeira utilizado.
O whisky escocês pode ser puro malte ou blended. O puro malte é aquele que resulta de cereais maltados de uma única destilação, sendo que o sabor pode variar consoante o processo utilizado. Este tipo de whisky pode ser engarrafado como single malt, se for proveniente de uma só destilaria, ou vatted, se se tratar da mistura de whiskies produzidos em várias destilarias.
O whisky blended, ao contrário do puro malte, é feito de uma mistura de várias destilações, com o objetivo de chegar a um determinado sabor. Não existem variações dependentes do processo de destilação e é, normalmente, um whisky mais barato.
Gin
O gin é, desde sempre, uma bebida com muitos apreciadores, mas tem vindo a ganhar popularidade nos últimos anos também entre os consumidores mais jovens.
Esta bebida espirituosa é um caso particular porque se trata de um destilado retificado, ou seja, é sujeita a um processo de infusão com zimbro e outras especiarias, já depois de concluído o processo de destilação. O fabrico do gin pode implicar ingredientes como canela, cascas de frutas cítricas, sementes de coentro, pimenta- -da-jamaica e farinha de amêndoa, entre outros.
Esta bebida espirituosa tem um teor alcoólico que pode ir dos 37,5 aos 50%, o que a equipara à vodka ou à cachaça, por exemplo. É originária da Holanda, no século XVII, mas foi em Inglaterra que adquiriu a forma que lhe conhecemos hoje.
Existem vários tipos de gin, sendo o mais conhecido o London Dry, que recebe a infusão de vários ingredientes, sendo o zimbro obrigatório por lei. Outros tipos são o Old Tom, o Plymouth e o Sloe (gins ingleses), o Genebra (fabricado na Holanda) e o Steinhager (versão alemã do Genebra).
Tequila
Originária do México, a tequila é uma bebida que nasceu na cidade que lhe dá o nome, situada no estado mexicano de Jalisto, relativamente perto de Guadalajara. Resulta da destilação da agave-azul, uma planta abundante na região, muito importante para a economia, e que prospera em grandes altitudes e solos arenosos.
As leis mexicanas ditam que a tequila seja produzida apenas no estado de Jalisto e em regiões limitadas de Guanajuato, Michoacán, Nayarit e Tamaulipas. Normalmente, a tequila tem um teor alcoólico, que varia entre 38 e 40%, mas pode ser feita fora deste intervalo, com mais ou menos álcool.
Tal como acontece com o whisky, a tequila apresenta diferente cor e sabor consoante o tempo de envelhecimento em barril. Os tipos de tequila referem o tempo de maturação, sendo a branca a mais nova, engarrafada logo após a destilação ou até dois meses depois, repousando em barris de aço inoxidável ou carvalho neutro. A tequila extra velha tem mais de três anos de maturação.
Licor de anis
O anis é uma planta com propriedades medicinais, conhecida pela sua eficácia no tratamento dos sintomas de doenças estomacais. É também a base para o conhecido licor de anis, muito popular na Europa e de uma forma particular em França, onde algumas pessoas o utilizam como substituto do açúcar para adoçar o café. Segundo registos históricos sobre esta bebida, foi precisamente para essa utilização que ela nasceu, e assim era consumida pelos povos eslavos.
O licor de anis é uma bebida que se obtém a partir da infusão da planta do anis com aguardente numa garrafa, em que é igualmente introduzido um ramo da planta. Dado que é depois adicionada uma quantidade excessiva de açúcar, este não consegue dissolver-se na totalidade, o que faz com que cristalize no ramo de anis, resultando no efeito “nevado” que vulgarmente se observa no interior das garrafas de licor de anis.