A primeira fase do projeto, que uniu estudantes da Escola Superior de Ciências Sociais (ESECS) do Politécnico de Leiria, da Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria, e um grupo de 22 jovens do Estabelecimento Prisional de Leiria Jovens, chegou ao fim, mas o balanço superou as expectativas.
A mentora do projeto e docente na ESECS, Filipa Rodrigues, revelou à agência Lusa que esta iniciativa vai agora ser desenvolvida de forma voluntária com os estudantes internacionais e do programa 60+ do Politécnico de Leiria.
Os estudantes estrangeiros acabam por ter alguns sentimentos idênticos ao dos reclusos, por se encontrarem longe da família e das suas terras, constatou a professora, ao referir que o projeto mantém a colaboração com os jovens do secundário, agora de outra turma. Filipa Rodrigues espera que o projeto arranque no final do mês e termine em junho.
“Cá dentro, Lá fora/Lá dentro, Cá fora” foi um projeto-piloto que surgiu no âmbito do programa ‘Link me up – 1000 ideias’. Um grupo liderado pela docente da ESECS desenvolveu um projeto ligado a mulheres reclusas e, com todo o conhecimento adquirido, Filipa Rodrigues aventurou-se num novo desafio, agora com jovens reclusos.
“Os nossos objetivos eram sempre a questão da partilha, de estabelecer uma relação com alguém que está agora detido, mas que integrará a sociedade quando acabar de cumprir a pena”, explicou a docente.
Para a animadora educativa sociocultural Vera Piedade, este foi um projeto que motivou os jovens reclusos, que ansiavam pelo momento em que se juntavam para receber os diários e utilizá-los para deixar fluir as suas emoções.
“Havia necessidade de escrever e de passar para o papel as emoções e os desabafos. Há um diário que está muito engraçado, em que uma jovem escreveu um desabafo e quase todos queriam responder. Um dos nossos escreveu: ‘Lembra-te sempre que a vida é bela e ainda tens muito para viver’”, contou à Lusa Vera Piedade.
A animadora educativa sociocultural acrescentou que havia jovens “que vinham muito inquietos” e confessavam que “iam de outra forma para a cela”, depois de libertarem o que lhes ia na alma. “Ajudava a ficarem mais tranquilos”.
A guarda prisional Fátima Fachada acompanhou os reclusos durante os quatro meses que durou o projeto e constatou que os “problemas são comuns” a todos. “Não é por estarem privados de liberdade que não há tristeza e alegria, sentimentos que são inerentes à idade. Reparei que muitos jovens aqui sabem desenhar muito bem. Só precisam de uma orientação. Quando se quer, o bem vem ao de cima”.
No balanço do projeto com os reclusos, Miguel Gonçalves lançou o repto para que o projeto pudesse envolver agora idosos, que estivessem em lares da terceira idade. “São pessoas que se sentem descartadas e vão estar um pouco como nós à espera da visita, de um carinho”, revelou à Lusa o recluso.
Filipa Rodrigues afirmou que, nesta fase, não será possível envolver instituições particulares de solidariedade social, mas a correspondência intergerações vai concretizar-se com pessoas com mais de 60 anos, que integram os cursos do Politécnico de Leiria.