O Aquário Vasco da Gama, o mais antigo do mundo aberto ao público, faz hoje 125 anos e nasceu graças ao “sonho de um príncipe – D. Carlos de Bragança – que sonhava com o fundo do mar”, avança a Lusa.
“É o aquário mais antigo do mundo aberto público e na realidade é um espaço científico, cultural, uma memória viva de todos os portugueses”, começou por explicar à agência Lusa o comandante Nuno Leitão, diretor do Aquário Vasco da Gama.
De acordo com o responsável, há três grandes áreas no espaço: uma área museológica com todas as coleções oceanográficas do Rei D. Carlos I e de Bocage; a área viva [com espécies marinhas] que retratam a realidade da costa portuguesa, não só na área do continente, mas também das regiões autónomas, e uma área tecnológica.
Nuno Leitão assumiu a necessidade de o Aquário ter tido de se adaptar à “sociedade da imagem” e, através da tecnologia, passar “os conhecimentos e alertas das alterações climáticas aos mais jovens”, lembrando que hoje os mais pequenos “são amanhã adultos e decisores”.
“Naturalmente seria mais difícil [sem a modernização] e daí ter havido uma grande remodelação do Aquário Vasco da Gama nestes últimos três anos, em que fez a perfeita transição digital no conhecimento da sustentabilidade, alertando para estas preocupações das alterações climáticas e do cuidado que nós temos que ter com o planeta”, explicou.
O responsável admitiu que na sua infância se julgava que os “recursos marinhos eram recursos infinitos”, enquanto hoje em dia há a “perfeita noção que são recursos finitos e que têm de ser cuidados”.
Por isso, defendeu que o primeiro contacto dos mais pequenos com a história dos mares e dos oceanos no Aquário é importante para “a ligação e o respeito aos ecossistemas marítimos”.
“Tudo parte dos mais pequeninos”, salientou.
No âmbito desta vertente do Aquário de educador ambiental, Nuno Leitão destacou uma experiência que fazem nas visitas guiadas das escolas, na qual, quando duas enguias elétricas dão descarga, há uma sirene que apita e luzes que acendem, de maneira a que as crianças tenham contacto com formas alternativas de energia.
De acordo com o responsável, o Aquário apresenta-se como “o guardião dos mares”, sendo uma projeção da própria Marinha Portuguesa – à qual pertence – “naquilo que é a grande responsabilidade como guardiã dos mares sobre a sua jurisdição”.
O Aquário Vasco da Gama foi, até 1998, o único local com aquelas características em Portugal.
Com a Expo98, há quase 25 anos, Lisboa recebeu o Oceanário, construído de raiz para a exposição internacional e que já foi eleito pelos visitantes, por três vezes, como o melhor oceanário do mundo, rejeitando Nuno Leitão que seja “um rival” do Aquário.
“O Oceanário é um espaço espetacular pela sua dimensão. É um espaço que várias vezes tem recebido referências como o melhor oceanário do mundo. Nós somos um museu aquário”, disse, acrescentando que o Aquário teve condições para ser criado no âmbito das comemorações dos 400 anos da descoberta do Caminho Marítimo para a Índia e que o Oceanário nasceu para assinalar os 500 anos dessa mesma descoberta.
“[O Oceanário] Quase que é um filho do Aquário que, em termos de dimensão, passou o Aquário, mas que as duas instituições se complementam naquilo que é a grande mensagem da necessidade da preservação dos ecossistemas aquáticos”, sublinhou.
Com o objetivo de chegar este ano aos 100.000 visitantes, Nuno Leitão recordou que nada disso seria possível sem que tivesse existido “um príncipe que sonhava com o fundo do mar”, lembrando que foi o rei D. Luís o responsável pela paixão do filho, D. Carlos, ao oferecer-lhe o livro 20.000 Léguas Submarinas, de Júlio Verne, quando foi publicado, em 1871.
“Esse é o grande livro que muda a sua maneira de ser pelo desconhecimento do oceano, pelas aventuras, pelos ‘monstros’ e toda a vida do rei na sua vertente científica”, afirmou, lembrando que D. Carlos foi a “primeira pessoa que fez recolhas de espécies vivas abaixo dos 500 metros de profundidade por qual se julgava que não havia vida” e, hoje em dia, adiantou “estamos a recolher espécies vivas no Japão a mais de 8.000 metros”.
A base da ciência está no Aquário, frisou o responsável, enaltecendo o “grande trabalho científico do rei” que está exposto no Museu.
Nos corredores escuros, onde a luz é pouco difusa graças ao azulado das paredes simulando o fundo do mar, está exposto um dos ‘ex-líbris’ do Aquário: a lula-gigante, com oito metros de comprimento que está “na memória de todos os visitantes”, que, de acordo com Nuno Leitão, passam pelo espaço, pelo menos, três vezes na vida: “em crianças, depois com os filhos e mais tarde com os netos”.
Um marco mais recente do espaço é, hoje em dia, a janela virtual, na qual, conforme explicou o responsável, as crianças “podem ter uma parte ativa no repovoamento dos oceanos ao desenhar os seus peixes e colocando-os no oceano”.
O Aquário, que conta com 300 espécies num total de cerca de quatro mil animais, tem ainda aquele trabalho que não é visível ao visitante, como o que acontece na sala da Quarentena, onde se encontram as espécies que estão doentes, ou as que chegaram de novo ao local, ou ainda os aquários de maternidade, onde se encontram, por exemplo, ovos de tubarão pata roxa.
Há ainda o Torreão que guarda água salgada, que duas vezes por semana, vem do Guincho e que é posteriormente usada nos aquários, e também o laboratório onde é produzido o plâncton fundamental na cadeia alimentar das espécies presentes no Aquário.
No terraço do Torreão decorre ainda um projeto de conservação de duas espécies de peixes – Ruivaco do Oeste e Boga Portuguesa – que só existem em ribeiras em Portugal, onde é feita a reprodução da espécie, que é mais tarde devolvida à natureza para fazer o repovoamento das ribeiras.
Por ano são libertados para as ribeiras cerca de mil exemplares.