“É com imensa tristeza que comunicamos a passagem do compositor Carlos Lyra, nessa madrugada, de forma inesperada. A todos, agradecemos o carinho”, referiu a família nas redes sociais, segundo notícia publicada hoje na edição ‘online’ da revista Veja, avança a Lusa.
Parceiro de autores como Ronaldo Bôscoli, Geraldo Vandré e Vinicius de Moraes, Carlos Lyra nasceu em 11 de maio de 1933, no Rio de Janeiro.
“Carlinhos é o maior melodista da bossa nova”, disse Tom Jobim, como recordaram meios como a Folha de São Paulo.
“Se Tom falou, estava falado — embora, para o resto do mundo, o maior melodista da bossa nova fosse o próprio Tom, com Carlinhos pagando um honroso placê. Seja como for, esse corpo de canções, produzido em tão pouco tempo, foi suficiente para sustentar Carlos Lyra pelos 50 anos seguintes — período em que, por vários motivos, sua produção não se comparou à dos tempos heróicos da bossa nova. O que fez com que seu mais antigo parceiro (e cordial desafeto) Ronaldo Bôscoli o definisse: ‘Carlinhos Lyra é o contrário do vinho. Quanto mais moço, melhor’”, escreveu a Folha no obituário do criador de “Maria Ninguém”.
As primeiras composições conhecidas de Lyra são “Menina”, gravada por Silvinha Telles em 1956, e “Criticando”, por Os Cariocas, como se pode ler na entrada dedicada ao músico na Infopédia.
“Carlos Lyra – Bossa Nova”, editado em 1959, foi o primeiro trabalho discográfico de dezenas de outros que lançou ao longo da carreira.
“A inconstância política do Brasil na época e a arbitrariedade do regime empurraram-no para o lote dos dissidentes, em contraste evidente com a bossa nova menos política de João Gilberto ou Tom Jobim”, indica a Infopédia, que destaca temas como “Canção do Subdesenvolvido”, de 1963, e “Herói do Medo”, de 1975.
Esteve na fundação do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE) e com o golpe militar de 1964 saiu do Brasil, exilando-se até 1971, regressando ao país natal antes de novo exílio.
“Herói do Medo” era um “disco de letras propositalmente dúbias, que tentavam lembrar que, enquanto a multidão driblava a consciência com os gols da seleção e os lances das novelas de televisão, gente era torturada e morta na luta pela democracia”, como se pode ler num texto de Mauro Ferreira publicado no ‘site’ oficial de Lyra.
O trabalho de Carlos Lyra conseguiu unir “a bossa nova, com seus arranjos e sonoridades modernas, com a letra crítica e política da canção de protesto”, diz a sua entrada na Enciclopédia do Itaú Cultural.