No dia 26 de março, celebra-se o Dia do Livro Português. E há realmente muito para celebrar. Num país com quase mil anos de história, é natural olhar para trás. No entanto, por mais que uma sociedade seja, inegavelmente, resultado de todos os seus passados, o seu sucesso depende da maneira como o futuro está a ser construído.
Na História da Literatura Portuguesa, há vários caminhos. Existe o passado, com estradas literárias pavimentadas, ao longo de séculos, pelos versos exaltantes de Camões e pelas prosas mais ligadas ao fantástico de Saramago. Existe o presente, formado pela prosa inquietante de Dulce Maria Cardoso e pelas inovações linguísticas de António Lobo Antunes. Mas, acima de tudo, há o futuro.
E a literatura portuguesa parece – e ainda bem – mais promissora no futuro do que em qualquer outro momento da sua História. Primeiro, porque há mais leitores. De acordo com a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), 2023 encerrou com 13,1 milhões de livros vendidos em Portugal, um aumento impressionante de 7% em relação ao ano anterior. Segundo, porque esse crescimento deve-se principalmente às camadas mais jovens da população: leitores com idades entre 15 e 34 anos são responsáveis por quase 30% do total de vendas em Portugal. E, finalmente, pelo papel da tecnologia em conectar essa crescente procura de leitores com novos autores.
A autopublicação de livros, uma realidade já consolidada em Portugal, permite que escritores publiquem as suas obras no formato desejado – impresso ou digital – sem custos, contando ainda com uma rede de impressão sob demanda e distribuição global, capaz de levar as suas obras aos quatro cantos do planeta. Se a literatura independente é uma realidade em todo o mundo – cerca de 75% dos 4 milhões de livros publicados a cada ano são autopublicados – o seu impacto é incomparavelmente grande num país como Portugal, berço do nono idioma mais falado no mundo, mas com uma população própria de cerca de 10 milhões de habitantes.
Essa tecnologia, portanto, permite, pela primeira vez na História, que novos escritores portugueses ultrapassem as fronteiras populacionais do país e alcancem, com as suas histórias, os mais de 250 milhões de cidadãos lusófonos espalhados pelo mundo. É um potencial de alcance inimaginável em toda a história da literatura portuguesa. Mas, sendo escritores independentes, sem uma audiência já formada, como podem alcançar sucesso efetivo além-fronteiras? A resposta é simples: pela outra face da mesma tecnologia que os tem ajudado a publicar.
As procuras literárias de hoje, afinal, já não são formadas por listas de best-sellers; as procuras são construídas com o dinamismo das ultrademocráticas redes sociais. No Tiktok, por exemplo, a #Booktok concentra recomendações de livros feitas pelos próprios utilizadores. A força dessa teia de influência literária é tão poderosa que 48% dos usuários da rede afirmam ter começado a ler mais livros depois de entrar nela. Segundo a Wordsrated, inclusive, 3% do total de vendas de livros no mundo resultam diretamente de recomendações veiculadas pelo Tiktok.
Ao contrário daquilo que acontecia no passado, as opiniões de hoje – incluindo as recomendações literárias – são partilhadas por todos, criando uma teia diversificada e ampla, capaz de construir, assim, uma plataforma de oportunidades para os novos escritores portugueses.
Assim sendo, tendo em conta o panorama atual, percebemos que há muito para celebrar. Principalmente quando olhamos para esse futuro promissor que temos pela frente.