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Elisabete Jacinto: «Invisto desde sempre para ser uma “velha” ativa, dinâmica e autónoma»

Professora de Geografia e piloto de Todo-o-Terreno, Elisabete Jacinto tornou-se conhecida pela sua participação no Dakar em moto, mas hoje compete ao volante de um camião no Africa Eco Race, a maior prova de desporto motorizado do continente africano.

20 Setembro 2018
Forever Young

Como e quando teve a ideia de começar a andar de moto?

A ideia surgiu por acaso, num dia em que eu e o meu marido, o Jorge, estávamos a folhear uma revista de motos num quiosque em Lisboa. Ambos gostávamos de motos, e de repente tivemos a ideia de ir tirar a carta. No meu caso, ainda nem tinha carta de carro, por isso tirei as duas. Decidimos depois comprar uma moto de 125cc para ambos, mas quem mais a usava era eu, como meio de transporte para a faculdade e para a escola onde dava aulas.

Por graça, e só mesmo por isso, inscrevemo-nos num clube de Todo-o-Terreno (TT) e começámos a receber em casa os folhetos com a informação sobre os passeios que eles organizavam. Quando decidimos fazer o primeiro, o Jorge já tinha uma moto de 600cc, por isso, cada um foi com a sua. E assim tudo começou.

Esse primeiro passeio foi um desastre. Eu caí ao fim de 80 km num passeio de 200 km, e o Jorge, embora tenha ido até ao fim, teve muitas dificuldades porque a nova moto era muito pesada e inadequada para TT.

Apesar disso, no final daquele passeio decidimos que aquele era o hobby das nossas vidas, mas havia um problema: não tínhamos motos próprias para TT. Então, no ano seguinte, não saímos de casa, não fomos ao cinema ou jantar fora e fizemos umas férias acessíveis, tudo para juntar o dinheiro suficiente para comprar duas motos. E conseguimos!

Começámos a ler sobre TT e, aos fins de semana, íamos com as motos para o campo para praticar. As coisas mais banais pareciam-nos dificílimas, e rápido percebemos que aquele hobby se ia tornar muito absorvente, visto que quando voltávamos para casa depois de um dia inteiro no campo, ainda tínhamos de lavar as motos e fazer ajustes. Mas era muito bom, e começámos a reunir um grupo de amigos naqueles passeios, em que passávamos mais tempo no convívio do que a andar de moto.

Em que ponto da sua vida começou a pensar nas motos em termos de competição?

Foi precisamente por causa desse grupo de amigos. Um dia, um deles desafiou os outros a fazer uma prova de competição, e quando demos por nós, estávamos todos prontos para fazer uma corrida do campeonato nacional de TT, que na altura ainda era só um troféu.

Fiz a prova com muita dificuldade, mas sempre a pensar que tinha de conseguir. Acabei por ser obrigada a desistir porque caí numa ribanceira e entrou água no motor da moto, mas no final, a pessoa mais feliz daquela prova não era o vencedor, mas eu, que tinha desistido. Porque embora não tenha ido até ao fim, tinha conseguido fazer 270 km numa prova de 300 km. Ali mesmo fiquei apaixonada pelo TT. Foi uma prova de superação, mas percebi que, de facto, os nossos limites estão na nossa cabeça, e conseguimos fazer muito mais do que pensamos sermos capazes. A partir de então, o grande desafio tem sido exatamente esse: perceber até onde sou capaz de ir.

Daí ao Dakar, foi um passo…

Foi mais do que um passo. Na altura eu fazia o campeonato nacional de TT e já era uma luta conseguir chegar ao fim. Mas fui evoluindo, comecei a competir (e a ganhar) a Taça das Senhoras, e um dia tive a ideia de fazer uma prova internacional, em Espanha, onde consegui um resultado espetacular, o tipo de resultado que não estava habituada a fazer em Portugal.

Depois dessa prova, comecei a pensar abandonar a competição porque já tinha feito tudo o que queria fazer. Mas de repente lembrei-me que me faltava uma prova em África. Imaginei-me em cima de uma moto no deserto, e essa ideia ganhou de tal forma raízes que começou a perseguir-me. Vi o Dakar várias vezes na televisão e achei que seria capaz de fazer uma prova como aquela.

