Os músicos Afonso Cabral, Francisca Cortesão, Inês Sousa e Sérgio Nascimento e a escritora Isabel Minhós Martins vão cantar “Ainda mais alto!”, no teatro Lu.Ca, em Lisboa, músicas que falam de igualdade, refugiados, aceitação da diferença e liberdade, avabça a Lusa.
O espetáculo “Ainda mais alto!”, que se estreia no sábado, é uma continuação de “Mais Alto!”, uma encomenda do Lu.Ca – Teatro Luís de Camões, que ali se estreou em 2021 e que depois percorreu o país, já integrado nas Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Em palco, Afonso Cabral, Francisca Cortesão, Inês Sousa e Sérgio Nascimento reinterpretam temas de várias épocas, que vão sendo contextualizados por Isabel Minhós Martins.
A Lusa assistiu a um dos ensaios, no Lu.Ca, e, ainda antes de os músicos começarem a tocar, Isabel Minhós Martins explicou que se iriam ouvir “músicas criadas com intenção de chamar a atenção para várias questões”.
“As músicas vão sendo explicadas e isso acaba por ser o que distingue este espetáculo de outro qualquer. Se fôssemos tocar estas músicas sem explicação, seria outra coisa. Dizer ‘esta música foi escrita não sei quando, o contexto histórico era este, a música foi recebida desta forma’, ou ‘esta música foi escrita em código, porque naquela altura não se podia escrever abertamente, porque senão era censurada’. É importante essas coisas todas serem ditas”, explicou Francisca Cortesão, à margem dos ensaios de “Ainda mais alto!”.
Do alinhamento do primeiro espetáculo saíram alguns temas e entraram outros, permitindo que fossem abordadas “temáticas deixadas de fora da primeira vez”, como a identidade de género, a homossexualidade, os refugiados ou a imigração.
“Continuam coisas de fora, como o tema da guerra, por exemplo. Tentámos ainda da outra vez, mas é difícil arranjar músicas que não sejam muito pesadas. Queremos que seja um espetáculo com peso no sentido do conteúdo, mas que seja fácil de digerir”, referiu Afonso Cabral.
As canções escolhidas são de artistas e bandas como José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Luís Severo, Benjamim, Titãs, Rita Lee, Xutos & Pontapés e António Variações.
Embora os temas escolhidos não tenham sido criados para crianças, com exceção de “Arco-Íris”, dos Clã, ao reinterpretá-los, não houve da parte dos músicos uma preocupação em adaptá-los ao público infantil.
“Em termos musicais não. A única coisa que fizemos, num caso ou outro, foi abreviar um bocadinho a estrutura das canções”, disse Francisca Cortesão. “A nossa preocupação nesse aspeto é mais adaptá-las a nós, ao formato que temos e às pessoas que são. E aí percebemos se é um caminho que podemos prosseguir ou não”, acrescentou Afonso Cabral.
Quando em 2021 fizeram os primeiros espetáculos de “Mais alto!” no Lu.Ca, nunca pensaram que se juntariam mais 60 datas, em várias localidades. “Foi completamente inesperado, quando começámos a fazer isto, que se ia transformar numa coisa tão grande. Todos temos não sei quantos projetos musicais, e este foi sem dúvida aquele com o qual qualquer um de nós tocou mais no espaço de um ano, ou se calhar mais”, partilhou Afonso Cabral.
No tempo de estrada com “Mais alto!” tiveram “experiências inacreditáveis: quase sempre de miúdos em êxtase aos saltos a dançar e a cantar”.
Afonso Cabral recordou a “receção apoteótica que acontecia às vezes antes sequer da entrada em palco”.
Os dois recordaram uma das vezes em que estavam no camarim e ouviram “um auditório inteiro aos gritos”. “Sentes-te os Beatles”, disse Afonso Cabral, com Francisca Cortesão a acrescentar que há nestes espetáculos “uma energia que é espetacular”.
“Ainda mais alto!” estará em cena no Lu.Ca até 23 de abril, havendo sessões para famílias e para escolas.
Depois disso, para já, há atuações marcadas em 24 de abril em Arouca e em 25 de abril em Espinho, e o grupo tem “toda a vontade do mundo de continuar a fazer isto, quer para escolas quer para público em geral”.
Além disso, andam a “pensar num disco”. “Talvez até com algum conteúdo extra músicas, até porque também temos os textos. Temos ideias, vamos ver se as conseguimos concretizar e quando, mas acho que faria sentido”, partilhou Francisca Cortesão.