A solidão está a emergir como um dos maiores desafios de saúde pública do nosso tempo e não apenas ao nível emocional. Segundo um novo estudo publicado na revista Health Data Science e citado pela plataforma BestLife, sentir-se só com frequência pode aumentar em 24% o risco de perda auditiva, sobretudo em mulheres.
Este dado resulta de uma análise a quase meio milhão de adultos britânicos, com uma idade média de 56 anos, cujos hábitos de vida e estado de saúde foram acompanhados ao longo de mais de 12 anos. A investigação sugere que a relação entre solidão e surdez não é linear, mas sim bidirecional: se é verdade que a perda auditiva pode favorecer o isolamento, o oposto também se verifica, o isolamento social pode contribuir ativamente para o declínio auditivo.
Uma espiral silenciosa: menos contacto, maior risco
Cerca de 18,5% dos participantes admitiram sentir-se frequentemente sós. E entre os que desenvolveram perda auditiva ao longo do estudo, as mulheres revelaram ser mais vulneráveis, em particular à forma neurossensorial da doença, aquela que afeta o ouvido interno e os nervos auditivos.
Os investigadores isolaram diversos fatores de risco, como a idade, índice de massa corporal, condições crónicas, tabagismo ou estatuto socioeconómico, e a solidão destacou-se como um preditor independente da surdez. O fator mais relevante, segundo os autores, foi o nível de educação e rendimento familiar, refletindo a importância do contexto social e económico no bem-estar auditivo.
“O que este estudo sugere é um ciclo de retroalimentação perigoso: a solidão pode causar perda auditiva, e a perda auditiva pode aumentar o isolamento”, explica Yunlong Song, autor principal da investigação. “É fundamental reconhecer este padrão para que possamos intervir antes de os danos se tornarem irreversíveis.”
As pessoas que vivem em solidão estão também mais propensas a comportamentos prejudiciais à saúde, como o sedentarismo, o consumo de tabaco e a negligência nos cuidados médicos. Além disso, a solidão crónica tem sido associada a inflamação elevada, pressão arterial alta e respostas ao stress exacerbadas, fatores que podem acelerar o declínio de funções vasculares e nervosas essenciais à audição.
Os investigadores alertam para a necessidade urgente de intervenções sociais e comunitárias que combatam o isolamento, não apenas para proteger a saúde mental, mas também a física. “O nosso próximo passo será conduzir estudos de intervenção para perceber se reduzir a solidão pode realmente travar a progressão da perda auditiva”, adianta o coautor Bin Yu.