Ao decidir entre dar uma mesada ou semanada aos seus filhos ou netos, é essencial ter em consideração o estágio de desenvolvimento em que eles se encontram.
Por Cristina Judas, eEspecialista em Educação Financeira Infantil
Crianças mais novas, especialmente em idades pré-escolares e primária, muitas vezes não têm um conceito de tempo consolidado. Isso deve-se em grande parte ao fato de que a noção de tempo é uma habilidade complexa que se desenvolve PROGRESSIVAMENTE à medida que o cérebro infantil amadurece.
A neurociência ensina-nos que a compreensão do tempo está relacionada a regiões específicas do cérebro, como o córtex pré-frontal. Essa parte do cérebro, responsável pelo planeamento, tomada de decisões e autodisciplina, ainda está em desenvolvimento nas crianças, especialmente nas mais jovens. Consequentemente, crianças mais novas podem ter dificuldade em interiorizar a noção de um mês inteiro, tornando a mesada possivelmente mais desafiadora de gerir.
Uma abordagem semanal pode ser mais adequada para crianças em idade pré-escolar e primária, uma vez que elas podem ter uma melhor compreensão do conceito de uma semana. Isso facilita, não só, a ligação entre a entrega da semanada e a sua utilização subsequente, mas também ajuda a construir uma relação mais palpável entre ações e as consequências.
Ao optar por uma abordagem semanal, está a considerar a capacidade de compreensão das crianças em relação ao tempo. Isto pode ajudar a reduzir a frustração e a confusão que podem surgir quando as crianças mais novas são desafiadas a gerir uma mesada, para a qual o seu cérebro, ainda em desenvolvimento, não está completamente preparado.
Em última análise, a decisão entre mesada e semanada dependerá das necessidades individuais da sua família e das características de desenvolvimento dos seus filhos. Ao compreender os aspetos da neurociência relacionados à compreensão do tempo, pode tomar uma decisão informada que melhor se adapte às capacidades cognitivas e emocionais das suas crianças.
Quando dar mesada?
O processo de introdução da mesada é algo que requer atenção ao desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças em relação ao dinheiro. Embora não haja uma regra rígida, existem algumas diretrizes gerais que podem ajudar os pais a determinar o momento apropriado para começar a dar a mesada.
A mesada (neste caso a simbólica) pode ter início assim que a criança começa a entender o conceito de dinheiro como ferramenta de troca. Isto geralmente acontece quando a criança já é capaz de associar que para comprar produtos ou serviços temos de dar dinheiro. No início, é aconselhável que as entregas sejam feitas de forma esporádica. E, à medida que a criança adquire familiaridade com conceitos financeiros, pode-se estabelecer uma data regular para a entrega do dinheiro. Esta frequência é importante para que a criança interiorize a noção de ter um período específico para receber, semelhante ao que ocorre na vida adulta.
O estabelecimento de uma data fixa para a entrega da mesada é fundamental, no entanto, a periodicidade varia de acordo com a idade e maturidade da criança.
Independentemente da idade da criança ou do valor da mesada, é recomendável que os pais incentivem o hábito de poupar uma parte do dinheiro recebido, geralmente entre 10% e 30%. Além disso, introduzir noções de investimento desde cedo pode ajudar a construir uma base sólida para a compreensão financeira ao longo da vida. Portanto, observar o desenvolvimento da criança e adaptar a abordagem conforme a sua compreensão e maturidade é determinante para um começo bem-sucedido na educação financeira.
Qual o valor da mesada?
Determinar o valor adequado para a mesada dos filhos é um processo que exige considerações cuidadosas. Embora diversos fatores entrem em jogo, um dos elementos primordiais é ter uma compreensão clara do orçamento familiar, uma vez que a mesada passará a ser uma despesa fixa adicional no rendimento disponível. A busca pelo valor de mesada ideal pode parecer desafiadora para os pais, mas, na realidade, é um processo simples.
Existem, essencialmente, três abordagens principais que podem ajudar os pais nesse aspeto: (i) Atribuição Proporcional à Idade (atribuição de 1€/cada ano de idade/semana); Atribuição Proporcional Modificada (0,5€/cada ano de idade/semana) ou Baseado nas Despesas Reais (calcular o valor da mesada com base nas despesas reais da criança ou adolescente).
Resumindo, independentemente da abordagem escolhida, o objetivo é encontrar um equilíbrio que seja compatível com as finanças familiares e que permita à criança ou adolescente gerir as suas próprias finanças de maneira responsável. Lembrando que cada família é única, e o valor da mesada deve ser personalizado de acordo com as circunstâncias e valores familiares.
Afinal, investir na educação financeira infantil é investir no futuro das nossas crianças.