Caminhou de encontro ao som de batidas intensas, questionando‑se se seria possível aprender um instrumento tão exigente naquela fase da vida.
Dentro da sala de ensaios, apareceu um rapaz de 10 anos com baquetas na mão — parecia estar mais surpreendido do que ela. Foi então que conheceu o professor Vince, alto, magro, de cabelos castanhos e olhar gentil.
“Vem, senta-te no ‘trono’,” convidou Vince, apontando para o banco da bateria.
“Começámos pelo básico — dois toques à esquerda, um à direita…” explicou, demonstrando a técnica.
“Quando é que começamos a rockar?” perguntou Mary, injetando humor na aula.
“Devagar, Mary,” respondeu Vince com um sorriso.
À medida que se treinavam as combinações simples, Mary sentia-se cada vez mais envolvida. “Vejo que vais aprender rápido. E pelo teu sorriso, acredito que vais adorar isto”, disse o jovem professor.
No final da aula, um rapaz de 12 anos entrou e trocou olhares com Mary, que riu timidamente — estava claro que ninguém facilmente esperava ver uma mulher de 50 e tal a aprender bateria.
Quatro aulas mais tarde, Vince ofereceu‑lhe um kit cor‑de‑rosa — esquecido no estúdio e sem interessados. “Era do baterista dos Pride and Joy. Um kit mesmo fixe”, explicou com orgulho.
Mary quase precisou de várias viagens para levar as peças para casa. O marido, Anthony, recebeu‑a com surpresa: “Onde vais pôr isso? No escritório?” Mary garantiu que ficaria na sala lá em baixo. O filho Liam, de 15 anos, mal conseguia conter a alegria: “Posso tocar também?”
Duas dezenas de aulas depois, Vince revelou: “Estás pronta para tocar com outras pessoas.” Mary juntou‑se a escolas de rock para adultos e participou em ensaios semanais. O resultado? Um espectáculo com músicos amadores mas cheios de garra.
Inscreveu‑se em workshops e, após uma audição, integrou um quarteto de jazz feminino. Aprendeu a tocar num estilo mais jazzístico, longe do rock inicial, e fez vários concertos locais ao longo de dois anos.
Mary nunca foi mestre da bateria, mas ganhou confiança para subir ao palco. Numa festa, apresentou‑se a Pete Escovedo — lenda viva do jazz latino e pai de Sheila E. — que tocava com a sua banda. No final da noite, Pete anunciou que um baterista convidado faria parte da última canção. Olharam para Mary, que correu para o palco.
Peter Michael (filho de Pete) sussurrou-lhe: “Toca um Cha‑Cha‑Cha básico”. E ela tocou.