O rapper e magnata da música Sean “Diddy” Combs, de 55 anos, encontra-se a ser julgado em Nova Iorque, num processo federal que o acusa de tráfico sexual e extorsão. Embora tenha admitido atos de violência doméstica, Diddy declarou-se inocente das restantes acusações, algumas das quais enquadradas na lei norte-americana RICO, tradicionalmente usada em casos de crime organizado.
Ao longo de várias semanas de julgamento, os promotores apresentaram mais de 30 testemunhas, incluindo a cantora Cassandra Ventura (Cassie), ex-namorada do artista, e o rapper Kid Cudi. Cassie, atualmente grávida, descreveu com emoção os 11 anos de um relacionamento abusivo, nos quais era frequentemente espancada, coagida a participar em encontros sexuais com terceiros e filmada por Diddy.
As alegações são sustentadas por imagens de vídeo onde se vê Diddy a agredir Cassie num hotel, além de testemunhos de seguranças que confirmam tentativas do artista para encobrir os incidentes, incluindo o alegado suborno para apagar gravações.
Outra testemunha identificada apenas como “Jane” relatou experiências semelhantes, reforçando a acusação de que Diddy usava drogas, violência e manipulação emocional para manter mulheres sob controlo e forçá-las a práticas sexuais não consentidas.
Apesar da força dos testemunhos, a defesa poderá beneficiar da existência de mensagens carinhosas trocadas entre Diddy e as alegadas vítimas, o que, segundo peritos, pode confundir o júri e enfraquecer a consistência do caso.
Além disso, os promotores perderam uma das alegadas vítimas que deveria testemunhar — um golpe potencial para a acusação, que dependia da força de múltiplos relatos.
Segundo a ex-procuradora federal Jennifer Biedel, “o público tem hoje mais consciência sobre violência doméstica e dinâmicas de controlo”, mas a complexidade emocional das relações abusivas pode ser difícil de traduzir numa condenação clara.
Para além das acusações de tráfico sexual, Diddy enfrenta o peso da lei RICO, ao ser acusado de liderar uma organização criminosa com o apoio de colaboradores que alegadamente ajudavam a encobrir abusos, a fornecer drogas e até a organizar encontros sexuais forçados.
O rapper Kid Cudi testemunhou ainda que Diddy terá mandado incendiar o seu Porsche, movido por ciúmes do relacionamento entre o rapper e Cassie.
A defesa de Diddy ainda não apresentou o seu caso, mas os seus advogados indicaram que não pretendem convocar testemunhas — o que torna improvável que o próprio artista venha a depor. Uma decisão estratégica, já que, segundo especialistas jurídicos, o depoimento direto de Diddy poderia transformar-se no ponto central do julgamento e expô-lo a um interrogatório intensivo da acusação.
Apesar de algumas vitórias pontuais nos contrainterrogatórios, a estratégia da defesa parece ser questionar a existência de uma conspiração organizada, mais do que desacreditar individualmente as testemunhas.
“A promotoria apresentou um conjunto de factos muito fortes”, afirmou o advogado Mitchell Epner, sugerindo que a defesa tentará provar que os mesmos não cumprem todos os critérios legais para uma condenação por tráfico sexual e extorsão.
Fonte original:
Terra Brasil / BBC News – “Diddy admite abuso, mas será o suficiente para condená-lo?”