Estivemos privados de ir ao teatro, ao cinema, assistir a espetáculos de dança ou simples exposições durante muitos meses. A cultura ficou reduzida a eventos pontuais online. Tempos em que preferimos mergulhar na cleópatra slot para relaxar e animarmo-nos um pouco. Uma das vantagens da nossa Era é, sem sombra de dúvida, a tecnologia, que nos, distraí e diverte como jogos de bingo, a partir de qualquer lugar.
Mas nem a tecnologia salvou um sector tão sensível como é o da cultura. Actores, músicos, dançarinos, artistas plásticos, técnicos especializados de som e luz, cenógrafos, aderecistas, assistentes, e tantos mais especialistas desta área, ficaram como que sem luz, às escuras, sem hipótese de apresentarem as suas criações. E, criar em momentos de incerteza não é para todos.
Fernanda Lapa teria certamente aplaudido de pé a WOS
No entanto surgiu, em plena pandemia numa edição extremamente cuidada, uma revista feita por mulheres e sobre mulheres do teatro, da música e da dança, em Portugal. Foi lançada entre dois apertados confinamentos – como que tentando escapar a todo este estrangulamento do estado da arte no nosso país – na Cinemateca Portuguesa, com o apoio da Livraria Linha de Sombra.
Pela primeira vez, foi editada uma revista que rapidamente se tornou um item obrigatório para todos aqueles que lidam, gostam ou se interessam pelas questões culturais em Portugal. Um objeto não só artístico como antropológico e sociológico sobre o trabalho criativo relatado na primeira pessoa, por 39 criadoras nacionais, em que cada uma tem uma abordagem própria, apaixonada e honesta em relação ao seu percurso de vida, às suas vitórias, revoltas, esperanças, frustrações. Ao seu processo criativo, a si próprias, sem filtros. Pura paixão. São páginas que nos agarram como se de um verdadeiro romance se tratasse, ora fazendo-nos esboçar um sorriso com júbilo, ora transmitindo-nos um aperto na alma, ora fazendo-nos transbordar de orgulho pela força, dedicação e trabalho imposto, ora contraindo-nos pela precaridade vergonhosa de todo um sector tão importante como o cultural e pelo fosso de oportunidades entre homens vs mulheres, nesta área. Apaixonamo-nos por estas mulheres e ficamos com vontade de conhecê-las ainda melhor e acompanhar o seu trabalho e a sua luta, por igualdade de oportunidades tantas vezes negadas.
Esta obra, composta de 160 páginas em papel couché, com um grafismo extremamente cuidado, de nome de Women on Scene, teve o seu primeiro número dedicado a Fernanda Lapa – com uma extraordinária sua imagem na capa – ela própria com um artigo publicado que redigiu para a revista e que, lamentavelmente, acabou por não ver publicado devido à sua prematura partida. E aqui é que se pode afirmar que, em plena pandemia, há quem não tenha baixado os braços. Este projeto surgiu do trabalho de duas associações culturais, a arte pública de Beja e a Proacid de Almada, tendo como mentora a encenadora, dramaturga e escritora Gisela Cañamero. Parabéns também a Natália de Matos (diretora editorial) e Inês de Matos Machado (designer gráfica) que realizaram um notável trabalho de edição, tornando-a um verdadeiro objeto de culto.