Entrevista: «Queremos inovar, mas sem nunca nos esquecermos de quem somos», André Silva Flores, CEO da Velas Condestável

António Martins da Silva e André Silva Flores são, respetivamente avô e neto. No mundo dos negócios o primeiro é o fundador da empresa que hoje tem como CEO o segundo. Conversámos com ambos sobre a Velas Condestável, descobrindo esta ligação entre gerações.

A Velas Condestável é uma marca com cerca de 60 anos de história. Fundada por António Martins da Silva, avô de André Silva Flores, atual CEO da empresa, está situada em Cardigos, uma freguesia do distrito de Santarém. Conhecida pela produção de velas, essencialmente para fins religiosos, a marca quer alcançar outros mercados e novos públicos pelo que acaba de lançar um produto vegan de edição limitada para o Natal. Para conhecermos um pouco mais a história da empresa e o que ambiciona para o futuro conversámos com António Martins da Silva e André Silva Flores.

Senhor António, como e quando nasceu a marca?
Nuno Álvares Pereira, também conhecido como Santo Condestável, é da zona de Cardigos, em particular, de Cernache do Bonjardim. Foi assim que nos inspirámos, há 60 anos, para o nome da marca Velas Condestável, uma vez que também somos de Cardigos e acreditamos que conseguimos ir muito além da nossa aldeia.

O que levou ao nascimento da Velas Condestável?
A zona de Mação/Cardigos sempre teve muita atividade apícola, pois as condições desta região são propícias para o efeito. As primeiras velas tinham como principal matéria-prima a cera de abelha. Depois, naturalmente, foram surgindo diversos produtores de velas, sendo um deles a Velas Condestável.

Qual o motivo dessa paixão, senhor António?
Tudo começou quando fui trabalhar para uma das primeiras fábricas de velas em Cardigos, apaixonei-me pela arte de fazer velas, pelos pormenores, pelo cheiro da cera, pela delicadeza do processo… até que percebi que era esse o meu caminho e acabei por entrar neste mercado fundando a Velas Condestável.

Naquela altura optaram por lançar produtos com fins religiosos, porquê esta opção?
O principal fim utilizado para as velas era, primeiramente, a iluminação própria, no entanto, com o aparecimento e disseminação da eletricidade, as pessoas começaram a usar menos velas nas suas casas e a maior utilização passou a ser no culto da religião católica e, naturalmente, começou-se a produzir para responder a essa procura.

Senhor António de que forma vê o trabalho do seu neto na empresa?
Como é natural, no início houve alguma dificuldade dada a diferença de gerações e de perspetivas de negócio. Contudo, seis anos passados, é possível ver a evolução que tem vindo a existir na empresa. Temos novas instalações, novos processos, novos produtos, maior volume de vendas, mas sem perder a essência daquilo que eu criei e isso deixa-me extremamente orgulhoso. É ver o meu legado a crescer, tanto a empresa como o meu neto, e saber que ele respeita a minha visão, assim como eu também lhe dou liberdade para criar e evoluir.

Tendo fundado uma marca que celebra 60 anos qual espera ser o seu legado?
Que continuem a trabalhar com a mesma disciplina e honestidade que nos trouxe até aqui. Os nossos clientes, parceiros e equipa confiam em nós por aquilo que construímos e provámos ser, e espero que – sobretudo – seja esse exemplo que permaneça e que sejam tão felizes nesta arte como eu sou.

Que conselho deixaria aos mais novos que desejam ter um negócio de sucesso?
Têm de trabalhar muito para chegar a algum lado. Trabalhar e acreditar!

André com a sua entrada mantém-se hoje a mesma filosofia que presidiu ao nascimento da marca?
Sim, procuramos e vamos continuar a procurar cumprir sempre os ensinamentos do meu avô, como a disciplina no trabalho e honestidade no trato com as pessoas.

Como observa a evolução do setor?
O mercado religioso tem seguido uma tendência muito próxima ao setor do turismo, uma vez que estão ligados. Com a pandemia foi muito penalizado, contudo, já recuperou e mantém um crescimento estável. O mercado decorativo e aromático é extremamente competitivo. Seja com grandes empresas com método de produção otimizado, seja com pequenos fabricantes com novas ideias e uma oferta muito variada e apelativa de produtos. O importante é estarmos atentos para encontrarmos o nosso espaço, mantendo-nos fiéis à nossa marca. Inovando, mas sem nos esquecermos de quem somos.

A verdade é que agora chegam ao mercado das velas aromáticas. Uma exigência do mercado ou o caminho natural da marca?
Ambos, a diversificação de negócio surgiu da necessidade de diminuir a dependência de um setor específico, que acabou por sofrer muito com a pandemia, e também por já existir algum conhecimento e capacidade de produção. No fundo, acabou por ser um passo natural.

Fale-nos um pouco sobre esse novo produto e quando poderá ser adquirido?
No nosso site, fvcondestavel.pt, e em várias lojas do País, já temos algumas coleções de velas aromáticas e decorativas. O nosso foco está em produzir um produto de qualidade com uma forte preocupação com a questão da sustentabilidade. Nesta nova gama das velas aromáticas – bem como na Edição Especial de Natal – utilizamos ceras vegetais, óleos essenciais e pavio de algodão, são produtos veganos, inteiramente produzidos em Portugal, cujos recipientes podemos reutilizar ou, em último caso, reciclar.

O André é neto do fundador. O que o levou a decidir deixar Lisboa e a Delloite para “agarrar” no negócio fundado pelo seu avô?
Estudei Gestão em Coimbra e Lisboa sempre com a ideia de poder gerir um negócio próprio. Durante dois anos trabalhei na Deloitte, que foi uma boa escola e fez parte do caminho, mas o objetivo sempre foi claro para mim… gerir o meu próprio negócio. Talvez pelos exemplos de família, esta veia empreendedora sempre me chamou muito. Em 2017/18 surgiu a oportunidade de me juntar ao negócio de família e pareceu-me a decisão mais natural. Tinha a vantagem de poder aprender com o meu avô e continuar o legado que ele construiu com tanto trabalho e dedicação.

O que é que a sua entrada na empresa trouxe de diferente para a marca?
Trouxe uma nova visão do negócio, mais atualizada e competitiva. Para crescermos mais era preciso alterar muita coisa, mas sem nunca perder a filosofia de trabalho implementada pelo meu avô. Penso que eu trouxe a visão fresca e corporativa que, aliada ao conhecimento e metodologia do meu avô, foram determinantes para a evolução que tivemos nestes últimos anos.

Hoje trabalha lado a lado com o seu avô que tem 88 anos, como é essa relação de “negócios”?
Inicialmente, como é natural, havia muita coisa a provar da minha parte, mas penso que com os resultados que temos alcançado é possível haver mais confiança no trabalho que se tem vindo a desenvolver, e por isso, hoje temos uma relação mais de partilha de informação e conselhos. E, para mim, é um privilégio poder acompanhar o meu avô, que tem mais vitalidade e força de trabalho que muitas pessoas mais novas.

E agora quais são os planos para o futuro da marca? 
A curto e a médio prazo, o futuro da marca passa por se fortalecer a nível nacional como uma marca de qualidade e sustentável e começar a procurar novos mercados a nível internacional.

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