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Entrevista: «É preciso falar do cancro da próstata e desmistificar este que é um tema tabu», Paulo Dinis, chefe do serviço de Urologia do Hospital de S. João

Considerada uma doença silenciosa, o cancro da próstata é uma das principais causas de morte do sexo masculino. Para perceber este que é um tema tabu para muitos homens falámos com Paulo Dinis, chefe do serviço de Urologia do Hospital de S. João, e recolhemos o testemunho de Alexandra Matos Gomes da Silva, administradora Couto, S.A., que viveu de perto esta realidade.

20 Novembro 2023
Sandra M. Pinto

De acordo com dados da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, partilhados no início de 2022, o Cancro da Próstata é o tumor mais frequente nos homens e a terceira principal causa de morte.

O cancro da próstata é uma doença silenciosa e um tema tabu para muitos homens, como assegurou à Forever Young Paulo Dinis, chefe do serviço de Urologia do Hospital de S. João, que explicou em entrevista de que forma se pode mudar esta situação.
Qual é a importância do rastreio atempado do cancro da próstata?
O cancro da próstata pode apresentar-se em várias fases de evolução. Antes do advento dos métodos de diagnóstico precoce, a doença era apenas detetada, na sua maioria, em fases tardias em que o cancro já tinha ultrapassado os limites do órgão, com metastização noutros órgãos. Esta situação de cancro disseminado à distância, mesmo hoje, não se consegue curar. A Medicina apenas consegue prolongar a vida dos doentes mais do que antigamente, mas, infelizmente, ainda não os cura.
Em contrapartida, o diagnóstico precoce veio permitir inverter a situação. Antes de haver a possibilidade de determinar o nível de antigénio específico da próstata (PSA) no sangue, 80% dos doentes apresentavam metastização na altura do diagnóstico. Após a sua utilização em larga escala e os consequentes estudos para estabelecimento de um diagnóstico, a situação inverteu-se, sendo que neste momento os cancros diagnosticados são-no em fase precoce da doença. Isto, naturalmente, permite a sua cura. 

É cada vez mais essencial sensibilizar os portugueses para esta questão?
Sem dúvida, porque a expectativa de vida dos portugueses melhorou exponencialmente desde os anos 60, passando de cerca de 60 para, atualmente, pouco mais de 80 anos. Podemos dizer que estamos a ganhar esta luta, contudo, ainda lutamos pelo envelhecimento saudável, pois estamos muito atrás da generalidade dos países desenvolvidos. O envelhecimento saudável conquista-se pela prevenção de doenças ab initio, e/ou pela sua deteção e tratamentos precoces, evitando, assim, as fases avançadas da doença oncológica, no caso, da neoplasia prostática. 

Qual o impacto da doença na população masculina nacional?
O cancro da próstata é a doença mais diagnosticada nos homens e representa a terceira causa de morte por cancro. A morte por cancro da próstata, na maior parte dos casos, não é rápida, podendo ser este um aspeto positivo, por permitir muitas vezes anos de sobrevida com alguma qualidade; porém, tem também um lado negativo, que está relacionado com todo um acumular de seguimentos e tratamentos que drenam energia, recursos e qualidade de vida/bem-estar ao doente, aos que o reiam e à própria sociedade. O fardo e sacrifício sobre os doentes é tão menor quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento atempado. 

Têm os números vindo a subir? Ainda é causa de muitas mortes?
Os números têm vindo a subir, mas mercê da deteção mais precoce e mais frequente dos casos. A mortalidade tem vindo a diminuir pela mesma razão: a deteção e tratamento mais precoces.

Qual é hoje a taxa de sucesso do tratamento do cancro da próstata?
A taxa de sucesso pode ser avaliada segundo diferentes variáveis, mas podemos afirmar, de acordo com os estudos existentes, que o tratamento da generalidade dos cancros ainda localizados na próstata tem um sucesso entre 80% e 99%, mais baixo, naturalmente, nos cancros mais agressivos.

