Um mural panorâmico que vai contar 40 anos de história do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, abre sexta-feira uma exposição com 207 obras de 187 artistas, numa seleção para assinalar a efeméride, avança a Lusa.
O programa da celebração de quatro décadas de vida do CAM foi hoje apresentado aos jornalistas pelo diretor do centro, Benjamin Weil, e pelas quatro curadoras da exposição principal, que estará disposta em várias áreas do interior do edifício-sede e no jardim até 18 de setembro.
“Histórias de uma Coleção. Arte Moderna e Contemporânea do CAM” é o título da exposição que revisita algumas das obras mais marcantes da coleção da entidade, revelando peças nunca vistas ou menos conhecidas de um conjunto de artistas que marcaram o percurso colecionista da Gulbenkian.
Paula Rego, Manuel Cargaleiro, Maria Helena Vieira da Silva, Amadeu Souza Cardoso ou Almada Negreiros são alguns dos artistas de quem foram selecionadas obras que estarão em destaque, consideradas icónicas para o museu.
“O critério da seleção foi feito numa perspetiva cronológica das aquisições e não das obras em si”, explicou Leonor Nazaré, uma das curadoras da exposição, questionada pela agência Lusa na conferência de imprensa.
Segundo a curadora, a mostra dá “um mergulho” nos 40 anos do CAM, e da sua coleção – composta, ao todo, por mais de 12.000 peças de 1.200 artistas – que correspondem também à evolução da História da Arte em Portugal ao longo desses anos, abrangendo diferentes épocas, geografias e práticas artísticas.
O mural que compõe a abertura da exposição reúne 73 obras de outros tantos artistas mais representativos dessa história de quatro décadas, e, por detrás dele – visíveis através de ripas com as quais é construído -, estão dispostas as sete obras de maior dimensão, em destaque, de pintura e escultura.
“É uma proposta multidirecional e explosiva que espelha o conteúdo da coleção, desde obras do final do século XIX, com uma obra de Columbano Bordalo Pinheiro [1890], até à atualidade, com uma obra de Jorge Queiroz [2021]”, indicou a responsável pela curadoria, em conjunto com Ana Vasconcelos, Patrícia Rosas e Rita Fabiana.
Após a sua criação, em 1956, a Fundação Calouste Gulbenkian adquiriu as primeiras obras de arte moderna com o objetivo de as exibir em exposições temporárias itinerantes que organizou, tendo adquirido obras aos seus bolseiros, no âmbito da política de apoio aos artistas.
“Esta exposição surge da vontade de mostrar a coleção durante um período longo de fecho do edifício, primeiro pela [pandemia de] covid e depois para as obras [de remodelação do CAM], que reabrirá para o ano. Precisávamos de tornar a coleção presente, e para isso pensámos contar a história das aquisições e da forma como a coleção foi sendo constituída ao longo do tempo”, explicou Leonor Nazaré.
Entre 1960 e 1965, a Gulbenkian adquiriu também um grande número de obras de arte britânica, incluindo de David Hockney, Bridget Riley ou Peter Blake, que se foram somando ao conjunto existente, vindo a oficializar-se em 1979 a vontade de construir um museu que seria inaugurado a 20 de julho de 1983.
Das mais de 12 mil obras da coleção foram selecionadas para esta exposição peças de, entre outros artistas, Alberto Carneiro, Ângela Ferreira, Ana Jotta, Ana Vieira, Fernão Cruz, Francisco Tropa, Helena Almeida, Joana Vasconcelos, Ofélia Marques, Luisa Cunha, Malangatana, Mónica de Miranda, Nuno Cera, Patrícia Garrido, Paula Rego, Rosângela Rennó, Rui Chafes e Susanne Themlitz.
Embora o grande peso recaia nos artistas portugueses, também estão representados criadores de outras nacionalidades como Henri Matisse, Hirosuke Watamuki, Henry Moore, Maurits Escher, Richard Hamilton, Karel Appel ou Ervand Kotchard.
Por seu turno, Benjamin Weil recordou, na conferência de imprensa, que o projeto estava a ser preparado há alguns anos, “a pandemia atrasou tudo”, mas proporcionou a oportunidade de desenvolver o conceito para o futuro centro, que deverá abrir até ao final do primeiro semestre de 2024.
“O princípio essencial vai ser elaborar uma estratégia que esteja enraizada no poder transformador da arte para a sociedade”, vincou Benjamin Weil, atual diretor do CAM, por onde passaram, nos últimos 40 anos, os curadores Jorge Molder, Isabel Carlos e Penelope Curtis.
O programa “CAM em Movimento”, a decorrer enquanto o edifício está em obras, associa-se à exposição, propondo um novo ciclo de vídeos da coleção para um dos contentores do Jardim Gulbenkian, que mostra obras adquiridas a partir dos anos de 1990, que acompanham os dois últimos núcleos dos quatro da exposição.
Além do programa de visitas, as atividades paralelas da mostra incluem oficinas para crianças e oficinas de experimentação, encerrando em setembro com a apresentação da performance e do filme “Ghost Party”, de Manon de Boer e Latifa Laâbissi.