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Clara de Sousa em entrevista à Forever Young

Aos 51 anos, Clara de Sousa dispensa apresentações. Com uma longa carreira em jornalismo de televisão, é a pivot do principal noticiário da SIC e uma figura bem conhecida de todos os portugueses. Foi a primeira cara da informação da TVI e passou pela RTP, mas assume que o seu grande sonho foi sempre a SIC. Longe dos holofotes e das câmaras, é uma apaixonada pela cozinha, gosta de improvisar e não diz que não a um bom desafio.

22 Março 2019
Forever Young

Quando e como decidiu tornar-se jornalista?

No dia em que a direção da Rádio Marginal me convidou para ser diretora de informação. Estávamos em 1992 e eu fazia de tudo, incluindo noticiários. Cheguei à conclusão de que, tendo de pedir carteira profissional, iria dedicar-me apenas ao jornalismo.

Começou a trabalhar na rádio durante os anos 80, pouco antes do encerramento das rádios piratas. Quais as expetativas que tinha quanto ao jornalismo nessa altura? Foram correspondidas?

Nessa altura não tinha expetativas absolutamente nenhumas. Estava a estudar para ser professora e era o que pensava que seria o meu futuro. Aliás, isso foi reforçado quando as rádios piratas fecharam, antes da legalização. Mas com a reabertura das que receberam autorização para emitir, como foi o caso da Marginal, esse futuro voltou a ser colocado em causa. Nessa fase, a partir de 1989, as coisas ficaram mais sérias. E aqui estou hoje.

Tem a preocupação de manter-se jovem não só em termos de aparência, mas também comportamental e psicologicamente?

A nível comportamental e psicológico é inato, não faço nenhum esforço, porque sou naturalmente assim. Olhando para o espelho e para o passar dos anos, não é uma preocupação a um nível obsessivo. Eu sei que para as mulheres é mais difícil envelhecer no ecrã, mas até hoje tenho tido a sorte de manter alguma frescura.

Não faço nada de especial: nunca fiz qualquer intervenção cirúrgica ao rosto, tem-me bastado manter alguns cuidados básicos. Mas vamos ver. No dia em que algo me começar a afetar a sério terei de enfrentar o problema de forma serena e responsável. A última coisa que quero é chegar aos 60 a parecer 30. Isso não existe e acho que chega a um ponto em que se torna ridículo. Para mim há uma grande diferença entre ter mais idade e estar envelhecido. Há muitas pessoas que envelhecem prematuramente e não apenas de pele, envelhecem cedo de mais em tudo. Eu tenho hoje 51, entrei num novo projeto, consegui reinventar uma parte importante da minha vida, e todo este ânimo, toda esta paixão, se refletem no que sou e no que aparento.

Faz exercício físico? Alguma modalidade em particular? Define metas e objetivos nas suas rotinas de exercício?

Fazia, mas agora não tenho feito. Há um ano que não meto os pés no ginásio. Tenho de voltar. Já impus isso a mim mesma para 2019. A última coisa que quero é começar a ficar “perra”.

Está na SIC há 18 anos, mas vai ficar para sempre na história da TVI como a primeira cara da informação a surgir nas emissões da estação de Queluz de Baixo, em 1993. Tem alguma relação emocional com esse momento?

Claro que sim, foi um momento de grande pressão. Imagine uma jovem de 25 anos a ser o primeiro rosto da informação de uma nova estação de televisão. Foi como a Alberta Marques Fernandes se sentiu na SIC e como qualquer um se sentiria, sendo um rosto completamente desconhecido dos telespectadores. As coisas podem correr muito mal ou as pessoas podem não ir com a nossa cara. Mas, por regra, eu não me foco no que pode correr mal, mas no que tenho obrigação de dar para que corra bem. Apesar da pressão, tinha dentro de mim a confiança de que os anos de rádio me davam estrutura para enfrentar o desafio.

