Antes de mais é necessário afirmar que é possível ter doença renal avançada sem apresentar sintomas. Muitas pessoas vivem com doença renal sem saberem que a têm. Isto deve-se pelo facto de os rins terem uma reserva funcional significativa, ou seja, uma capacidade de compensação quando já há doença, e serem providos de mecanismos adaptativos que vão desenvolvendo com a perda da função renal. Portanto, é importante realizar exames regulares, como a dosagem da creatinina sanguínea e análises simples de urina, especialmente se houver fatores de risco (idade avançada, diabetes mellitus, hipertensão arterial, obesidade, doenças renais familiares…), para detetar problemas renais precocemente.
O compromisso da função renal (insuficiência renal) impede a eliminação eficaz de toxinas e resíduos, como a ureia e a creatinina, podendo levar a uma condição chamada uremia, que resulta da acumulação de resíduos no sangue. Os sintomas da uremia são variados: pode existir fadiga, fraqueza, náuseas e vómitos, perda de apetite. Em casos mais graves pode ocorrer também retenção de líquidos que pode manifestar-se por falta de ar e edema generalizado (inchaço), com redução significativa do débito urinário. As arritmias cardíacas, por acumulação de potássio, podem ser também a primeira manifestação da doença e podem ser fatais.
A creatinina é um produto residual do metabolismo muscular e é excretada pelos rins, tornando-se um indicador importante da função renal. Níveis elevados de creatinina no sangue podem indicar que os rins não estão a filtrar adequadamente os resíduos do sangue, sugerindo uma doença renal. Os valores normais de creatinina no sangue podem variar ligeiramente de acordo com o laboratório, mas as faixas geralmente aceites são:
– Adultos:
– Homens: 0,7 a 1,3 mg/dL;
– Mulheres: 0,6 a 1,1 mg/dL.
Esses valores podem ser influenciados por diversos fatores, incluindo a idade, gênero, massa muscular, dieta e estado de hidratação. Valores acima do normal podem indicar uma função renal comprometida, enquanto níveis muito baixos são menos comuns, podendo ocorrer em casos de diminuição da massa muscular. É essencial que a interpretação dos resultados seja realizada por um médico que terá em conta o contexto clínico do paciente.
A Taxa de Filtração Glomerular estimada (TGFe) é uma estimativa da função renal, calculada a partir da creatinina sérica junto com outros fatores como a idade, gênero e etnia do paciente. Os valores da TFGe podem variar, dependendo da fórmula usada para seu cálculo. O valor normal é ≥ 90 mL/min/1.73 m². A Taxa de Filtração Glomerular estimada não é tão precisa em indivíduos mais velhos, pois estas fórmulas não têm em conta adequadamente a diferença na massa muscular, que tende a ser menor com a idade. Como resultado, a creatinina sérica pode não refletir exatamente a função renal real em idosos. É importante ressaltar que a TFGe é uma estimativa, e a interpretação dos resultados deve ser realizada por um médico que levará em conta o histórico clínico e outros exames.
Os anti-inflamatórios não esteroides, que são frequentemente vendidos sem receita, podem ser prejudiciais para os rins, especialmente quando usados de forma indiscriminada. Em doses elevadas e prolongadas podem interferir no fluxo sanguíneo renal e na filtração glomerular entre outras causas. O risco de lesão renal é maior em indivíduos suscetíveis, como aqueles com doenças renais pré-existentes, desidratação, idosos, pacientes polimedicados, ou outros fatores de risco. É importante usar estes medicamentos sob orientação médica.
Não existe um consenso relativamente ao efeito prejudicial dos Inibidores diários da bomba de protões no rim. Diversos estudos sugerem uma associação entre o uso diário, prolongado e ininterrupto (por meses ou anos) desses medicamentos e problemas renais. Embora o mecanismo exato ainda não seja completamente compreendido, acredita-se que os IBP possam provocar reações inflamatórias no rim, levar à diminuição da função renal ao longo do tempo, ou exacerbar condições preexistentes. Existe, portanto, uma preocupação sobre o seu uso prolongado, especialmente em pessoas com fatores de risco renais. Neste caso, será importante um acompanhamento regular da função renal.
A Hipertensão Arterial e a Diabetes Mellitus são os dois principais fatores de risco para o desenvolvimento e progressão de doença renal, levando a alterações nos vasos e estrutura renal, reduzindo o fluxo sanguíneo e comprometendo a perfusão renal. Estas condições estão frequentemente relacionadas. É importante o rastreio destas duas patologias para que se implemente um rigoroso controlo da tensão arterial e da glicemia, crucial na prevenção da doença renal crónica.
Estudos sugerem que dietas ricas em proteínas podem ser prejudiciais aos rins, em pessoas que já têm doença renal. O metabolismo das proteínas gera resíduos, como a ureia e outros resíduos nitrogenados, que precisam ser eliminados pelos rins. Dietas ricas em proteínas aumentam a produção desses resíduos, o que pode sobrecarregar os rins. Em indivíduos saudáveis, uma dieta rica em proteínas não é geralmente prejudicial aos rins, mas é importante considerar a quantidade e a qualidade da proteína, bem como assegurar uma dieta equilibrada com a inclusão de outros macronutrientes e micronutrientes. Assim, algumas considerações devem ser levadas em conta antes do aporte aumentado de proteína:
– Avaliação da preexistência de doença renal, tendo em conta que nos estádios iniciais de insuficiência renal não existem sintomas.
– Reforço Hídrico. Dietas ricas em proteínas exigem uma ingestão hídrica adequada.
– Dieta equilibrada e composta por uma variedade de alimentos.
Uma hidratação adequada é essencial para a função renal, pois os rins são responsáveis pela filtração e eliminação de resíduos do corpo, e a água é essencial nesse processo. No entanto, uma quantidade excessiva de água consumida num curto período pode levar a uma condição chamada hiponatremia, que é a diluição do sódio no sangue, podendo causar sintomas graves. É importante manter uma ingestão adequada de água, que geralmente varia de pessoa para pessoa, dependendo de fatores como atividade física, clima e estado de saúde.
A creatina é um suplemento comum entre atletas e pessoas que procuram aumentar a massa muscular e o desempenho físico. Em pessoas saudáveis que consomem a creatina em doses recomendadas, ela é considerada segura e não parece apresentar riscos significativos aos rins. No entanto, em indivíduos que já têm problemas renais ou em condições pré-existentes, o uso de creatina pode potencialmente agravar esses problemas. A creatina é metabolizada em creatinina, que é excretada pelos rins. Portanto, para pessoas com função renal comprometida, a suplementação de creatina pode aumentar a carga de trabalho dos rins e trazer riscos adicionais. É sempre aconselhável consultar um médico antes de iniciar qualquer tipo de suplementação, especialmente se tiver condições pré-existentes de saúde. É importante seguir as diretrizes de dosagem adequadas e monitorizar a saúde geral durante o uso de qualquer suplemento.