Muitos perguntarão se a reinvenção profissional não é apenas para os jovens. Haverá quem se ache “velho” para isso. E também há quem se interrogue até que ponto é possível ou faz sentido fazer formação para fazer algo novo quando se está tão perto da reforma. Cada uma destas inquietações, à sua maneira, tem razão de ser. Mas a reinvenção profissional é possível em qualquer idade, embora não seja sempre igual.
Perceba que ainda há tempo
Ter 50 anos não significa que a sua vida tenha acabado. Não de um ponto de vista profissional, e seguramente que ainda menos de um ponto de vista pessoal. Ter 50 anos significa que apenas que tem menos tempo do que tinha aos 20 para realizar mudanças na sua vida. Se o dinheiro não for um problema, uma boa formação atualizada a esta altura do campeonato – um mestrado ou um doutoramento, por exemplo – far-lhe-á sentir-se muito mais integrado no mercado profissional e com mais capacidade analítica para, à luz do que é o mercado de hoje em dia, tomar decisões, nomeadamente estratégicas.
Se o dinheiro para este tipo de upgrade formativo não abunda, isso não é desculpa para não se reinventar. Fará muito mais bem do que mal ter algumas aulas para melhorar as suas capacidades nas áreas hoje em dia consideradas estratégicas para o sucesso de muitas empresas, como é o caso do marketing digital, por exemplo.
Quando lhe disserem que tem qualificações a mais, é muito provável que tenham razão
Quando a reinvenção profissional acontece enquanto se está empregado, a única dificuldade que poderá ter é a de tomar a decisão de se reinventar. Muito mais difícil do que isso é a reinvenção profissional “forçada” que um despedimento provoca. Muitas pessoas com mais de 50 anos que tentam ingressar em novas empresas conhecem bem a realidade de serem rejeitadas por terem excesso de qualificações. Para pessoas que precisam de um novo emprego, mas já ocuparam lugares de gestão ou de direção nas empresas em que trabalharam anteriormente, este choque com o “mundo real” pode ser deveras desconcertante, mas o melhor que há a fazer é mesmo enfrentar o problema, visto que ele não se vai resolver sozinho. Prepare para as entrevistas de trabalho respostas a questões que têm diretamente a ver com as suas qualificações, que poderão ser excessivas para o cargo a que se está a candidatar. Perceba que os empregadores vão querer saber como reagirá ao facto de ser chefiado por alguém mais novo e com menos experiência, quando no seu emprego anterior ocupava um cargo de gestão de equipas. E assuma que neste tipo de reinvenção profissional, que surge de uma necessidade, e não de uma vontade, terá de ter uma mente muito mais aberta e estar disponível para perceber que também tem a aprender com os mais novos.
Acompanhe os tempos
Acha mesmo que as redes sociais são para os “jovens”? Que só porque não tem de utilizar determinados programas informáticos, não tem de saber que eles existem e para que servem? Assuma que o tempo passa e que acompanhar o que acontece não é uma opção. Para o bem e para o mal, é uma obrigatoriedade. Hoje em dia, os gestores com mais de 50 anos que apresentam uma presença digital forte, passam a imagem de que estão atualizados, de que não se deixaram ultrapassar pelo tempo e de que tratam as novas tendências e as novas tecnologias por tu. Não ter uma conta no LinkedIn e pelo menos numa rede social mais ligada ao entretenimento – Facebook, Instagram ou Twitter – é meio caminho andado para que a sua imagem exterior fique associada a uma resistência aos novos tempos, o que não é benéfico para nenhum profissional. A própria ideia de curriculum vitae está a mudar e muitos empregadores estão menos interessados nesse documento do que nos resultados de uma pesquisa no Google pelo seu nome.
Não rompa com o passado
Atualizar-se profissionalmente não significa (e não pode mesmo significar) romper com o passado. O seu histórico profissional é o seu legado. As empresas onde trabalhou, os cargos que teve e os contactos que estabeleceu poderão ser fundamentais no momento de se reinventar. Muitos profissionais com mais de 50 anos não compreendem que as oportunidades mais interessantes são provenientes de conexões “adormecidas” – pessoas do nosso passado com as quais perdemos o contacto em algum momento da vida. Adam Grant, um professor da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, escreveu um dia: «Tal como os laços fracos, os adormecidos fornecem informação nova: desde que interrompemos a comunicação, eles ligaram-se a pessoas novas e acumularam novos conhecimentos. Porém, ao contrário dos laços fracos, a história e a experiência partilhadas tornam o retomar do contacto mais rápido e mais confortável e pode ser que eles se preocupem mais consigo do que os seus conhecidos». O momento de se reinventar profissionalmente é o momento de retomar estes contactos.
Seja uma pessoa surpreendente
Surpreender as pessoas é quase sempre bom em ambiente profissional. É claro que não se trata aqui de abandonar a previsibilidade “boa” – aquela que habituou os seus colegas e superiores a confiar na qualidade do seu trabalho e na sua escrupulosa capacidade de cumprir prazos. Trata-se, sim, de não deixar que se eternize uma ideia fixa de quem você é, de como reage e do que é capaz de fazer. Ideias preconcebidas tornam-no limitado aos olhos dos outros. Para se reinventar, deve inverter essas ideias feitas, de preferência por forma a dar nas vistas.
Empenhe-se em assumir um improvável papel de liderança, faça uma formação numa área nova, como programação, assuma uma tarefa que seja capaz de fazer mas que não esteja associada às suas funções e àquilo que os outros esperam de si. Se for preciso, organize um jantar de Natal em agosto. O importante é mostrar a quem pensa que sabe tudo sobre si que não podia estar mais enganado.