Antes de avançar para o Dakar, fui fazer o Rali da Tunísia para ter a certeza de que conseguia fazer aquele tipo de prova. Adaptei-me bem e, assim, comecei a procurar patrocínios para ir ao Dakar. Consegui rapidamente duas reuniões, no mesmo dia, uma no Alentejo e uma no Norte. Uma reunião servia para pedir dinheiro para a primeira tranche da inscrição na prova, e a outra, para pedir uma moto de empréstimo para competir. Surpreendentemente, num só dia consegui as duas coisas, e isso deu-me ânimo renovado para prosseguir.

Mas a sorte ficou-se por aí. O dinheiro obtido pelo primeiro patrocínio serviu para pagar metade da inscrição no Dakar e preparar a moto para a prova. A 15 dias do pagamento da segunda tranche da inscrição, continuava sem mais respostas de possíveis patrocinadores, e acabou por ser necessário pedir um empréstimo ao banco para pagar. Foi assim que fui ao meu primeiro Dakar. A pagar parte das despesas com um empréstimo bancário a quatro anos!

E depois valeu a pena? Como foi a experiência no Dakar?

Turbulenta. Nessa primeira vez, tive de desistir devido a problemas mecânicos. Na segunda vez, o motor partiu na maior etapa da Mauritânia. Mas à terceira foi de vez. Consegui terminar o Dakar e vencer a Taça das Senhoras. Foi um verdadeiro sucesso, toda a gente me dava os parabéns, mas a determinada altura comecei a perceber que as pessoas achavam que eu só tinha conseguido chegar ao fim do Dakar porque, naquele ano, a prova tinha sido mais curta, com menos quatro dias. Isso deixou-me furiosa, porque afinal ninguém acreditava que eu conseguiria chegar até ao fim de uma edição normal do Dakar.

Nesse ano, o meu marido até sugeriu que acabássemos com a “brincadeira das motos”, visto que o objetivo (terminar o Dakar) estava cumprido. Mas eu disse-lhe que nem pensar. O meu novo objetivo era voltar ao Dakar e provar que conseguia terminar uma edição com a duração normal e o grau de dificuldade de sempre.

E assim cheguei ao meu quarto Dakar, em 2001, uma edição que foi particularmente arrasadora. Infelizmente, tive o azar do meu carro de assistência pisar uma mina na fronteira de Marrocos com a Mauritânia. Toda a equipa foi evacuada para o hospital e eu fiquei completamente perdida, sem saber o que fazer. Foi das situações mais difíceis que vivi.

Sabia que, sem carro de assistência, aquele Dakar estava perdido. Teria de desistir a determinada altura, agora ou mais tarde, e liguei para Lisboa para me aconselhar com a pessoa que, na altura, fazia a comunicação da equipa. O que ele me disse foi que a equipa de assistência não haveria de querer que eu desistisse por causa deles, e aquilo fez sentido na minha cabeça. Então decidi que levaria aquele Dakar até ao limite. Até cair para o lado e não poder continuar. Cai dezenas de vezes, parti-me toda e terminei o Dakar sem honra nem glória, com um resultado sem destaque. No ano seguinte não fui porque não consegui patrocinador.

Esse foi o último Dakar que fez em moto. Por que trocou a moto pelo camião?

Mais uma vez, estava a ponderar abandonar a competição. E houve um dia, na rua, que tomei a decisão: já fiz tudo o que queria, vou vender as motos e vou deixar as provas. Nesse momento, senti-me muito bem. Era um alívio finalmente tomar aquela decisão, já que era uma coisa que me andava a atormentar há já vários meses. No entanto, hoje percebo que não queria mesmo desistir, porque aquela decisão não se susteve por mais do que uns segundos. Lembrei-me de repente: e se eu trocasse a moto pelo camião? É um veículo engraçado, nunca uma mulher fez e dá maior exposição aos patrocinadores. No mesmo dia fui à escola de condução inscrever-me para tirar a carta de pesados. Tirei a carta em outubro, e três meses depois, estava a fazer o Dakar em camião.

Porquê o camião e não o carro?