Antes disso, assistiu ao nascimento da SIC como espectadora. Lembra-se do dia inaugural da SIC? Como descreve a chegada da SIC, numa altura em que a televisão privada era uma novidade absoluta?

Sim, foi uma pedrada no charco. Aquele genérico, a música, a Alberta, um momento histórico, de facto. Aconteceu uns quatro meses antes, ainda nem eu sonhava que iria fazer testes na TVI. E lembro-me especialmente porque um colega meu da rádio foi-se embora. O José Figueiras era jornalista na Rádio Comercial e na Marginal, e foi para a SIC apresentar a meteorologia. Obviamente estávamos muito felizes por ele. Um mês e tal depois surgiu o contacto da TVI e eu fui fazer os testes de direto sem rede. As coisas correram muito bem.

É a única jornalista que já foi pivot em todos os canais generalistas portugueses (TVI, RTP e SIC), mas foi na SIC que ficou mais tempo: 18 anos, até agora. O que tem a SIC de diferente que a convenceu a ficar?

Na verdade a SIC sempre foi o meu sonho. Estava na TVI e diziam-me que o meu nome estava na gaveta do Emídio Rangel. Eu estava nessa expetativa de um dia acontecer – a SIC era “a” estação, a mais criativa, a mais aguerrida, a mais rápida a chegar. Mas o Joaquim Furtado foi buscar-me para o Telejornal (RTP1), aquela instituição com que eu cresci, e obviamente aceitei este desafio numa fase pior, a vários níveis, para a TVI. Só sete anos depois de me estrear na TVI, e depois de estar na RTP, recebi o convite do Emídio Rangel e do Nuno Santos para algo ainda mais fascinante para mim, que foi a SIC Notícias, uma CNN à portuguesa. O que a SIC tem de diferente? É uma casa de total liberdade para o jornalista e isso não tem preço. É inestimável, é o que faz a diferença.

Ao longo deste tempo, deu algumas das notícias mais importantes da nossa história recente: a segunda guerra do Golfo e o 11 de setembro, entre outras. Como é o ambiente nos bastidores de um bloco informativo de televisão quando uma notícia destas aparece sem avisar? E como se sente o pivot a trabalhar sem rede?

É desde logo uma pressão enorme e uma correria. Toda a equipa se junta e se foca para o objetivo de manter a melhor emissão no ar. O pivot, estando dentro do estúdio, nem assiste a um quinto do que está a acontecer, e é bom que não assista e mantenha a tranquilidade para se focar nas informações que lhe chegam, seja das agências, sejam as indicações que vai recebendo da coordenação na régie. Trabalhar sem rede é orgânico para nós, e é aquele desafio em que se vê quem está e quem não está preparado para esses momentos. São sempre testes decisivos.

Existe alguma notícia que lhe tenha custado particularmente dar? E uma que tenha gostado muito de dar?

Todo o processo Casa Pia e o do desaparecimento da Maddie foram penosos. Pela positiva, a vitória de Portugal no Euro 2016. Foi uma loucura coletiva das televisões e do País.

Ao longo dos anos assistiu a grandes transformações do jornalismo, principalmente com a entrada em cena do meio online. Acredita que o online pode ser uma ameaça à informação televisiva como o é dos meios impressos?