Quando se diz que o cancro da próstata é uma doença silenciosa o que é que isso significa?
Significa que esta doença só dá sintomas numa fase muito adiantada da mesma. Ou seja, um cancro da próstata pode crescer dentro do órgão e espalhar-se no organismo ao longo de anos de evolução, sem nenhum sinal ou sintoma, tornando ainda mais pertinente a questão do diagnóstico precoce. Se optarmos por não fazer nada e viermos a ter cancro da próstata diagnosticado pelas suas manifestações clínicas, o mais provável será que já não esteja em fase curável.

Ainda é esta doença um tema tabu para muitos homens?
Sim, é claramente um tema tabu para muitos homens.

Na sua opinião porque é que isso ainda acontec
No que respeita à próstata, existe uma grande desinformação, quer em relação ao próprio órgão e às suas funções fisiológicas, quer ao diagnóstico de doenças prostáticas. Por exemplo, um grande número de pessoas associa o órgão próstata à nossa capacidade erétil, o que não tem fundamento, mas torna imediatamente o assunto do seu estudo num embaraço a esconder. Os sintomas urinários associados ao crescimento benigno da próstata são igualmente associados a velhice, fraqueza e perda de virilidade. Ainda assim, é verdade que muitos tratamentos para o cancro da próstata podem interferir com o desempenho sexual. Estas noções fomentam uma cultura de evicção da procura de cuidados de saúde, ainda bem patente nesta área.
Por outro lado, alguns exames conducentes ao diagnóstico, nomeadamente o toque rectal, são temidos quer pela dor que suspeitam que o exame cause, quer pelo embaraço de serem submetidos a um exame que veem como invasivo e atentatório da sua dignidade/masculinidade. Apesar de o exame ser em geral desconfortável, mas não doloroso e apenas mais um componente do exame físico geral, estamos longe de ter os homens com a mesma atitude de prevenção e preservação da saúde que as mulheres com os exames ginecológicos.

A partir de que idade devem os homens fazer o rastreio?
Todos os homens devidamente informados dos riscos e benefícios devem fazer rastreio a partir dos 45 anos se tiverem ascendência africana, familiares com cancro da próstata ou ainda mutações genéticas que indiciem maior risco. Para todos os outros, deverá aquele ser feito a partir dos 50 anos. De acordo com os resultados obtidos, a repetição dos rastreios pode ser protelada até oito anos ou repetida com maior frequência.

Em que consiste esse rastreio?
O rastreio resume-se a um exame digital da próstata designado habitualmente por toque rectal e ao doseamento do PSA no sangue. De acordo com os resultados de um e de outro, encaminha-se o doente para biópsia prostática, geralmente precedida de ressonância magnética.

Há fatores de risco para se contrair a doença?
Há doentes com maior risco, nomeadamente com a existência de cancro da próstata em familiares em três gerações, mais do que dois cancros da próstata na família ou ainda cancro em familiares diretos. A ascendência africana também confere maior risco. Ainda doentes com doença inflamatória do cólon ou com história de HPV (condiloma acuminado, mas apenas a estirpe 16) têm também maior risco.
Há alguma associação a riscos alimentares e ambientais, mas não suficientemente fortes para estabelecer recomendações. Existe associação com o tabaco, consumo excessivo de álcool, obesidade, exposição ocupacional a cádmio, consumo de carnes vermelhas ou processadas.

Que palavra deixaria aos homens que sentem algum “temor” em avançar para o rastreio?
Se foi esclarecido sobre os riscos e benefícios de rastrear o cancro da próstata e quer anular ou diminuir a sua probabilidade de morrer de um, deve fazer o rastreio. Ao contrário do que é crença comum, os exames de rastreio são simples: uma análise a uma amostra de sangue e um exame digital da próstata. O exame é feito através do reto, não porque lá se encontre a próstata, mas porque este órgão está literalmente encostado ao reto. Como este tem uma espessura de milímetros, é possível palpar a próstata por aquele meio. O toque é desconfortável mas não doloroso e pode dar só por si uma suspeita suficientemente forte para indicar biópsia, mesmo sem a análise.
Estes dois atos tão simples podem significar para si uma vida livre de uma doença que, nas suas fases adiantadas, causa sofrimentos múltiplos com as manifestações da doença, locais e à distância, e com os efeitos adversos dos tratamentos.
Mais, estes atos são habitualmente enquadrados numa abordagem mais lata da nossa função sexual e miccional, cuja preservação é fundamental para um envelhecimento saudável e com qualidade de vida.