O carro seria a opção mais óbvia, mas dificilmente encontraria patrocinador para competir em carro. Havia já algumas mulheres a participar em carro, tinham bons resultados, e por isso eu não vinha acrescentar nada de novo. Já uma mulher a andar de camião, por ser uma ideia invulgar e pela possibilidade de uma exposição melhor para o patrocinador, foi uma boa aposta.

O meu primeiro Dakar em camião foi um desastre porque eu não tinha experiência nenhuma. Mas, ao mesmo tempo, foi uma aprendizagem sobre como estar num camião no Dakar. Aprendi imenso. E fui progredindo. Ano a ano ia conseguindo fazer mais alguma coisa. Fiz uma progressão muito sólida, mas muito lenta. A minha primeira corrida em camião foi em 2003, e só desde 2015 sinto que vou para as corridas disputar os lugares da frente com os outros pilotos, sabendo que eles têm camiões e meios técnicos muito superiores aos meus. Sinto que sou uma verdadeira adversária, e esse foi o meu objetivo ao trocar a moto pelo camião: ser uma boa piloto e ter bons resultados desportivos. Demorei muito porque o camião é um veículo extremamente difícil de conduzir e porque implica uma preparação técnica muito complicada. Tenho levado as coisas ao limite do meu empenho e da minha dedicação, mas tenho tido a recompensa, tenho conseguido atingir as minhas metas e os meus sonhos. E isso é muito bom.

Nos últimos anos tem participado no Africa Eco Race, mas não vai ao Dakar desde 2009. Porquê?

O Dakar perdeu toda a sua identidade com a mudança para a América do Sul. Fiz o primeiro ano no novo circuito, mas foi uma enorme desilusão. Aquela é uma grande corrida, mas já não é o Dakar. Na Argentina as pessoas são aficcionadas por desportos motorizados e seguem-nos para todo o lado, por isso, já não existe a solidão de África. O percurso é difícil, mas quem não o quiser fazer pode ir por autoestrada e sofrer apenas uma penalização. Temos todas as atenções e pessoas a tratar dos veículos. Ou seja, perderam-se todas as características do Dakar que me seduziram, que me incentivaram a trabalhar e que me levaram a prescindir de muita coisa. Em África estávamos sozinhos, entregues ao nosso cansaço. Toda a experiência era um confronto connosco próprios que só o deserto nos pode dar. Resolvi coisas no meio do deserto que não conseguiria resolver à porta de casa, com todos os meios. Era isso que eu gostava no Dakar.

Com a mudança para a Argentina, desisti de participar no Dakar e virei-me para o Africa Eco Race, uma prova que na altura tinha meia dúzia de pilotos que ninguém conhecia. Isso fez com que muitas portas se fechassem, mas hoje a prova já é muito reconhecida e vejo que fiz uma boa aposta.

Contou sempre com o apoio da sua família?

O meu marido anda sempre comigo. Onde vai um, vai o outro. Quanto aos meus pais, quando comecei a andar de mota já não vivia com eles. Já tinha o meu trabalho, o meu salário e não dava satisfações a ninguém. Com os passeios e as corridas, eles foram-se habituando à ideia. A minha mãe, sempre muito preocupada, é claro. Quando comecei a ir ao Dakar, ela ficava a ver na televisão e chorava de alegria se me via e de tristeza se não me via. Chorava sempre. Já o meu pai, antes do meu primeiro Dakar, perguntou-me se era mesmo aquilo que eu queria. Eu disse-lhe que sim e, desde então, apoia-me sempre.

É professora de Geografia. Como se concilia uma carreira desportiva com uma carreira docente?

Durante muitos anos eu conseguia conciliar porque treinava com moto apenas ao fim de semana, embora fosse ao ginásio todos os dias. Quando quis começar a evoluir, já aproveitava aqueles dias em que tinha um horário mais curto para ir para uma pista perto de Lisboa treinar, mesmo em dias de semana. Não era muito difícil porque eu era professora do ensino noturno e tinha o dia livre.

Quando quis ir ao Dakar, comecei a tirar licenças sem vencimento. Hoje em dia já não dou aulas, mas mantenho o vínculo, porque embora queira fazer uma carreira desportiva, não pretendo prescindir completamente de uma profissão de que gosto e que me dá muita satisfação. Neste momento tenho uma dispensa de serviço na escola e passo por uma avaliação todos os anos. O último ano letivo que dei aulas foi o de 2003/2004, coincidindo com o primeiro ano em que competi em camião.

