No entanto, é preciso levar em consideração o estágio de desenvolvimento da criança e adaptar as abordagens de acordo.
Então quando é o momento certo para começar e como abordar esse tema de forma eficaz?
Cristina Judas, Especialista em Educação Financeira Infantil deixa algumas sugestões:
Fase dos 3 aos 6 anos: Ensine a fazer escolhas
Durante esta fase, para além de ser um ótimo momento para introduzir conceitos básicos de educação financeira, o foco principal não deve ser o dinheiro em si, mas sim ensinar às crianças a arte de fazer escolhas. Quanto mais cedo elas entenderem este mecanismo, melhor preparadas estarão para lidar com decisões financeiras no futuro, pois ao longo da vida, independentemente do salário, todos precisam de fazer escolhas.
Aqui estão alguns exemplos práticos de como ensinar a criança a fazer escolhas:
1. Passeio no shopping: Quando estiver a passear com a criança e ela manifestar o desejo de ter algo, ofereça duas opções diferentes e peça que ela escolha apenas uma delas. É importante que sejam objetos diferentes, para que a criança entenda que será necessário abrir mão de um para ter o outro. Essa experiência ensinará a lidar com escolhas e frustrações, uma vez que ela terá de abrir mão de algo que deseja.
2. Escolha de experiências: Mostre às crianças que o dinheiro não compra apenas coisas materiais, mas também experiências. Peça-lhes para escolherem, por exemplo, entre visitar um museu/exposição ou ir ao cinema no fim-de-semana. Isso ajudará a compreender que o dinheiro é um recurso limitado e que temos de o saber gerir. Estas experiências proporcionarão lições valiosas sobre planeamento, prioridades e a importância de tomar decisões conscientes.
Muitas vezes na correria do dia-a-dia é comum os responsáveis pelas crianças, (pais, cuidadores, avós) não ensinarem desde pequenos a lidarem com esse tipo de sentimento. Porém o prejuízo a longo prazo é grande, pois crescem a achar que podem ter tudo sempre e levam esse comportamento para a vida adulta. E nessa altura começam a trabalhar, a ter um salário, e infelizmente muitos irão endividar-se, porque não aprenderam a escolher e a aceitar que não podem ter tudo. Não adianta querer evitar frustrações nas crianças porque elas irão crescer e isso faz parte da vida e do crescimento, principalmente quando falamos de dinheiro.
Fase entre os 7 e 12 anos: Introduza o conceito de valor e responsabilidade financeira
À medida que as crianças crescem, é recomendado permitir que tenham mais autonomia nas decisões financeiras, como gerir uma semanada/mesada ou definir um limite de gastos num passeio. Nesta fase, as crianças já têm um entendimento mais consolidado do conceito de tempo e dos números e, por isso, é possível trabalhar não apenas a questão das escolhas, mas também dos valores que envolvem o uso do dinheiro. Outra questão importante é saber que as crianças devem aprender as consequências das suas escolhas financeiras, para que desenvolvam responsabilidade e maturidade na gestão do dinheiro.
Para tornar a aprendizagem mais prática e significativa, é essencial adaptar a linguagem e os exemplos à realidade de cada criança. Não existe uma linguagem padrão para usar com todas as crianças, elas devem fazer sentido com a realidade, região e situação financeira de cada uma. Por exemplo, se uma criança mora perto da praia, não faz sentido falar sobre juntar dinheiro para visitar a praia. Ou ainda uma criança que nunca passou a experiência da escassez. Não será com discursos sobre o quanto a sua vida foi difícil que ela vai compreender. Não adianta falar sobre essa realidade, é preciso mostrar. A criança não vai resgatar da memória um evento que ela não viveu. Torna-se abstrato.
É preciso trazer os conceitos para a prática. Se deseja que uma criança próxima tenha acesso a essas realidades, leve-a para próximo disso, dependendo da maturidade. Exemplo, levar a criança para conhecer uma ONG, a participar em projetos de apoio e desenvolvimento às comunidades mostrando uma realidade diferente da dela. Essas experiências podem ensinar algumas lições valiosas:
. Ter gratidão;
. Dividir com outras pessoas que não têm;
. Mostrar que são os recursos financeiros da família que proporcionam a vida que ela tem.
Enfim, aproximar a criança dessas realidades para que ela entenda o que o dinheiro é capaz de comprar e em que ocasiões a pessoa não tem dinheiro. Tudo deve ser bem doseado para que não traga choques e traumas e, para que não gere na criança o sentimento de pena dessas pessoas com realidades diferentes. O ideal é que ela desenvolva estratégias emocionais de como lidar com isso, como pode ajudar, como pode doar e ajudar essas pessoas. Ou seja, a criança deve entender para que serve o dinheiro neste sentido. As crianças aprendem com o que lhes transmitimos e principalmente com os acontecimentos do dia-a-dia. Isto é, tudo pode ser uma experiência negativa ou positiva dependendo de como se aborda o assunto.
A educação financeira infantil deve ser vista como uma jornada contínua, adaptada às diferentes fases de desenvolvimento da criança. Lembre-se que cada criança é única e requer abordagens personalizadas. Seja criativo ao trazer situações práticas e reais que sejam relevantes para elas. Quanto mais variedade de experiências proporcionarmos, mais preparadas elas estarão para enfrentar os desafios financeiros do futuro.
Portanto, comece a educação financeira o mais cedo possível, adaptando as aprendizagens à fase de desenvolvimento da criança, e ajude-as a construir uma base sólida para uma vida financeira saudável e responsável.
Afinal, investir na educação financeira infantil é investir no futuro das nossas crianças.