A medida que visa reduzir o consumo terá um efeito de repercussão noutros países europeus que aderirem à medida se perceberem que funciona, segundo declararam os especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) recentemente.
Os rótulos irlandeses vão publicar provas científicas – de que o álcool provoca cancro e doenças hepáticas – que a indústria quer silenciar porque, tal como aconteceu com o tabaco, é previsível que as vendas diminuam à medida que aumenta a sensibilização da população. A margem para melhorias é grande: de acordo com um estudo publicado em Julho, quase metade dos europeus não sabe que existe uma ligação entre o consumo de álcool e a possibilidade de sofrer de sete tipos de cancro e apenas 15% sabe que o consumo de álcool está relacionado com o cancro da mama.
«Neste momento, o que sabemos é que muitas pessoas bebem sem terem consciência do risco que correm», afirma Dasa Kokole, consultora do Escritório Regional da OMS na Europa.
Kokole referiu ao El País que «a legislação irlandesa poderá ter um grande impacto na saúde pública europeia, porque se outros países virem que o que está a acontecer na Irlanda é bem sucedido, possível e viável de implementar, poderão seguir o seu exemplo».
Katherine Paradis, especialista em álcool da OMS para a região europeia, acrescenta que vários estudos realizados no Canadá mostram que «uma vez as pessoas expostas aos rótulos e compreendem que o álcool pode causar cancro, são significativamente mais propensas a apoiar outras políticas sobre álcool, por por exemplo, medidas fiscais para aumentar preços ou restringir horários de compra ou publicidade».
A presidente da Sociedade Irlandesa do Cancro, Averil Power, incentiva as organizações de outros países a seguirem o exemplo do seu país, «espero que, com a experiência irlandesa, possamos dar confiança a outros países. Se é possível na Irlanda, é possível em França, em Itália e em qualquer outro país produtor. Mas acho que é preciso fazer uma grande campanha e uma grande aliança de grupos sociais e de saúde para consegui-lo, porque a reação negativa que vai ocorrer por parte da indústria será enorme».
Averil Power acredita que a medida foi aplicada com sucesso em seu país graças a três aspetos cruciais: «O primeiro foi divulgar as evidências dos danos que o álcool causa à saúde; a segunda foi a liderança política; e a terceira, que houve uma campanha muito forte da sociedade civil. Pressionámos os políticos, mas também os apoiámos quando enfrentaram a resistência da indústria e garantimos que permanecessem do nosso lado».
O custo económico das mortes prematuras por cancro em 2018 foi estimado em 52,9 mil milhões de euros na UE, dos quais 4,58 mil milhões de euros foram atribuídos a atividades relacionadas com o álcool.
Além disso, estima-se que o consumo de álcool cause 111 300 novos casos de cancro na UE (4,1% de todos os novos casos). A maioria dos cancros causados pelo álcool na UE foram do cólon ou do reto (36 900 casos), seguidos da mama (24 200 casos) e da cavidade oral (12 400 casos).
Neste momento, a Comissão Europeia não tomou uma decisão sobre como incluir advertências nas bebidas.