Em declarações à Lusa, a presidente da APN, Célia Craveiro, destacou que “o envelhecimento da população e os fluxos migratórios cada vez mais acentuados têm impactos significativos na garantia de uma alimentação saudável”, em parte porque a população vive até mais tarde e porque os fluxos migratórios provocam “uma maior sobrecarga” na produção de alimentos para um elevado número de pessoas em determinados territórios.
A especialista considerou que estas condicionantes fazem “aumentar a quantidade de desperdício alimentar”, que por si só também tem “uma pegada [ecológica] elevada”.
Célia Craveiro defendeu, por isso, que “a nutrição deve ser inclusiva”, ou seja, deve ser pensada “para cada pessoa ou grupo populacional”, garantindo “um melhor acesso a alimentos mais equilibrados e sustentáveis”.
Por outro lado, sublinhou que “comer de forma equilibrada não tem de ser mais caro”.
A presidente da APN explicou que “tudo depende da forma como planeamos e gerimos a nossa alimentação e que alimentos selecionamos para integrar nos nossos dias alimentares”, considerando que se a população dominar estes dois eixos da literacia alimentar conseguirá “poupar na compra de alimentos e ter uma alimentação com qualidade nutricional e sustentável”.
Questionada sobre a tendência dos portugueses para gastar mais dinheiro em opções menos saudáveis, Célia Craveiro reconheceu que “é muito importante investir na promoção da literacia alimentar da população”, de modo a inverter o paradigma atual.
Na sua ótica, a educação nutricional “deve partir de casa”, mas as escolas também “podem ser um bom auxílio” na promoção da literacia alimentar nas crianças e jovens.
Questionada sobre a escolha de algumas famílias em comprar certas refeições em detrimento de as cozinhar, Célia Craveiro reconheceu que “cozinhar envolve tempo, dedicação e planeamento” e que, atualmente, “nem sempre” há disponibilidade.
“Esta oferta pode tornar-se menos sustentável, na medida em que envolve embalagens não usadas quando cozinhamos em casa e porque se torna uma refeição mais cara”, disse.
No entanto, Célia Craveiro admitiu que “no contexto de algumas pessoas que possam não ter tempo, condições e até conhecimentos”, estas opções de refeições prontas “podem ter cabimento”.
A especialista considera que, no acesso dos portugueses à alimentação saudável, tem havido “um gradual afastamento de soluções alimentares que podem ser mais económicas”, dando o exemplo das leguminosas.
“Os portugueses têm um consumo diário residual deste tipo de alimentos, que são bastante económicos, sobretudo quando comprados secos e a granel e que têm um potencial nutricional excelente para o nosso plano alimentar diário”, frisa.
Um dos temas que será debatido no congresso será a nutrição inclusiva dos imigrantes que chegam a Portugal.
“Há uma imersão dos migrantes na cultura do país para os quais é importante promover também a alimentação saudável junto dos mesmos, mas também será necessário respeitar, dentro do possível, as suas culturas gastronómicas”, sublinhou.
Célia Craveiro disse ainda que a alimentação infantil, que muitas vezes representa um enorme esforço financeiro para as famílias, será um dos assuntos a serem debatidos no congresso.
“É importante promover o aumento do conhecimento alimentar dos pais, o que se consegue com um acompanhamento mais próximo por parte dos nutricionistas das crianças ao longo da sua vida”, afirmou.