 

Esta é uma doença que faz parte da história da Couto, S.A. A forma como tal acontece foi o que nos contou a administradora, Alexandra Matos Gomes da Silva, revelando o que levou a marca a estabelecer uma parceria com a  Associação Portuguesa de Doentes da Próstata e que deu origem à campanha “Próstata sem tabus”. Esta uma campanha de sensibilização que tem como objetivo trabalhar na prevenção desta doença através da consciencialização do grande público para a importância do diagnóstico atempado, uma vez que a deteção precoce pode fazer toda a diferença no curso da doença e no sucesso do tratamento.

Já passaram 105 anos desde que Alberto Ferreira do Couto e Alfredo Barbeitos Flores tomaram conta do negócio da farmácia Higiénica, a 26 de junho de 1918. Rapidamente deram uma reviravolta ao negócio, começando pelo nome, que passou a Flores & Couto, publicitando a sua Emulsão Flores, que na altura era produzida com um dos preparados mais importantes da medicina. Passados 13 anos, dá-se uma nova mudança e o nome da farmácia passa a ser Couto, e, em 1932, a marca lança a Pasta Medicinal Couto, que se tornou desde logo o verdadeiro símbolo da marca e que, ao longo de um século, se tornou num produto icónico em Portugal. «Temos sempre mantido o legado familiar e os valores, que nos têm acompanhado de ano para ano. Somos uma empresa orgulhosa de ser portuguesa, privilegiamos a qualidade dos nossos produtos e mantemo-nos sempre fiéis à nossa identidade única. Acreditamos em cuidar dos nossos clientes com carinho e respeito, criando relações próximas em que ouvimos muito o seu feedback. Na verdade, a pasta Couto com flúor nasce precisamente de ouvirmos os pedidos dos nossos clientes» afirma Alexandra Matos Gomes da Silva administradora da empresa. Uma marca que merece a confiança dos portugueses há 105 anos tem alguma responsabilidade em ações de apoio à comunidade em que está inserida, refere. «Além da empresa Couto, S.A., o meu marido criou a Fundação Couto, para dar apoio a crianças mais necessitadas por meio de uma creche, apoio pré-escolar e um centro de atividades de tempos livres, onde as crianças podem aprender e desenvolver as capacidades necessárias para um futuro melhor. Este projeto era a sua grande paixão, mas a nossa responsabilidade não cessa aqui. E como empresa, quisemos também contribuir de forma ativa para outras causas e, este ano, escolhemos uma que nos diz muito, pois o meu marido teve afeções da próstata durante muitos anos», revela Alexandra Matos Gomes da Silva.

É no âmbito dessa preocupação que surge a colaboração com a Associação Portuguesa de Doentes da Próstata?
Precisamente. O desafio que lançámos à Associação Portuguesa de Doentes da Próstata para criar a campanha solidária “Próstata Sem Tabus” partiu da ligação emocional que temos com a causa. Senti e vi como os tabus e os estigmas com as doenças da próstata impactam, não só os homens, mas a família que os acompanha.

Porque dão especificamente uma maior atenção a este tema, a esta causa?
Enquanto o rastreio das doenças da próstata for tema de chacota entre homens, vai sempre existir este tabu, quando muitas pessoas ainda não sabem que o primeiro exame apenas implica uma análise do sangue. É um primeiro passo, que pode salvar vidas, pois se detetado a tempo, o cancro da próstata pode ter até 95% de taxa de sobrevivência.

Tão importante como o rastreio é eliminar os tabus sobre o próprio exame, concorda?
Concordo, totalmente. E essa é a nossa maior missão e objetivo com esta campanha: informar e desmistificar. Mesmo as verbas que vamos angariar com a venda dos produtos de cuidado da barba são para depois a associação poder continuar o seu trabalho neste sentido.

Na sua opinião qual a causa de esse tabu ainda existi
Além de mexer com muitas inseguranças dos homens, que os afetam a um nível íntimo, na minha opinião, tem que ver com o facto de não se falar disto. Esconde-se, as pessoas têm vergonha de falar, penso que há um certo receio de se sentirem “emasculados” e, por isso, esconde-se. E quanto mais se esconde, mais se perpetua a desinformação, o adiamento dos exames de rotina, porque geram medo, ansiedade e também algum pudor social.

