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“O Prédio”, de Elsa Alves

A Forever Young, em parceria com a Escrivaninha, apresenta agora semanalmente a todos os leitores um conto literário ou “short story” para inspirar e entreter.

Ilustração de Rita Sales Luís

I

— Mamã, eu mato-te! — era a declaração exagerada e agressiva da Cátia.

Cátia nascera num «berço de ouro», mas agora, com trinta e poucos anos, zangava-se tempestivamente com a mãe e naquele dia ameaçava-a no terceiro andar do meu prédio. Narinas amplas e furiosas, a saliva borbulhando a chafurdar, depois gritos, o pérfido tratamento «Mamã!» e as queixas da mãe, em voz aguda, dirigidas ao céu: «Paizinho!».

 

Depois da discussão entre ambas, a D. Amélia vinha ao nosso sexto andar contar o sucedido e, eventualmente, pedir algum favor. O meu pai fora durante alguns anos o presidente do condomínio do prédio, cargo que parecia tê-lo imbuído, mesmo findo esse período, de uma espécie de tácita responsabilidade para com os condóminos. E particularmente para com a D. Amélia, que sempre se insinuava amiga íntima da nossa família, assim como o seu cão, Boris, que entrava de rompante para as divisões mais recônditas da casa.

 

A D. Amélia tinha modos de toupeira. Nos dias em que vinha ver-nos com o queixo inquisidor e ensaiados pretextos para companhia, espreitava indiscretamente para os compartimentos à vista, desde a porta de entrada de nossa casa. Mas, se íamos, por algum raro motivo, a casa dela, entrava rapidamente, fechando a porta atrás de si, num mesmo fluido movimento.

 

Adorava falar sobre as vidas alheias da cidade. Espalhava instantaneamente qualquer boato, admitindo-o perante os ingénuos confidentes, vaidosa: «E conta-me isso a mim? A mim, que conto tudo a todos?». Amiga e traidora solene já todos o sabiam, condenando-a, mas só assim gostando dela.

 

A indiscrição era bela na D. Amélia e dava-lhe um aspecto mais jovem. Querê-la recatada e comedida era querê-la moribunda. Uma vez perguntou à minha mãe se podia passar aquele e todos os serões, de todos os dias que se seguissem, em nossa casa — assim era a D. Amélia no pleno exercício da sua liberdade. A minha mãe respondeu: «Não, nem agora nem nunca» e que nos preparávamos precisamente naquele instante para ir jantar fora. A mentira era absolutamente necessária, porque tendo acedido ao pedido, ela espraiar-se-ia como um polvo, recostado no nosso sofá para sempre…

 

Porém, não seria esta pequena contrariedade a desligar-nos dela. A D. Amélia tinha connosco uma ligação visceral. Lidávamos com uma vizinha peculiar, tão entediante quanto comovente — sobretudo quando a Cátia a expulsou de casa, descalça. Nesse dia, acolhemo-la: almoçou connosco e demos-lhe uns chinelos para aquecer os pezinhos peculiares, o culminar de um tornozelo portentoso e de linhas muito rectas.

 

Preparava-se o meu pai para testemunhar contra a Cátia, quando o perdão e a condescendência impediram a D. Amélia de apresentar queixa da filha ingrata e feia: «Sempre fui mais bonita do que ela…» Nessa certeza residia, em parte, a desculpabilização pelos seus actos. De facto, em geral, a D. Amélia era especialmente benevolente para com a filha — chamava-lhe, pontualmente, «besta», mas continuava a mostrar, orgulhosa, a fotografia da pequena, de bochechas tenras e sobrolho, ainda, sereno.

 

Há relativamente pouco tempo tinha-me até pedido para lhe colocar como fundo de ecrã a foto da sua menina. Agora, porém, a expressão da Cátia tornara-se abjecta e um antro de irritações invadia-lhe as ventas, particularmente quando se irritava.

 

A vez em que, no prédio, os vizinhos do primeiro andar almoçaram no terraço ocasionou um desses furibundos discursos: «Estes parolos vêm denegrir a imagem do prédio com estas churrascadas. Este era um prédio de gente com classe. E cala-te mamã, que se não for eu mais ninguém zela pela classe, pelo bom nome deste prédio.» E batia com as mãos no peito, para que dele espoletassem as palavras da honra e do decoro.

 

A Cátia adorava armar estrilho, provocar discussão e reclamar. Uma vez, estando por acaso perto de França, fez um desvio considerável da sua rota para reclamar aos laboratórios da marca Caudalie, por considerar que o seu frasco de creme não estava suficientemente recheado, havendo, segundo dizia, uma «absurda desproporção entre a embalagem e o conteúdo». A reclamação vingou e a Cátia recebeu um frasco de creme hidratante e anti age cheiinho até à tampa.

 

E como singrava sempre nas suas teimosias, o mesmo aconteceu quando pensara em casar. Ninguém que conhecesse a Cátia — com toda a sua antipatia e azedume, não sendo especialmente bonita — diria que ela se casaria. Contudo, o futuro ditou o contrário e um alemão chamado Richard hospedou toda a sua borbulhante essência.

 

(Continua…)

 

Elsa Alves

 

(texto escrito de acordo com a antiga ortografia)
A Escrivaninha é uma equipa de freelancers que se dedicam à revisão, edição, tradução e produção de texto, criada por quem conhece e reconhece a beleza mas também os ardis da língua portuguesa. Conheça melhor os nossos serviços aqui.

 

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