A noção de que o choro do bebé funciona como um “cordão umbilical acústico”, estabelecendo uma ligação natural entre o bebé e a pessoa que cuida dele, tem sido amplamente aceite. No entanto, este estudo publicado na revista Emotion sugere que a maior disponibilidade das mães para responder ao choro durante a noite não resulta de uma predisposição biológica, mas sim das normas e dinâmicas sociais.
Os investigadores da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, realizaram a pesquisa em duas fases. A primeira envolveu 140 adultos sem filhos, que dormiram com smartphones que reproduziam sons de choro de bebés e alarmes em volumes graduais. Os cientistas registaram os momentos em que os participantes acordaram devido aos sons. Os resultados mostraram apenas uma ligeira diferença: as mulheres acordavam com cerca de 14% mais probabilidade que os homens apenas a volumes muito baixos. Para sons mais altos, semelhantes aos choros reais dos bebés, as diferenças foram estatisticamente insignificantes.
Na segunda fase, 117 casais de pais de primeira viagem relataram durante uma semana quantas vezes cada um se levantava durante a noite para cuidar do bebé. Os dados revelaram que as mães acordavam e cuidavam do bebé três vezes mais do que os pais, assumindo 76% dos cuidados noturnos. Apenas 1% dos casais tinham o pai como principal cuidador noturno, enquanto 23% dividiam estas tarefas de forma equilibrada.
“O grande desequilíbrio nos cuidados noturnos não pode ser explicado pelas pequenas diferenças na sensibilidade ao som entre homens e mulheres”, afirmou Arnault Quentin-Vermillet, autor principal do estudo.
Christine Parsons, coautora e especialista do Departamento de Medicina Clínica da Universidade de Aarhus, sublinha que “os homens não estão a dormir durante o choro do bebé, ao contrário do que os meios de comunicação social frequentemente sugerem”. O que ocorre, segundo a investigadora, é que “fatores sociais moldam esta disparidade.”
Entre as explicações apontadas estão o facto de as mães terem licença de maternidade, ganhando mais prática e experiência para lidar com os cuidados do bebé, e o papel fundamental da amamentação, que tende a recair sobre as mães durante a noite, justificando que os pais descansem mais nesse período.
Este estudo abre caminho para repensar como os cuidados parentais são distribuídos e desafia a ideia de que a desigualdade nos cuidados noturnos se baseia em diferenças biológicas inevitáveis. O reconhecimento da influência dos fatores sociais pode incentivar políticas e práticas familiares que promovam uma partilha mais equilibrada das responsabilidades entre mães e pais.