No último domingo de março, Portugal, assim como outros países da União Europeia, ajusta seus relógios para dar início ao horário de inverno. À 01:00, os relógios são adiantados para as 02:00. Este ritual que é repetido também no último domingo de outubro, quando os relógios são atrasados uma hora, tem levantado a pergunta: por quê a mudança de hora?
O termo “Daylight Savings Time”, em inglês, traduzido como “tempo de poupança de luz do dia”, ilustra o propósito por trás dessa prática. No entanto, seus efeitos práticos geram discussões. No outono, por exemplo, embora as manhãs se tornem mais claras, o entardecer chega mais cedo, enquanto na primavera, o efeito é inverso. O objetivo seria aproveitar melhor a luz natural e, teoricamente, economizar energia.
A história da mudança de hora remonta a propostas como a do entomologista neozelandês George Hudson, que procurava mais tempo de luz para as suas atividades pessoais e profissionais. Posteriormente, William Willett (por acaso bisavô de Chris Martin, vocalista dos Coldplay) defendeu a ideia como uma forma de aumentar o lazer ao ar livre e economizar energia. Apesar de rejeitada inicialmente, durante a Primeira Guerra Mundial, muitos países adotaram a mudança para poupar combustível e energia.
No entanto, os benefícios da mudança de hora variam dependendo da latitude de cada país. Enquanto em latitudes médias, como Portugal, a prática pode ser vantajosa, em regiões mais próximas do equador ou dos polos, seus efeitos são menos significativos.
Em 2018, o Parlamento Europeu realizou uma investigação online para avaliar o interesse dos cidadãos em manter ou acabar com a mudança de hora. Embora a maioria tenha votado a favor do fim da mudança, a participação foi baixa, e a decisão final ainda está pendente de estudos detalhados sobre seu impacto.
Em Portugal, a Comissão Permanente da Hora é responsável por estudar e propor medidas relacionadas à hora legal. Em 2021, um grupo de especialistas assinou a Declaração de Barcelona sobre Políticas do Tempo, defendendo o fim da mudança, citando benefícios para a saúde, economia e meio ambiente.
A questão da mudança de hora continua a suscitar debates e reflexões sobre seu verdadeiro impacto e relevância nos tempos modernos.
E se se mantivesse o horário de verão?
Manter UTC+1 corresponderia a manter permanentemente a hora de verão, algo semelhante ao que aconteceu entre 1992 e 1996, durante o governo de Cavaco Silva, quando Portugal adotou o fuso horário CET (Central European Time), o mesmo que o resto da Europa. Nessa altura, no pico do inverno, o Sol nascia por volta das 9h00.
A justificação dada é que, embora pequena, “existe poupança de energia e as perturbações do sono provocadas pela mudança para a hora de verão são mínimas”, recorda o Observatório Astronómico do Porto.