A voz é uma capacidade extraordinária que o ser humano apresenta para transmitir a mensagem, aliada à comunicação não-verbal (gestos, olhares, expressões faciais), tornando cada indivíduo único e diferenciado dos demais, avança Ana Ferreira, Terapeuta da Fala.
Quantas vezes ouvimos uma voz e reconhecemo-la de algum lado? Ou associamos a alguém? É através desta que expressamos as nossas necessidades, desejos, interesses, ideias …Mas por que motivo as vozes são todas diferentes?
Nem sempre identificamos as vozes como plenas e melódicas. Por vezes, caracterizamo-las como “roucas”, “gastas”, “irritantes”, “cansadas”, etc. De que forma podemos torná-las mais saudáveis? Que cuidados poderemos adquirir no nosso dia-a-dia para contribuir para este efeito?
O que é o sistema fonológico?
Para que a comunicação entre os diferentes parceiros comunicativos seja eficaz, são necessários diversos aspetos, tais como: um emissor, um recetor, a mensagem, descodificação da mensagem, etc.
A comunicação deverá abranger não só a linguagem oral, como também a linguagem não-verbal, como anteriormente mencionado, designadamente, as expressões faciais, a postura corporal, as diferentes vocalizações emitidas, entre outras.
A voz é uma característica única e é influenciada por questões físicas, emocionais e/ou ambientais. É produzida pela harmonia das estruturas musculoesqueléticas englobadas no sistema fonatório, sendo uma capacidade voluntária cujo SNC (Sistema Nervoso Central) emite o estímulo nervoso (através do nervo Vago) para os músculos de modo a contraí-los, gerando uma pressão subglótica (inferiormente às pregas vocais).
Durante a respiração em repouso (sem falar), as nossas pregas vocais (localizadas na laringe) estão afastadas (abdução) permitindo que o fluxo de ar ocorra no sentido ascendente, ou seja, dos pulmões até ao nariz (onde é expulso em formato de dióxido de carbono). Contudo, aquando da fonação (quando falamos), o fluxo de ar passa pelas pregas vocais que se encontram fechadas (adução) e contribuem para a sua vibração e assim, produzindo a voz.
É importante referir que, caso não existissem os órgãos ressoadores (localizados na região supraglótica – acima das pregas vocais), como por exemplo, laringe, faringe, lábios, língua, palato (céu da boca), dentes e cavidade nasal, o som não poderia ser ouvido.
Neste sentido, cada indivíduo apresenta a sua “ressonância” que irá influenciar a qualidade vocal, ou seja, o timbre da voz irá variar. É possível modular de forma voluntária e consciente os movimentos dos músculos fonoarticulatórios, nomeadamente, a língua, os lábios e o palato mole que irá contribuir para a articulação dos sons da fala. Assim, a voz humana engloba três aspetos importantes: vibração, ressonância e articulação.
E de que forma tudo isto explica o facto de as vozes diferenciarem de indivíduo para indivíduo? Se falarmos do sexo, no caso dos homens, as suas pregas vocais são mais grossas e mais elásticas, vibrando cerca de 125HZ. No caso do sexo feminino, as pregas vocais caracterizam-se por serem mais finas e mais tensas, provocando maior vibração, cerca de 250HZ. No caso das crianças, é justificável pelo facto de as suas pregas ainda serem muito curtas e, por este motivo, as suas vozes são mais “agudas”. Na puberdade, além destes aspetos, as hormonas provocam diversas mudanças do organismo, contribuindo para a alteração vocal (sobretudo no sexo masculino).
Que aspetos poderão afetar a minha voz?
Existem, efetivamente, vários e diferentes aspetos que poderão contribuir de uma forma ou de outra para que a voz se altere, a saber:
FÍSICO – a nossa postura, se temos os ombros anteriorizados (para a frente), o nosso osso hióde e as outras estruturas fonatórias tomarão uma postura no mesmo sentido; lordose lombar (provoca uma elevação adaptativa da cabeça, modificando o padrão respiratório);
IDADE – com o passar dos anos, as estruturas do sistema fonatório (e não só) vão envelhecendo e, desta forma, irá alterar a nossa voz;
SEXO – o sexo feminino apresenta maior tendência para patologias vocais, devido a questões hormonais, por exemplo;
AMBIENTAL – ambientes ruidosos e/ou poluentes (poeiras) requerem maior esforço vocal e, consequentemente, maior desidratação e irritação das pregas vocais;
EMOCIONAL – este aspeto influencia a voz: se estamos contentes, tristes, irritados, se estamos sob stress, etc, contribuindo para a tensão vocal.
Que cuidados devemos tomar para manter uma voz saudável? De que forma podemos minimizar ou prevenir aspetos prejudiciais à saúde vocal?
- Evitar comer alimentos fritos, gordurosos e picantes, pois prejudicam a nossa voz no sentido em que contribui para o RGE (Refluxo Gastroesofágico) e promove o inchaço das pregas vocais;
- Beber bastante água para lubrificação de pregas vocais;
- Evitar beber café e chocolate em demasia visto que seca a mucosa, importantíssima para a lubrificação das pregas vocais;
- Ingerir alimentos ricos em fibra e amido (como por exemplo: os cereais);
- Ingerir frutas e verduras ricas em nutrientes e minerais (a maçã apresenta uma ação adstringente e promove a limpeza das pregas vocais, reduzindo o acúmulo de secreção);
- Evitar bebidas demasiado frias pois provocam choque térmico e, consequentemente, contração da musculatura, devido à mudança brusca de temperatura;
- Evitar roupa muito justa pois impede a movimentação livre do diafragma;
- Evitar pigarrear visto que provoca atrito entre as pregas vocais, irritando-as (mais vale tossir ou deglutir várias vezes seguidas);
- Evitar sussurrar visto que necessita de um esforço extra a nível vocal;
- Deve bocejar muito porque promove o relaxamento da musculatura da região oral e escapular;
- Evitar alimentos/bebidas cítricas pois contribui para a acidez das pregas vocais.