Com prefácio da escritora Rita Ferro, a antiga publicitária conta, através de histórias para ler, rir e chorar, como o seu pai quis “curar” a sua euforia com chá de camomila e que escovar os dentes deprimida é mais difícil do que fazer rapel.
Bia fala de maternidade (sur)real, de relacionamentos e como perdeu 30 quilos encarando de frente a compulsão alimentar. Finalmente, explica como descobriu que a bipolaridade não a define e que ela pode ser, sim, muito louca. Mas só quando quiser. “As pessoas não contam que têm diabetes? Por que não posso contar que sou bipolar?”, questiona no livro para desmistifcar uma condição de saúde séria, mas que tem tratamento. Aconselhada a esconder a sua condição, fez o inverso percorrendo o caminho da autoaceitação e da consciencialização. “Fui aconselhada a encobrir, como se fosse vergonha, alegando que iria chocar as pessoas e gerar preconceito. Estavam totalmente certos. O problema é que não consigo viver meias-verdades. A minha maior qualidade – e defeito – é a sinceridade. Precisava tanto digerir a questão, que contava para todo mundo. No autocarro: É aqui que passa o 304? Sabia que eu sou bipolar? Na manicure: Quero uma unha de cada cor. É que eu sou bipolar”. Falei para amigos e inimigos.”
Recomendado pelo prestigiado psiquiatra brasileiro Beny Lafer, referência internacional e uma das maiores autoridades sobre o transtorno bipolar, o livro trata de temas delicados com muita leveza e reforça que um diagnóstico não deveria definir a vida de ninguém. Bia começou a ter ataques de pânico e momentos de depressão na adolescência. Contou aos pais e começou a ser seguida: “Tinha uma sensação que ninguém sabia o que era aquilo, ninguém me entendia, mas o meu pai não queria uma filha no psiquiatra, apesar dos psicólogos recomendarem”, conta. Assim, foi tendo episódios de depressão ao longo da vida, que não faziam sentido para quem a conhecesse. “Era alegre, extrovertida, engraçada.”
O tal contraste, entre tristeza profunda e euforia intensa, é exatamente o que representa o transtorno bipolar, doença com que Bia foi diagnosticada apenas aos 31 anos. “É fácil procurar ajuda quando se sofre, mas complicado nos momentos de mania. Aí sentimos uma felicidade infinita. Somos capaz de tudo. Eu, por exemplo, tinha a certeza de que poderia atravessar qualquer rua, de olhos fechados, sem ser atropelada. Uma vez fui viajar com uma turma de 14 pessoas para Porto Seguro e passei uma semana sem dormir, andava sozinha à noite, superfeliz. Também já fiz isso durante um Carnaval em Salvador. Naquele momento, não via perigo. Achava que tinha superpoderes”.
A estabilidade veio no início de 2020, graças ao novo médico e à rotina regrada que estabeleceu para si mesma: medicação, terapia, exercício diário, sono de oito horas e diminuição de bebidas cafeinadas e alcoólicas. Hoje é mãe de um “moleque” genial de 10 anos; uma esposa chata, mas parceira; uma escritora que aprendeu a expor suas vulnerabilidades.
“O mais importante que a Bia consegue com este livro, logo recomendado por psiquiatras e psicólogos é ensinar-nos a rir dos nossos excessos e a desestigmatizar a bipolaridade, encarando-a não como um carrasco ou um embaraço, mas como um traço de carácter indissociável da nossa personalidade e dos nossos talentos – aqui entre nós: de que forma se ressentiria a obra de Fernando Pessoa sem alguns dos seus transtornos?”, escreve Rita Ferro.
Bia Garbato nasceu no Rio de Janeiro em 1981 e cresceu em São Paulo. É publicitária e escritora. Depois de ser diagnosticada bipolar, driblar a doença e suas depressões, se tornar mãe e perder 30 quilos, ela arranjou coragem para falar sobre as suas vulnerabilidades e hoje dedica-se à sua verdadeira paixão: a escrita. Com bom humor, Bia arranca sorrisos das coisas difíceis da vida. Além de autora do livro “Bipolar, Sim. Louca, só Quando eu Quero”, Bia escreveu igualmente um livro infantil e é colunista do site da rádio Jovem Pan (uma das rádios mais ouvidas no Brasil) e da revista Vero.