Anualmente, a cada 4 de março, comemora-se o Dia Mundial da Obesidade. É um dia que serve para refletirmos, enquanto sociedade, no papel que todos precisamos de ter no combate desta doença, essencialmente, na necessidade de quebrar preconceitos acerca das pessoas que vivem com obesidade.
Temos, habitualmente, por garantido que as pessoas com obesidade têm menores capacidades, menos “força de vontade”, mais desleixo com a sua saúde e alimentação e mais preguiça em efetuar exercício físico. É urgente largar estas ideias preconcebidas e perceber que as pessoas que vivem com obesidade são tão “normais” como qualquer outra; tão capazes, tão trabalhadoras, com tanta iniciativa e, por vezes, com muito mais resiliência do que as pessoas com peso normal.
Esse foi um dos motivos que nos levou a organizar, no dia 4 de março, na Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos, um workshop intitulado: A obesidade na 1.ª pessoa. Era fundamental realçar a ideia de que quando falamos de obesidade, estamos a falar de pessoas. Pessoas com histórias de vida, com dificuldades, sucessos, ambições e frustrações. Foi possível a partilha de experiências entre quem luta, dia após dia, contra a obesidade. A partilha de dificuldades no dia a dia; de frustrações, porque “mais uma dieta” não funcionou; de deceções, porque mais uma vez foram julgados “incapazes” pela família ou amigos. Desde as batalhas contra o estigma até aos desafios de acesso a tratamentos eficazes, as histórias inspiraram, acima de tudo, uma enorme empatia e espírito de solidariedade.
Foi ainda possível partilhar histórias de verdadeiro renascimento que muitos tiveram com a cirurgia metabólica. A ideia de que, finalmente, o controlo do peso corporal estava ao seu alcance; que tinham uma ferramenta que lhes permitia controlar como e o que comiam, mas, essencialmente, que lhes permitia libertarem-se da luta constante do seu organismo para manter o peso elevado.
O ser humano é um ser social. Assim sendo, as vivências em sociedade são parte integrante e fundamental da nossa história de vida. As pessoas com obesidade encontram-se particularmente vulneráveis, porque apesar de constituírem mais de 20% da população, ainda são catalogadas como gulosas e preguiçosas. O estigma social é tão forte que os próprios indivíduos se convencem de que são “culpados” pelo seu estado clínico; que não são merecedores de ajuda nem de tratamento. Talvez isso ajude a explicar porque se estima que apenas 1% dos doentes com indicação para tratamento cirúrgico o venham a obter. É, por isso, muito importante a partilha em comunidade entre pares que conseguiram controlar a doença e recuperar a qualidade de vida que julgavam perdida para sempre. As partilhas de sucessos atingidos após a cirurgia metabólica foram um alerta de que a mudança é possível, mesmo perante dificuldades monumentais.
Em tempos em que a obesidade continua a ser um desafio de saúde global, iniciativas como esta servem como guias, em direção a um futuro mais saudável e inclusivo. Foi um alerta de que podemos construir um futuro com menos julgamento individual e maior possibilidade das pessoas terem oportunidade de viver a sua vida de forma plena, digna e saudável.