“No-Shave November”, em que se materializa este lema?
É um movimento internacional criado para aumentar a consciencialização, em que se aceita o não cortar o cabelo ou pelos, que muitos doentes oncológicos perdem, deixando-os crescer livremente. A nível global, há várias iniciativas que estão a ser desenvolvidas sob este mote com o intuito de educar sobre a prevenção do cancro, para salvar vidas e ajudar aqueles que estão a travar esta batalha.

Como nasceu o “Próstata Sem Tabus”?
O cancro da próstata e, principalmente, o rastreio das doenças da próstata, são temas tabu para os homens, e nós, conhecendo a importância do rastreio atempado, sentimos que é nossa missão deixar os outros conscientes e atentos à sua saúde. Nasce assim a campanha “Próstata Sem Tabus”, que visa salientar a importância do rastreio atempado da doença e ajudar a desmistificar todo o estigma que existe em torno deste tema. É importante que todos saibam que o primeiro exame para despistar doenças da próstata – o teste PSA – é feito com uma simples análise ao sangue. Não há motivos para adiar, é preciso que se fale disto para que se comecem a quebrar os tabus.

De que forma vai a Couto concretizar a sua participação na campanha “Próstata Sem Tabus”?
No final da campanha, a Couto irá doar 10% das vendas efetuadas de 1 a 30 de novembro, dos produtos de cuidado da barba e do coffret “Próstata Sem Tabus” à Associação Portuguesa de Doentes da Próstata, para que possam continuar a cumprir a sua missão de informar e apoiar quem os procura.

Em que vão ser aplicados os fundos angariados com a campanha “Próstata Sem Tabus”?
Os fundos angariados através da campanha “Próstata Sem Tabus” serão entregues à Associação Portuguesa de Doentes da Próstata, para que possam continuar a sua missão de informar, apoiar e prestar auxílio aos doentes e às famílias.

Enquanto mulher de um doente de doença da próstata que alerta gostaria de deixar a todas as mulheres que nos leem?
Informem maridos, pais, irmãos, parceiros, amigos sobre a importância do rastreio atempado e expliquem que a primeira linha de diagnóstico é um “simples” exame ao sangue, que não difere muito de ir fazer análises ao colesterol, por exemplo. É importante estar alerta, porque a taxa de sucesso do tratamento das doenças da próstata, mas sobretudo do cancro da próstata, é geralmente alta, principalmente quando detetado precocemente. Pode fazer toda a diferença! Não deixem que um tabu se transforme em arrependimento. Vamos falar sobre isto!

 

Depoimento de José Graça Guimarães Gonçalves, vice-presidente da Associação Portuguesa de Doentes da Próstata.

A Associação Portuguesa de Doentes da Próstata surgiu em junho de 2003, e a sua missão é sensibilizar os homens para a necessidade de um exame periódico da próstata a partir dos 45/50 anos de idade, uma vez que a prevenção precoce é crucial na deteção e tratamento com sucesso do cancro da próstata.

«Atuamos em diversos planos, tais como a divulgação da necessidade do rastreio atempado como modo de prevenção, oferecemos apoio aos doentes e familiares, insistimos junto das entidades governamentais responsáveis pela saúde, de forma a promover e a divulgar ações que alertem para o rastreio do cancro da próstata, estabelecemos e desenvolvemos parcerias com vários organismos relacionados com as doenças da próstata, como a Associação Portuguesa de Urologia ou a Sociedade Portuguesa de Oncologia, e somos filiados na Europa Uomo, que é uma associação europeia, para que se implantem em Portugal os benefícios a que têm acesso os doentes da próstata à escala europeia», afirma José Graça Guimarães Gonçalves, vice-presidente da Associação Portuguesa de Doentes da Próstata. Para o reponsável, «as associações de doentes desempenham um papel vital no apoio, educação, defesa e promoção da melhoria contínua dos cuidados de saúde para aqueles que vivem com problemas médicos muitas vezes difíceis e específicos».

 

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