Existem alimentos com uma maior concentração em determinados nutrientes que recentemente começaram a ser apelidados de superalimentos, devido aos variados benefícios que trazem para a saúde. Embora não sejam, de forma nenhuma, substitutos de uma alimentação equilibrada, em termos gerais, e de um estilo de vida saudável, estes alimentos contêm, por norma, teores mais elevados de vitaminas, minerais, aminoácidos, ácidos gordos essenciais ou compostos com ação antioxidante, pelo que acabam por ser caracterizados como nutricionalmente mais ricos, e sendo-lhes, por essa razão, atribuída a capacidade de melhorar a saúde de quem os introduz na sua alimentação diária.
São exemplos destes superalimentos as sementes de chia ou as de linhaça, nas quais se destaca a composição em ácidos gordos insaturados, ou bagas como açaí e goji, cujo potencial antioxidante é reconhecido. Mas serão estes alimentos, por si só, capazes de melhorar a saúde de quem os consome?
Para esclarecer algumas dúvidas em termos de superalimentos, o À Roda da Alimentação, um projeto fruto de uma parceria entre o Continente e a Catarina Furtado, falou com o médico de família João Ramos.
1. No meio de tanta desinformação, o que são exatamente superalimentos?
Vivemos num paradoxo, numa sociedade onde abunda informação e, ao mesmo tempo, iliteracia em saúde, desinformação e até contrainformação. “Superalimento” é um conceito recente, pouco consensual entre os profissionais de nutrição, que pode induzir os consumidores em erro. Para mim, não existem superalimentos. Existem, sim, alimentos ricos em diferentes fitonutrientes, o que os torna especialmente completos e nutritivos.
2. Estes produtos já existem há décadas. Como explica a atenção que recebem agora?
Cresci a comer banana e abacate e a beber leite de vaca, três bons exemplos de alimentos completos, e com inúmeros nutrientes essenciais, que só agora são vistos como tal. Na saúde e nutrição também se vive de modas. Isso faz parte da evolução do conhecimento. Só isso.
3. Quais os superalimentos mais importantes para o organismo?
Para mim não existem superalimentos e penso que o conceito cairá em desuso. Mas a existir, será um alimento imprescindível e insubstituível, sem o qual morreríamos; e só existe um – a água.
4. Qualquer pessoa pode incluir os alegados superalimentos na sua dieta?
Até prova em contrário, todas as pessoas beneficiam com o consumo frequente destes alimentos, sempre dentro do bom senso e da variabilidade alimentar. O perigo será sempre o excesso, não só dos considerados “alimentos da moda”, mas também de todos os outros. Há uma frase do pai de um amigo que acho genial: “Não há drogas nem venenos, há doses!” Portanto, quer sejam frutos secos, leguminosas, sementes ou brócolos, o excesso é que faz mal.
5. Em termos de nutrientes, quais são as maiores carências alimentares dos portugueses?
Os estudos dizem que, apesar da nossa roda alimentar ser bastante fácil de entender e de aplicar à dieta mediterrânica, em Portugal existe carência e falta de cultura no consumo regular de fruta e legumes, e excesso de proteína animal e gorduras saturadas, açúcar e sal. Isto explica as dislipidémias (anomalias de gorduras no sangue), doenças metabólicas e cardiovasculares no mundo dito civilizado.