Considera voltar a dar aulas?

Sempre considerei, e por isso mesmo optei por este regime em vez de rescindir o contrato. As minhas colegas dizem que se voltar, não vou gostar, que não me vou adaptar, que a escola mudou muito e já não é o que era. Mas eu sempre gostei muito de dar aulas, é uma atividade que me preenche e me faz sentir bem. E sempre achei que um dia poderia voltar.

Pensou várias vezes em desistir da competição, mas nunca o fez. Aos 54 anos essa hipótese já lhe parece mais próxima?

A ideia de deixar de competir persegue-me desde a primeira corrida que fiz. Quando eu fazia o campeonato nacional, decidia em cada prova que nunca mais voltava. Mas quando acabava e olhava para os resultados e para aquilo que tinha conseguido fazer, decidia continuar.

Sempre houve a questão de não saber, em cada ano, se tinha patrocínios e dinheiro para correr. E andei sempre a pensar que era no ano seguinte que desistia. Uma das minhas principais dificuldades foi não ter tido a visão de que podia fazer uma carreira desportiva e apostar nisso a quatro ou cinco anos. Teria feito muito melhor, mais cedo. Estive sempre a dar aulas e a treinar em paralelo, e só quando mudei para o camião pedi licença sem vencimento para me dedicar em exclusivo ao desporto. Agora percebo o quanto ganhei e evoluí com isso. Não saber até quando iria continuar foi sempre uma questão com que tive de lidar. A meta tem sido fazer com o camião aquilo que não consegui fazer com a moto: ter o reconhecimento como boa piloto. Um dia que eu perceba que não consigo ir mais longe, paro. Quando isso vai acontecer? Não sei.

Com uma carreira tão intensa, considerou ter filhos?

Ter filhos fez sempre parte dos nossos planos, mas foi um projeto sucessivamente adiado. Até ao ponto de considerar adotar se chegasse a uma idade em que já não os pudesse ter. Aliás, a questão da adoção é um projeto que, de alguma forma, ainda não foi abandonado. Mas a verdade é que o tempo passa e nós achamos sempre que ainda vamos a tempo. Temos a sensação de que somos “forever young”, como a vossa revista. Achamos que estamos sempre em forma, que nunca é tarde.

A biologia vai dizendo que os anos passam, mas eu não os sinto, e aquilo que faço, faço melhor agora do que há uns anos. Fiz muitas conquistas e, em termos físicos, a idade não me pesa. Com o desporto aprendi a gerir a minha energia e a lidar melhor com o cansaço. Quando somos jovens usamos a energia de qualquer maneira, mas a experiência torna-nos mais inteligentes nessa gestão.

Como é um dia da Elisabete Jacinto?

Levanto-me todos os dias às 6h45 e às 7h30 já estou no ginásio, onde passo duas horas. Faço algum cardio, não muita musculação, exercícios de coordenação e flexibilidade, circuitos, etc. Tomo o pequeno-almoço e, a partir das 11h, estou onde tenho de estar. Pode ser na oficina, ou a trabalhar no computador, ou a dar entrevistas, por exemplo. Nesta atividade tenho de dar atenção a muitas coisas, nomeadamente à oficina, onde tenho um mecânico a trabalhar comigo a tempo inteiro. Tenho ainda toda a parte da organização das corridas, arrumar e catalogar peças, limpar o camião. Ao final do dia ainda faço aulas de ioga. Todo o dia é passado com tarefas relacionadas com a competição.

Foi professora, e por isso teve um contacto muito próximo com jovens. Que diferenças encontra nos jovens de hoje, face aos da sua geração?

Acho que os jovens são hoje muito mais dependentes dos pais do que que nós éramos. Quando vivia com os meus pais, a única coisa que eu queria era começar a trabalhar, ter a minha vida, a minha independência, não ter que pedir autorização ou dinheiro aos pais… Ser independente. Hoje temos jovens que vivem com os pais até aos 30 anos, não têm autonomia financeira, não conseguem encontrar emprego, sempre muito dependentes, e essa é uma das coisas que eu acho que caracterizam esta geração. A grande dependência, a pouca autonomia.