Há uma oportunidade em todas as ameaças e o que as televisões e os jornais estão a fazer é criar conteúdos diferenciadores dos restantes, únicos, com qualidade, e com forte presença online. Temos de nos afirmar pela qualidade. Só assim poderemos fazer a diferença. No caso dos jornais, de facto o papel está condenado: basta olhar, por exemplo, para muitas das capas de dias a seguir a tragédias, como foi o grande incêndio de Pedrógão Grande, para perceber que os jornais podem ir para a banca completamente desatualizados. O número de mortos no papel era o que tinha saído às duas da manhã, e às oito horas já era o dobro ou o triplo. Os jornais estão a crescer no online, porque não há outra forma de sobreviver sem esta adaptação aos novos tempos. A televisão, apesar de tudo, estando no ar, está sempre em cima do acontecimento. Mas no nosso caso, precisando de publicidade para sobreviver, as boxes das operadoras em que se passam os intervalos a correr é também uma ameaça (com que já coexistimos há algum tempo, contudo). Vamos ver. Eu sou uma otimista por natureza. Acredito que as contrariedades são uma forma de crescer. Se não tivesse havido revolução industrial, o que seríamos hoje? E com esta revolução tecnológica, o que seremos amanhã? É apaixonante. Neste momento estou mais preocupada com alguma falta de sentido crítico que leva as pessoas a aceitarem notícias falsas vindas de sites com interesses obscuros e a duvidarem dos meios tradicionais. O jornalismo é um pilar estruturante e fundamental da democracia e temos de combater a desinformação, as pós-verdades e as fake news com todas as nossas forças, recuperando a credibilidade junto dos cidadãos. Como? Desmontando as mentiras e apostando ainda mais em conteúdos únicos e de qualidade.

Profissionalmente está onde queria estar quando decidiu ser jornalista?

Eu nunca me projetei dessa forma. Projeto-me sempre no presente e no que tenho de fazer. O que virá depois, virá, mas terá de vir graças à qualidade do que se faz no presente. Estou onde estou, no que é considerado o topo da carreira no principal noticiário da estação, ao qual cheguei quando me foi reconhecida competência para lá estar. Nunca desejei chegar depressa de mais. Sempre senti que o dia haveria de chegar, sem ansiedade, com tempo, com mais idade, com mais maturidade. São lugares de muita responsabilidade.

No campo pessoal, nem sempre é fácil conciliar a vida profissional com a familiar. Como faz para compensar isso? Planeia programas em família?

Tenho conseguido sempre equilibrar as duas vertentes, sem grande dificuldade. A menos que haja algo de absolutamente extraordinário, o meu dia é relativamente previsível.

Gosta de planear tudo ou improvisa?

Sou mais uma mulher de improviso. Dado que o presente é sempre muito ocupado, acabo por deixar tudo para cima da hora. Péssimo, eu sei.

Tem uma paixão muito conhecida dos portugueses, que é a da cozinha, tendo já lançado dois livros de receitas e um terceiro com um best of. Como adquiriu este gosto pela cozinha? Veio de familiares ou foi curiosidade?

É algo que faço desde criança. Desde os 9 anos que tinha a responsabilidade de preparar o jantar para a família, todos os dias. Sendo a minha mãe cozinheira, tive a melhor professora. Muito ensinado, muito aprendido por mim, mas foi e é um processo natural, um prolongamento também do que sou.

A cozinha é para si um escape, ou é um hobby?

É tudo. É para ficar a inventar, para me divertir, para descomprimir, é trabalho duro, às vezes, quando tenho muitas pessoas para jantar. Desde que lancei o meu primeiro livro, em 2011, impus-me a mim própria manter o meu Facebook com receitas semanais. Agora nasceu finalmente o site claradesousa.pt, que é a menina dos meus olhos neste campo. É a minha cara, claro, e permite-me dar um pouco mais de mim nos textos e nas fotos, ligando todas as plataformas que tenho – Facebook, YouTube, Instagram e Pinterest. O site está no centro, a ligar tudo. Dá trabalho, ocupa bastante do meu tempo livre, mas dá-me um enorme prazer.

Com uma carreira já consolidada, quais os seus projetos pessoais e profissionais daqui para a frente?

Como já referi, não sou de me projetar a esse nível. Vivo sempre o presente, com os projetos que tenho no presente, e quando se afigurar alguma possibilidade de evolução, consoante as circunstâncias do momento, lanço- me nela com o mesmo entusiasmo. Sempre fui assim e essa parte de mim eu sei que nunca mudará.

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