A investigação – “Emotion regulation and chronic illness: The roles of acceptance, mindfulness and compassion in physical and mental health” – da autoria da investigadora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), Inês Trindade, reabre a discussão sobre a relação entre saúde física e saúde mental, neste caso em pacientes com DII (por exemplo, a doença de Crohn e colite ulcerosa).
Os dados deste estudo foram recolhidos de mais de uma centena de doentes com DII. Ao longo de 18 meses verificou-se a forma como a pessoa lida com os seus pensamentos acerca da doença e como esta pode influenciar a evolução da sua saúde física e da sua saúde mental.
Uma das conclusões desta pesquisa foi perceber que «a forma como a pessoa lida com a sua experiência interna é mais importante para predizer a evolução física e mental dos doentes de DII, do que a sintomatologia física da doença», como por exemplo: diarreia recorrente, fadiga, hemorragia rectal, febre, dor abdominal, perda de peso não intencional e, em muitos casos, complicações extraintestinais como artrite.
Em muitas destas situações existe um estigma associado à doença. Inês Trindade explica que «se a pessoa pensa que “ninguém pode saber da minha condição física porque vão ficar com má imagem de mim” ou “não vou tomar este medicamento, vou fazer este exame ou contar ao médico que tenho certos sintomas, porque não faz qualquer diferença ou porque tenho vergonha», isso pode ter um «impacto no seu funcionamento social, mental e físico”», esclarece a autora do estudo.
A investigadora da Universidade de Coimbra está assim a reforçar a tese de que não se pode querer tratar uma doença crónica apenas através da sua componente física, «porque existe ainda uma dimensão psicológica» e esta afeta «não só a saúde mental mas também a saúde física dos doentes», nota a especialista.
Como sintomas depressivos e inflamação do intestino estão diretamente ligados, «importa intervir para parar este ciclo interminável, em que mais sintomas depressivos parecem provocar mais inflamação» e, por conseguinte, «maiores níveis de inflamação parecem provocar mais sintomas depressivos, o que leva a um agravamento progressivo do quadro clínico do doente», acrescenta Inês Trindade.
Após este trabalho, o passo seguinte passa por «criar e testar a eficácia de uma intervenção psicoterapêutica que promova formas mais úteis e saudáveis de lidar com a experiência psicológica», para que os doentes com DII possam encarar os pensamentos com maior «flexibilidade, promovendo a sua saúde mental e diminuindo o impacto psicológico da doença», constata a investigadora.