Possivelmente entrámos num mundo em que os pais com poucos filhos se sentem obrigados a dar tudo, a protegê-los de tudo. Um mundo onde se trabalha para os filhos e não se incentiva à autonomia. Na minha geração, o nível de vida em Portugal era muito mais baixo do que o de hoje e os pais não tinham condições para estar a alimentar os filhos até eles serem mais do que adultos. Por isso, os próprios filhos sentiam-se obrigados a ir à sua vida e à procura dos seus próprios meios.

Hoje em dia não é assim. Os pais fazem sacrifícios para dar tudo às crianças, que crescem habituadas a pedir e a terem as suas vontades satisfeitas. Crescem sem saber construir, procurar ou ouvir a palavra “não”.

Além disso, os jovens vivem agarrados às tecnologias, mas não sei até que ponto conseguem tirar um partido útil das capacidades que essas tecnologias têm. Como resultado, a concentração diminui, as capacidades físicas são mínimas, vive-se fechado em casa, não se corre, não se salta, não se brinca… E isso marca a forma como as pessoas vão encarar a vida em adultos.

Enquanto jovem eu fui crescendo e vi o mundo à minha volta a melhorar. A curva era ascendente, cada dia era melhor do que o outro, a tecnologia que vinha hoje era melhor do que a do passado, vivíamos progressivamente melhor. Penso que já chegámos ao ponto em que vejo essa curva a descender. A tecnologia que aparece já não ajuda, às vezes até atrapalha, faz perder tempo, chega a fazer com que nos sintamos pior. As coisas começam a parecer piores do que eram antes. Acho que pela primeira vez vai haver uma geração que vai viver pior do que os pais viveram, e sem que isso esteja relacionado com aspetos económicos.

As redes sociais estão a mudar a forma como vivemos em sociedade?

Muito. Nós aceitamos a tecnologia de braços abertos porque ela traz coisas novas de que gostamos. Mas falta-nos o sentido crítico e o equilíbrio. Se fosse possível associar as redes sociais ao espírito crítico e ao equilíbrio, estas seriam uma ferramenta fabulosa.

Mas as redes sociais, ou a forma errada como são usadas, é só uma parte do problema. Nós chegámos a um ponto em que fazemos uma pesquisa na net e encontramos notícias falsas. Ou seja, eu tenho uma ferramenta útil que me permite estar ligada ao mundo inteiro, mas quando leio uma simples notícia, não sei se é verdade ou mentira. Tenho acesso instantâneo a artigos científicos, que antes não tinha, mas não sei se são reais ou inventados.

A Internet é uma coisa muito boa, à qual faltam filtros. Não se criou nenhuma forma de dar credibilidade ao que lemos no universo online, sejam notícias ou não. E, assim, acabamos por ter ferramenta boa, mas na qual não se pode confiar e que, por isso, deixa de ser útil.

Como se vê daqui a 10 anos?

O que vejo como certo é que vou estar a viver com o meu marido, feliz e cheia de projetos com ele. Porque sempre foi assim. Cheia de dinamismo e de vontade de criar e levar projetos para a frente. Não sei se relacionados com a competição automóvel como os que tenho agora, mas sempre sem me deixar cair com o peso da idade.

Eu invisto desde sempre para ser uma “velha” ativa, dinâmica e autónoma. Quero viver bem os anos que tiver para viver, e por isso invisto na minha alimentação, na saúde e no bem-estar, para que os meus últimos anos sejam vividos com energia.

Não sei que projetos terei daqui a 10 anos, mas sei que os agarrarei com muita vontade de fazer. A vida ensinou-me que podemos fazer com ela o que quisermos. Com esforço, trabalho e empenho, tudo é possível. É claro que o que queremos aos 20 anos não é o mesmo que queremos aos 50. Mas, em cada idade, podemos fazer o que quisermos.

É claro que temos de ser razoáveis. Aos 60 anos, se calhar não conseguiria começar a andar de mota. Mas tendo andado todos estes anos, consigo certamente continuar. Há coisas que temos de perceber que mudam com a idade, mas não temos que nos arrumar numa gaveta só porque o tempo passou.

Paulo Mendonça

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