É assim que especialistas resumem a forma como o envelhecimento dos pais é encarado muitas vezes, porque muitos filhos não estão preparados para lidar com as exigências desse período.
À medida que a idade avança, uma pessoa tende a precisar de cada vez mais apoio, seja em atividades simples do dia a dia ou mesmo uma ajuda financeira, referem os especialistas.
Em alguns casos, esses filhos podem experimentar níveis significativos de stress e sobrecarga ao lidar com as demandas do envelhecimento dos pais, especialmente quando há questões de saúde ou limitações funcionais.
Um ponto importante nesta fase é a forma como filhos encaram o envelhecimento dos pais – e, como em tantas outras fases da vida, não há uma cartilha universal a seguir.
Essa experiência, dizem os especialistas, costuma ser influenciada por padrões familiares do passado e pela forma como uma pessoa foi criada, além de aspetos culturais, históricos, sociais e religiosos de uma família. Há vários modelos de envelhecimento e de velhice. Cada indivíduo envelhece de maneira diferenciada, na singularidade das suas condições genéticas, ambientais, familiares, sociais, educacionais, económicas, históricas e culturais. Isso tudo depende do tipo de sistema desenvolvido (pela família) ao longo dos anos.
Um dos principais desafios e motivos de atrito está nos papéis que pais e filhos assumem nessa fase da vida, apontam os especialistas.
De um lado, os filhos podem ver uma pessoa fragilizada, adoecida e que precisa de cuidados e limitações e tentam proteger os pais fazendo com que não se exponham a riscos.
Do outro, há uma pessoa que não quer perder a sua autonomia e que pode até perceber que precisa de cuidados, mas tem dificuldade em aceitar isso.
Na maioria das vezes, existe uma grande diferença entre a visão dos filhos e dos pais. Os filhos não costumam lidar bem com as escolhas dos pais nesse período. Um dos comentários mais recorrentes é que os pais são “teimosos” por não seguirem à risca como os filhos acreditam que eles devem agir.
É angustiante assistir ao envelhecimento – e, muitas vezes, ao adoecimento – de uma pessoa que se ama e não conseguir controlar nada disso. Mas, por trás dessa “teimosia”, apontam especialistas, estão características que podem ser atribuídas à idade avançada. Entre elas, o sentimento de solidão, a perda de sentido da vida, a saudade de amigos ou parentes que já faleceram e o medo da morte.
Além disso, o temor de depender dos outros, ainda que sejam os próprios filhos, causa preocupação em muitos idosos e faz com que sejam resistentes a cuidados..
Para não perder a autonomia, muitos idosos não querem parar de conduzir, não aceitam ir ao médico ou não querem abandonar outras atividades que costumavam fazer sozinhos.
Aí é que podem surgir conflitos na relação com os filhos, caso não exista uma comunicação aberta na família sobre as expectativas, desejos e necessidades dos dois lados, pontuam os especialistas.
Muitas vezes, é preciso entender que se trata de uma fase de constante adaptação às necessidades que surgem com o passar dos anos. Por isso, é fundamental perceber que as necessidades dos pais podem mudar ao longo do tempo.
Uma das principais dificuldades na relação entre pais e filhos nessa fase é causada por falhas de comunicação em razão do conflito geracional. O ideal é que os pais conversem muito com os filhos e mostrem as diferenças geracionais. Esse diálogo é importante, mas é difícil, porque muitos pais não conseguem ter essa conversa e muitos filhos consideram-se senhores da verdade, o que dificulta muito essa situação.
Inversão de papéis?
Incentivar a tomada de decisões (dos pais) sempre que possível e respeitar as suas escolhas contribui para uma relação mais positiva. A dificuldade em respeitar a autonomia dos pais pode ocorrer por estereótipos relacionados com velhice e pelo etarismo (ou idadismo), o preconceito com pessoas mais velhas. Mas, enquanto muitos idosos conseguem permanecer independentes, outros precisam de auxílio constante. Em diversos cenários, principalmente quando se fala em cuidados intensos, muitas mulheres acabam sobrecarregadas.
O envelhecimento, embora implique que pais e filhos assumirão novos papeis, não significa que estes papeis serão invertidos e que os pais passam a ser os filhos da relação.