O espaço cultural de São João da Madeira empresta assim à galeria francesa especializada em Arte Bruta, Arte Singular e Cultura Pop um conjunto de peças selecionadas entre as mais de 1.500 obras dos colecionadores privados Richard Treger e António Saint Silvestre – cujo espólio a instituição de Paris classifica como “uma das mais importantes coleções europeias de Arte Bruta e Arte Singular”.
A exposição é comissariada por Martine Lusardy, que, dirigindo a Halle Saint Pierre desde 1994, reconhece à nova mostra – cujo título significa “O Espírito Singular” – “a magia de um intermúndio ao mesmo tempo familiar e desconhecido”.
“Esta seleção de 86 artistas coloca no centro da exposição criadores que, sendo na maioria autodidatas, impuseram as suas próprias normas à arte, tanto na escolha dos materiais e das técnicas utilizadas quanto nos temas representados”, declarou a curadora, realçando que, “possuídos pelo demónio da criação, os percursos de vida desses autores os mantiveram afastados do jogo mediático e comercial da arte”.
António Saint Silvestre partilha da mesma perspetiva e diz que é precisamente por se viver hoje “a era da mundialização, da estandardização, dos comportamentos de rebanho e da repetição sem fim” que a Arte Bruta se destaca como manifestação de “uma inspiração fresca e mais humana”.
“Durante mais de 20 anos, o Richard e eu procurámos divertir-nos com a Arte Bruta, a Arte Singular e a Arte Mecânica. Livres das limitações de pertença a uma escola identificável, esses artistas ‘brutos’ criam obras surpreendentes, originais, impudicas, inspiradas tanto pela fantasia quanto pela necessidade”, afirma o colecionador.
Agnès Baillon, Henry Darger, Jacques Deal, Jaime Fernandes, Martha Grünenwaldt, David Houis, Foma Jaremtschuk, Alexander Lobanov, Marilena Pelosi e Adolph Wölfli são apenas alguns dos autores cujo trabalho se dará a conhecer na Halle Saint Pierre – que, a preços entre os seis e os 10 euros, está aberta ao público sete dias por semana.
António Saint Silvestre defende que os 86 criadores selecionados para a galeria francesa “oferecem um refúgio contra os assaltos incessantes e mercantis dos especuladores, dos comerciantes, da arte industrial, dos artistas corporativos e de todos aqueles que estão sob a sua influência”.
Para o colecionador, “a arte é uma grande porta aberta, na encruzilhada de mil caminhos”, mas, no universo específico da Arte Bruta é mais provável descobrir-se que “nem todos esses percursos levam ao paraíso”.
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Lusa/fim